Renato durante treino do Flamengo no CT do Grêmio — Foto: Alexandre Vidal/Flamengo
Quis o destino que a última parada do Flamengo antes da viagem para a Libertadores fosse em Porto Alegre. E que o último jogo fosse contra o Grêmio, clube onde Renato Gaúcho é ídolo por tudo que fez como jogador e treinador. Do lado de fora do Arena tem uma estátua para comprovar.
Durante os dias que está na capital gaúcha, o que mais Renato ouviu foram pedidos para "ir devagar" contra o Grêmio. Se o Flamengo vencer, os gaúchos ficam em situação ainda mais delicada na luta contra o rebaixamento. Mas o discurso rubro-negro é de encarar a partida com toda seriedade sem levar em conta o desespero tricolor.
A relação de Renato com os gremistas vai além do esporte. Por toda a história que construiu no clube e pelo tempo em que morou em Porto Alegre, ele virou no imaginário da torcida quase um "super herói" que desperta as mais variadas formas de idolatria.
A confiança no jeito de falar, escondida nos óculos escuros para driblar a timidez, muitas vezes é interpretada como arrogância de um personagem que ele construiu desde a época de jogador.
Em terras gaúchas, ele é o Portaluppi. E quem o conhece na intimidade atesta que atrás do jeito marrento tem uma pessoa generosa que acumula histórias de ajuda a pessoas que nem conhecia, e sem fazer propaganda.
Renato realiza sonho de garoto com câncer terminal
Em 2017, Wilian Lima Garcez Júnior, de 22 anos, estava com câncer em estágio terminal e seu sonho era conhecer Renato. O técnico ficou sabendo da história através de seu assessor, Diogo Aída, e fez o convite para uma visita ao CT do Grêmio às vésperas da final da Libertadores.
Willian, o pai, alugou um balão de oxigênio e teve o auxílio de duas enfermeiras para a locomoção. No CT, foi dito ao jovem que não seria possível conhecer Renato. Na verdade, Renato tinha armado uma surpresa dentro de uma sala com todos os jogadores.
Willian emocionou todos os presentes, recebeu uma camisa autografada pelos jogadores e ouviu de Renato que o Grêmio ganharia a Libertadores em sua homenagem.
O Grêmio foi campeão da Libertadores, mas Willian não conseguiu assistir. Morreu na véspera do primeiro jogo da final.
O pai de William, que mandou fazer uma faixa em forma de agradecimento, pretende encontrar Renato em Porto Alegre antes da viagem do Flamengo para o Uruguai para desejar boa sorte.
- É uma história e lembrança que permanecem intactas em nossos corações. Foi um dia mágico. Ele não queria ir por causa do câncer bem avançado. No dia de ir até o CT do Grêmio foi uma luta. Duas enfermeiras estavam na minha casa e ele não queria ir. Eu pedi que todos saíssem do quarto, sentei do lado dele e disse: "Filho, vamos lá. Sei que você não quer ir por causa da sua aparência, mas o que nós sempre falamos e combinamos foi de nunca desistir". Aí ele me olhou, abraçou e falou: "Vamos sim, pai".
Chegamos lá, e eu também não sabia muitas coisas. O Diogo Aída se aproximou de mim e contou que o Renato ia juntar todos os jogadores e chamá-lo. Eu fiquei muito nervoso, respirei e falei para minha esposa: "Hoje vai ser inesquecível".
Depois de 15 minutos o Renato nos chamou, e quando nos entramos na sala, lá estavam todos jogadores que iriam ser campeões da libertadores de 2017 sentados nos aguardando. Foi mágico. Os jogadores de futebol não sabem a força que eles têm. Meu filho não sabia se dava risada ou chorava. Todos os jogadores levantaram e foram apertar a mão dele. Ele sorriu e disse: "Pai, não estou mais com dor". E sorriu mais uma vez. Daí chegou o Renato com a camisa toda autografada e deu a ele. Meu filho é muito gremista, e, quando pegou a camisa na mão, vimos o brilho nos seu olhos. Me disse baixinho "Bah, pai. O Renato é f..."
Meu filho recebeu muitas mensagens de força e superação. Ele não largava a camisa por nada. Hoje temos dois times para torcer: Grêmio e Renato futebol clube. O Renato nos deu alguns dias mais tranquilos. Depois daquele dia, meu filho não sentiu mais dor no corpo por mais dois dias . Foi incrível - contou Willian, o pai, ao ge.
O carrinho de lanches
Uma vez um torcedor gremista escreveu uma carta de quatro páginas para Renato pedindo ajuda para comprar um carrinho para carregar material reciclável. A ideia era fazer disso o sustento de sua família.
Este torcedor tinha um filho deficiente e precisava comprar um remédio que não era fornecido pelo SUS. O técnico se comoveu e deu R$ 2 mil para a compra do carrinho, que no fim das contas virou um carrinho de lanches.
A ideia era trabalhar perto da Arena do Grêmio nos dias de jogos, mas ele alegou na época que um segurança da Arena cobrou R$ 200 para liberar sua permanência no local, e ele não podia pagar. Na época, a história chegou até o conselho e à presidência do Grêmio.
Doações na pandemia
Com os efeitos duros da Covid na sociedade, Renato se comoveu com as dificuldades enfrentadas por moradores de uma comunidade próxima à Arena e doou sete toneladas de alimentos, que chegaram ao local em um caminhão. Depois, doou mais duas toneladas em outra comunidade.
Perna mecânica e cadeira de roda
Entre as doações feitas pelo técnico estão uma perna mecânica avaliada em R$ 100 mil e uma cadeira de roda de R$ 40 mil. Para pessoas que Renato nunca tinha visto mas que o comoveram com o carinho demonstrado por ele.
Camisas doadas ajudam instituições de caridade
Renato doou uma camisa autografada para a instituição de caridade chamada Santa Zita de Luca para que fosse feita uma rifa. Uma empresária local (colorada) comprou por R$ 1.500. A quantia garantiu dois meses de comida para as crianças.
Em outra rifa com camisa autografada por Renato, o valor arrecadado foi de R$ 10 mil. Os próprios jogadores do Grêmio compraram muitas.
Idolatria marcada na pele
Milena, que na ocasião tinha 15 anos, subia no muro do CT para tentar ver Renato. Ao saber da história, o técnico mandou a menina ir ao treino no dia seguinte. Ela levou de presente um pé de moleque gigante e uma garrafa de cachaça tradicional da região.
Outro fã de Renato, Mathias Cardoso pediu um autógrafo no braço. Até aí, nada demais. Mas o torcedor tinha levado junto um tatuador, que eternizou o momento ali na hora, para surpresa do treinador.
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