Ex-goleiro Manga deixa 'exílio' para encontrar filho no Brasil após 38 anos

14/9/2013 09:15

Ex-goleiro Manga deixa 'exílio' para encontrar filho no Brasil após 38 anos

Ex-goleiro Manga deixa exílio para encontrar filho no Brasil após 38 anos
Aos 76 anos, Manga passa férias no Rio de Janeiro e exibe as mãos deformadas por causa de fraturas mal curadas ao longo da carreira (Foto: Igor Castello Branco / SporTV.com)

Um mito debaixo das traves. Imune à dor, Manga dispensava as luvas para voar e catar a “esfera” de couro. As mãos, com quase todos os dedos quebrados na disputa de bolas impossíveis, faziam defesas arrojadas. Essa era a marca registrada do goleiro, que transformou-se em lenda atuando por Botafogo, Nacional-URU, Internacional e Barcelona-EQU, na longa carreira, de 1955 e 1982. Naquele tempo, o futebol lhe dera fama, faixas, taças e medalhas, mas também o fez cometer o maior erro de sua vida, com ele próprio diz. Nunca mais procurou os filhos Adílson e Wilson após se separar da primeira mulher. Hoje, Manga busca prestar contas com o passado. Na última quarta-feira, ele deixou a tranquilidade de Salinas, no Equador, onde fixou residência, para passar alguns dias no Rio Janeiro e teve a oportunidade de reencontrar Wilson, o caçula, depois de 38 anos. Com doses copiosas de lágrimas e abraços.

- Naquela época, eu falhei. Mas hoje estou muito contente, muito feliz. Depois de 38 anos, estamos aqui. Todos juntos. É um grande dia. Estou muito feliz de estar com meu filho e netos. Realmente, eu não tenho palavras para descrever esse momento. Sem dúvida, ver todo mundo reunido aqui me traz uma sensação muito boa. Infelizmente, o Adílson não está mais aqui conosco (o filho mais velho faleceu em 2011) – afirmou Manga.

As rugas no rosto denunciam a passagem do tempo. São 76 anos bem vividos, maturados pela tranquilidade paradisíaca de Salinas, balneário na província de Santa Elena. Desde 1981 no Equador, Haílton Corrêa de Arruda, o Manga, leva uma vida sossegada e sem muito luxo ao lado da esposa Cecília em uma cidadezinha a 550 quilômetros da capital Quito. No país, onde é tratado como semideus devido à passagem brilhante no Barcelona de Guayaquil, adquiriu um carregado sotaque espanhol. E, apesar da idade avançada, surpreende ao narrar com facilidade fatos memoráveis de uma carreira vitoriosa, mostrando gratidão pela pátria que escolheu para viver.

- Tenho um grande carinho pelo Equador porque trabalhei com grandes profissionais, fiz um bom trabalho preparando goleiros... O Cevallos, por exemplo, que brilhou na LDU jogando a final da Libertadores 2008, contra o Fluminense, foi revelado por mim e chegou à seleção equatoriana. Tenho um grande orgulho disso. É um país que sempre me respeitou por eu ser brasileiro. Os equatorianos sempre me trataram muito bem. Gosto muito do Equador, mas antes de tudo eu tenho amor pelo Brasil. Sobre o meu sotaque, é uma forma de demonstrar respeito pelo país que vivo.

Manga iniciou a carreira no Sport e se transferiu para o Botafogo, clube que defendeu por quase dez anos. No Glorioso, ele não foi uma estrela solitária. Ao lado de Garrincha, Nilton Santos, Zagallo e companhia, construiu uma sólida história, sendo tetracampeão carioca (1961,1962, 1967 e 1968), campeão da Taça Brasil de 1968, entre outros títulos. Foi convocado para a Copa do Mundo de 1966, como segundo goleiro. Na competição, o lendário goleiro jogou apenas uma partida pela Seleção, contra Portugal, ao substituir Gilmar, mas não teve sorte. O Brasil perdeu por 3 a 1 e foi eliminado.

Depois de uma briga com o botafoguense João Saldanha, que o acusou de ter aceito suborno do Bangu na final do Carioca de 67 (algo nunca provado), rumou para o Uruguai para defender o Nacional e por lá fez história: foi tetracampeão uruguaio (1969, 1970, 1971 e 1972), da Libertadores e do Mundial de Clubes de 71. Em 1974, retornou ao Brasil por cima, com status de mito, para jogar pelo Internacional. E teve sucesso, sendo bicampeão brasileiro (1975 e 76). Em seguida, acumulou passagens por Operário-MS, Coritiba e Grêmio antes de encerrar a carreira, aos 44 anos, em 1982, no Barcelona de Guayaquil-EQU.

Inspiração para o Dia do Goleiro, comemorado no dia do seu aniversário (26 de abril), Manguita Fenômeno, como ficou conhecido, o ex-goleiro aproveitou sua estada na Cidade Maravilhosa para almoçar com a mulher Cecília, o filho Wilson e os netos Rodrigo e Nathalie numa churrascaria. O encontro durou quase duas horas e ficará marcado para sempre na memória de Wilson, que tentou seguir os mesmo passos do pai na década 80, mas não teve a mesma sorte.

- Eu não via meu pai desde que eu tinha 11 ou 12 anos. Mas não existe mágoa. É uma satisfação muito grande de estar aqui com ele. Durante esses anos, eu acompanhei a trajetória dele. Eu o admiro, considero, amo e respeito como pessoa e esportista, que trouxe tantas alegrias e glórias para as equipes que defendeu. É com muito carinho que eu vou guardar para sempre esse momento. Em 1986, eu também joguei profissionalmente como goleiro. Tive uma passagem muito rápida pelo Náutico. Estreei com o técnico Carlos Alberto Torres. Depois, achei melhor seguir outro caminho. Para mim foi um prazer ter passado pelo futebol e carregado mesmo que por pouco tempo o nome do meu pai nos campos brasileiros - disse Wilson, chamado de Manguinha por causa da impressionante semelhança física que tem com o pai.

Sem ressentimentos, Manga entende que a aposentadoria foi uma consequência normal da vida. Parou de jogar, mas não fica um minuto sequer afastado de sua fiel companheira, a bola. Poucas horas após chegar no Brasil, ele arrumou tempo para assistir ao triunfo do Botafogo sobre o Corinthians por 1 a 0, no Maracanã, com gol de Hyuri. E, pelo que parece, gostou muito do que viu.

- Cheguei de viagem e pude ver um pouco do jogo. E gostei. O Botafogo tem um time leve, com jogadores jovens e talentosos, e que tem um bom toque de bola. Acredito muito no título. Todo time campeão começa com um grande goleiro. E o Botafogo também tem isso. O Jefferson tem feito um grande trabalho e tem merecido ser convocado para a seleção brasileira.

Gigante de longevidade, Manga sempre demonstrou personalidade, jamais aceitou a reserva e foi implacável com seus concorrentes ao posto. Para ele, todo esforço era pouco para evitar o gol. Um trabalho perfeito que tinha um simples e único objetivo: calar o estádio.

- Comecei muito jovem no Sport e depois segui para o Botafogo. Queria sempre fazer o melhor. Dizem que eu fui o melhor goleiro do Botafogo. Não sei se fui. Deixo isso para os jornalistas. De qualquer forma, acho que correspondi bem nos dez anos que estive no Botafogo. Jogava machucado... Até hoje, todo mundo respeita meu nome.

- Quando eu estava no Internacional, por exemplo, quebrei dois dedos e não ia jogar a final do Campeonato Brasileiro de 75, contra o Cruzeiro. O pessoal do Inter ficou nervoso porque Schneider estava há muito tempo sem jogar. Eu nem pensei duas vezes. Tirei o gesso e joguei com os dedos quebrados. Mostrei minhas qualidades como goleiro e ajudei meu time a ganhar o campeonato. Nesse mesmo dia, fiz a maior defesa da minha vida. Numa cobrança de falta frontal, o Nelinho colocou um efeito na bola, que saiu da barreira e fez uma curva impressionante para dentro, mas consegui evitar o gol - completou.



De olho na seleção brasileira, ele comentou também “convocação antecipada” de Julio César, goleiro do Queens Park Rangers, da segunda divisão inglesa, para a Copa do Mundo de 2014. Na última segunda-feira, a decisão foi anunciada por Luiz Felipe Scolari. Para Manga, Julio terá agora a chance de dar a volta por cima, mostrando técnica e espírito guerreiro, suas maiores qualidades.

- O Felipão é um grande treinador. Tenho um respeito enorme pelo trabalho dele. Ele tem um grande goleiro, o Julio César. É a oportunidade que o Julio vai ter para apagar o erro cometido na Copa do Mundo 2010 (derrota de 2 a 1 para a Holanda, pelas quartas de final). Ele é um homem correto, valente e tem a confiança de um treinador, que tem uma vasta experiência no Brasil e no exterior. Tem todo o meu respeito. Espero que ele faça o que ele fazia na Itália, quando jogava no Inter de Milão.

Manga parou de jogar, mas continua na área e prepara planos para o futuro.

- Estamos tratando de montrar uma escolinha de goleiro, mas não será para agora. Tenho que esperar um pouco mais de tempo.

5024 visitas - Fonte: Globo Esporte


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