Enquanto média de gols cai, posse de bola aumenta no Brasileirão. Bom ou ruim?

30/6/2015 07:45

Enquanto média de gols cai, posse de bola aumenta no Brasileirão. Bom ou ruim?

Colunistas, ex-jogador e chefe da arbitragem dão suas opiniões sobre a aparente contradição entre estatísticas que falam sobre nível técnico

Enquanto média de gols cai, posse de bola aumenta no Brasileirão. Bom ou ruim?
Tempo de posse de bola aumentou no Brasileirão 2015 (Fotos: Geraldo Bubniak/Light Press)

A média de gols do Campeonato Brasileiro vem caindo ano após ano. De 2012 para cá, as edições vão batendo recordes negativos em sequência - 2,47 (2012), 2,46 (2013), 2,26 (2014) e 2,22 (2015 até a nona rodada). Essa estatística ajuda a explicar a sensação de que o nível técnico da competição é baixo. Mas há outro número que gera a esperança de uma mudança possa estar a caminho. O tempo de posse de bola, que é medido enquanto a bola está nos pés dos jogadores durante as partidas, vem subino.

Segundo o Footstats, desde 2012 tem havido um aumento considerável nesse tempo. Em 2015, após nove rodadas, temos em média quase quatro minutos a mais de posse por jogo do que há três edições do campeonato, ou seja, quatro minutos a mais de bola no pé.

O ex-jogador e atualmente treinador Ricardo Gomes enxerga esse dado com otimismo. Ele diz que apesar de os melhores jogadores brasileiros não atuarem no país esses números revelam uma técnica que sempre caracterizou o jogador nacional.

- Antes eram os melhores jogadores que saíam, hoje as melhores promessas já estão na Europa, por isso o nível caiu, mas esses números mostram um desenvolvimento na qualidade do jogo, um resgate do que nós tínhamos de melhor e que por bons anos deixamos de lado - comentou Gomes.

O presidente da Comissão Nacional de Arbitragem, Sérgio Corrêa, defende que a arbitragem tem seu papel nessa estatística. Segundo ele, a mudança na gestão e no treinamentos dos ábitros nos últimos anos propícia que a bola role mais.

- Estamos em uma cruzada pelo respeito, por menos pressão, menos faltas e mais bola rolando. Para elevar o nível das atuações, padronizamos o treinamento dos árbitros, criamos um plano de carreira para eles, aumentamos a nossa rede de observação no Brasil com dados e estatísticas, além de medidas que evitam as pausas durante a partida, como os cartões por reclamação - explicou Corrêa.

A orientação para extremo rigor nas punições por reclamação gerou um festival de cartões na atual edição. A medida gerou polêmica, já que os árbitros estão coibindo muitas vezes queixas simples.
Para Ricardo Gomes, essas mudanças no comportamento da arbitragem trouxeram melhorias.

- É um esforço de todos os participantes do espetáculo. Está sendo benéfico, precisamos continuar com essa visão - analisou.

Para Sérgio Corrêa, a polêmica medida foi crucial para o aumento da posse de bola. Ele argumenta que, com as advertências, o jogo passou a ter menos interrupções por reclamação.

- O jogador parou de ser ostensivo em suas reclamações. É como o uso de cinto de segurança ou a lei seca. Uma vez punido, pensam duas vezes antes de fazer. É um pedido de respeito ao atleta, não queremos acabar com a alegria do futebol, os quatro minutos a mais de posse de bola estão aí para comprovar - completou.

O número de cartões amarelos aumentou em 2015 se comparado com os anos anteriores. Como é possível observar na tabela ao fim do texto, até a nona rodada da edição do ano passado foram dados 429 amarelos, contra 519 no campeonato atual: 90 a mais. Coincidência ou não, neste ano 112 cartões foram mostrados por conta de reclamações de jogadores contra as decisões do árbitro.

Apesar dessa explosão no número de advertências, nota-se também que a média de faltas tem diminuído. Em comparação com 2012 temos quase dez faltas a menos por jogo, já em relação a 2014, são cinco infrações a menos.

Outra estatística que corrobora com a tese de que há uma melhora técnica acontecendo é a de passes certos. Nos primeiros 90 jogos do Brasileirão-2015, a média está na casa dos 633,6 por jogo, 66 a mais do que tivemos nos mesmos 90 jogos no ano de 2012, quando a média atingiu 568 toques com destino certo. Evidente, quanto mais passes certos, mais a bola fica no pé e temos mais tempo de posse, um fator é consequência do outro.

No entanto, o colunista e blogueiro do LANCE! Mauro Beting é pouco otimista em relação a esses números. Embora veja evolução neles, não consegue enxergar o resultado prático disso:

- O tempo de posse de bola e a troca de passes pode significar menos finalizações, ou seja, seria uma posse de bola estéril, improdutiva. Então, mesmo que esses números aumentem, eles não significam, ainda, que o jogo esteja melhor - avaliou.

Para André Kfouri, colunista do LANCE!, uma possível causa da elevação dessa estatística é o desejo de reproduzir um ótimo exemplo que vem de fora do país:

- Creio que é a vontade de jogar bem, estimulada pelo Barcelona de Pep Guardiola, um time que provocou mudanças na maneira de jogar em clubes e seleções - refletiu Kfouri.

Na visão de Ricardo Gomes, não é surpresa que estejamos nos espelhando no futebol do Velho Continente. Porém, ele atenta para as defasagens que ainda temos:

- O futebol europeu tem maior poder econômico e melhor organização. O calendário é melhor, eles gastam muito mais em pesquisa, o que não é segredo para ninguém e, consequentemente, quem pesquisa e estuda mais tem uma melhor formação - afirmou o ex-zagueiro.

O Barcelona, agora dirigido por Luis Enrique, teve uma média de 599 passes certos por jogo na edição 2014/2015 do campeonato espanhol, ou seja, praticamente o mesmo número, em média, de uma partida do Brasileirão. A diferença é enorme, mas na opinião de André Kfouri, os números mostram boas perspectivas, apesar da disparidade financeira:

- O futebol de posse e passe é um ideal platônico para muita gente, que acha que isso só é possível a times milionários. Mas é muito mais uma questão de conceitos, convicções e trabalho - completou.
E por que mais posse de bola e menos gols? Mauro Beting dá a sua opinião:

- A média de gols tem diminuído, pois o gol tem diminuído de tamanho, resultado da qualidade dos jogadores que temos aqui - criticou o jornalista.

DADOS ATÉ A 9ª RODADA DE CADA EDIÇÃO

Média de tempo de posse de bola por jogo

2012 - 27'27
2013 - 26'41
2014 - 29'21
2015 - 30'54

Número de cartões amarelos
2012 - 455
2013 - 384
2014 - 429
2015 - 519

Média de faltas por jogo
2012 - 37,5
2013 - 34,0
2014 - 34,2
2015 - 29,1

Média de passes certos por jogo
2012 - 567,9 passes certos por jogo
2013 - 597,8 passes certos por jogo
2014 - 618,5 passes certos por jogo
2015 - 633,6 passes certos por jogo

806 visitas - Fonte: LanceNet!


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