Pai do Fla-Flu é esquecido pelos clubes

6/4/2015 13:40

Pai do Fla-Flu é esquecido pelos clubes

Alberto Borgerth foi o atleta que deixou o Fluminense para ir fundar o departamento de futebol do Flamengo; neto não vai mais ao Maracanã

Pai do Fla-Flu é esquecido pelos clubes
Alberto Borgerth é o pai de um dos maiores clássicos do Brasil
Foto: Acervo Pessoal


Se Flamengo e Fluminense fazem hoje um dos clássicos mais tradicionais do futebol brasileiro, isso se deve a uma pessoa. Alberto Borgerth pode ser considerado o pai do Fla-Flu. Ele foi jogador e campeão carioca com o Tricolor em 1911. Pouco depois, devido a conflito com a diretoria, liderou uma debandada de jogadores que foram fundar o departamento de esportes terrestres no rubro-negro, criando assim o primeiro time de futebol do clube da Gávea, que antes se limitava ao remo. Mais de 100 depois, seu neto Luiz Soares Brandão Filho, neto de Borgerth, diz que os clubes se esqueceram de seu passado.

“Do Fluminense ele nunca recebeu homenagem. No Flamengo, foram poucas e pontuais. A única lembrança dele no clube é que seu nome foi inserido na Calçada da Fama do clube depois de um pedido de um sócio benemérito a quem tenho grande carinho. O futebol de hoje é muito imediatista, não há muita lembrança do passado. O Museu do Flamengo nunca conseguiu ir para frente. Espero que com essa gestão, de quem simpatizo, consiga construí-lo. Minha mãe adorava o pai, e ficava muito chateada por ele nunca ter sido homenageado. Morreu com essa tristeza. Eu ficava triste por ela, mas já absorvi tudo isso”, conta Brandão Filho, em entrevista ao Portal da Band.


Time do Flamengo posa para foto em 1914. Em destaque, Alberto Borgerth. Foto: Acervo Pessoal

História

Alberto Borgerth nasceu em 3 de dezembro de 1892, no bairro da Glória, no Rio de Janeiro. Era filho de José de Siqueira Alvares Borgerth, advogado que era chefe de segurança de Dom Pedro II e Procurador Geral dos Feitos da fazenda. Começou a remar pelo Flamengo em 1906, enquanto jogava futebol pelo Rio Futebol Clube, uma espécie de juvenil do Fluminense.

Em novembro de 1911, já capitão do time adulto do Fluminense, foi campeão Carioca com o clube. Pouco depois, houve uma dissidência entre atletas e dirigentes. A maioria do jogadores já remava também pelo Flamengo. Borgerth então se reuniu com os atletas na Pensão Almeida, na Rua do Catete, 186, onde alguns moravam e decidiu levar para o rubro-negro a proposta de criação da seção de futebol no clube, que acabou sendo oficialmente criado em 4 de dezembro de 1911.

No ano seguinte o time fez sua estreia em uma vitória por 16 a 2 sobre o Mangueira. No dia 7 de julho, aconteceu o primeiro Fla-Flu. O Tricolor saiu vitorioso por 3 a 2. Em 1914 e 1915 foi bicampeão carioca, conquistando os primeiro títulos do Fla. No mesmo ano se formou em medicina e abandou o futebol para exercer a profissão, chegou a ser Secretário de Saúde do então Distrito Federal.

Morreu em 25 de novembro de 1958, quando, de acordo com seu neto, recebeu a maior homenagem do Flamengo. “Foi velado na sede do clube no Morro da Viúva e seguiu para o Cemitério São João Batista em ambulância onde o caixão foi coberto com a bandeira do Flamengo enquanto a ambulância tocava sirene, não pelo trânsito que não existia na época, mas como forma de homenagem da rede publica de saúde”, relembra.


Luiz Soares Brandão Filho posa em frente ao Hotel Imperial, onde funcionava a Pensão Almeida. Ai nasceu o futebol do Flamengo. Foto: Acervo Pessoal

Amor pelos clubes

Brandão Filho conta que tinha uma relação muito próxima do avô, que morreu quando ele tinha 16 anos. Para a família, transmitiu o amor pelo Flamengo, mas não aceitava que ninguém falasse mal do Fluminense. Segundo seu neto, “Borgerth era bastante tranquilo e discreto. Não era fanático. Tanto que já na sua velhice, dizia que seu jogador favorito era o Ademir de Menezes, craque do Vasco da Gama na época”.

Seu neto, Luiz Soares Brandão Filho, é hoje sócio emérito do Flamengo e conselheiro do clube, mas diz que já está há cerca de dez anos afastado, porque desde que se aposentou, passa a maior parte de seu tempo fora do Rio de Janeiro, na região serrana do estado. Seu filho, Luiz Alberto (em homenagem a Borgerth), é quem herdou o título do bisavô. Ele também é conselheiro hoje.

Em uma entrevista pouco mais de um ano antes de morrer, Alberto Borgerth chegou a dizer: “Sou Fla-Flu. Não existe árvore de seiva e fruto diferentes. Do Fluminense nasceu o meu clube. No Fluminense aprendi a fazer o meu clube”. Mas o fato de chamar o Flamengo de “meu clube”, mostrava qual era realmente seu clube de coração, e seu neto confirma: “ele era Flamengo de coração”.

Nesta mesma entrevista, Borgerth se mostrava surpreso com o tamanho que o Flamengo ficou, e o Fla-Flu também. “O clube cresceu demais. Nunca pude supor que a história fizesse meu clube tão diferente e tão maior do que imaginei”.


Borgerth nunca imaginou o tamanho que o Fla-Flu ganharia. Foto: Acervo Pessoal

Dinheiro

Se Alberto Borgerth ensinou alguma coisa para seu entes, foi a paixão pelo esporte. Na ´peca em que jogou, não existia dinheiro, o que Brandão Filho acredita que acabou transformando o futebol de hoje.

“Não é que falta memória ao brasileiro. O fato é que futebol passou do coração para o bolso, hoje o órgão mais sensível do corpo humano, ou seja, grandes grupos que investem pesado nesse esporte, daí a não importância de historia, tradição e principalmente coração, daqueles que mandam no nesse mercado. O museu do Flamengo até hoje não está organizado da forma que o clube merece pelas suas glorias e tradição. Em quase qualquer lugar do planeta que você vista a camisa tradicional do Flamengo com certeza vai ouvir ‘Mengo’! Já tive essa experiência. Meu filho também. Já conheci um grande benemérito do clube que não sabia quem era Alberto Borgerth. Se não sabem sobre ele, imagine sobre mim”, revela ele.

Em parte por isso, está explicado o porquê do neto de Borgerth não ter ido mais ao Maracanã desde que ele foi reformado, estádio que recebe o nome de Mário Filho, jornalista que criou o termo Fla-Flu em 1925 para designar o clássico. Já o nome do pai do jogo está apenas nas lembranças de quem o conheceu.

4691 visitas - Fonte: Band


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