João Victor durante tratamento em uma sessão de radioterapia — Foto: Arquivo pessoal

O futebol também cura. As palavras de incentivo dos ídolos fortalecem e trazem esperança em um futuro de muita saúde. Foi assim que João Victor de Moraes Vieira ganhou força para se recuperar de um carcinoma nasofaringe de grau 4. A nasofaringe é a parte mais alta das vias aéreas, situada logo atrás do nariz e serve de passagem a partir do nariz à garganta, para o ar até a traqueia, brônquios e pulmões.



Inicialmente, o jovem, que sonhava em ir para a Marinha, se flagrou em uma dura batalha contra um câncer inesperado e estava disposto a se entregar e não fazer o duro tratamento para evitar o pior. Como reagir à notícia de uma doença grave aos 18 anos? Imagine-se no lugar de João Victor. Com toda uma vida pela frente, o jovem quis desistir. Porém, a corrente do bem ajudou a convencê-lo que valia a pena lutar.


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- A minha cabeça na hora ficou muito conturbada. Foi difícil aceitar que aquilo estava acontecendo comigo, ver meus pais, amigos importantes chorarem na minha frente, foi muito doloroso. Mas ainda assim, eu não queria mais tratar de nada, porque afetou muito a minha vida e meu psicológico, me gerou depressão e ansiedade, no qual afetou ainda mais todo o processo - relatou o jovem.

- Após os vídeos dos jogadores, após as conversas com meus pais e amigos, minha cabeça foi mudando, porque eu vi que naquele momento eu não poderia desistir, não poderia deixar eles de lado porque eu sei que eles estavam torcendo por mim. Ter superado essa doença é uma grande vitória não só para mim, mas para muitas pessoas ao meu redor que torceram por mim - ressaltou.

Fanático por futebol e pelo Flamengo, João Victor contou com a ajuda da supervisora de enfermagem do Centro de Oncologia Américas do hospital resolveu fazer uma mobilização para convencer que valia a pena lutar pela vida. Renata Martins contou que mobilizou os funcionários do hospital Oncologia Américas, na zona oeste do Rio de Janeiro, em busca de mensagens de carinho de jogadores.

- A mobilização aconteceu pela preocupação e desespero de ver que ele não queria se tratar. No dia do diagnóstico, percebi que ele gostava muito do Flamengo e decidi começar uma mobilização através de conversas com colegas que poderiam conhecer alguém do clube. Eles foram conversando entre si e a história ganhou forças. Uma funcionária do Centro de Oncologia que conhece o João Gomes mandou o primeiro vídeo e uma enfermeira que conhecia uma amiga do Neymar também conseguiu um depoimento, e assim por diante se formou uma corrente do bem.

A corrente do bem conseguiu mobilizar craques do futebol brasileiro e mundial. Neymar, Vinicius Junior, Marcelo e João Gomes mandaram energias positivas para a pronta recuperação do estudante (veja vídeo acima com os depoimentos). O volante do Flamengo ainda cobrou para que João Victor não abandonasse o tratamento.

- Queria te desejar muita força para você não abandonar o seu tratamento, que só se você continuar vai dar tudo certo e sua saúde vai voltar à normalidade. Muito obrigado pelo carinho! Estou aqui na torcida e se você não se tratar tudo conforme o combinado vou ficar chateado com você. Estou torcendo pela sua recuperação - disse Gomes, do Flamengo.

Com os depoimentos, João Victor repensou sua escolha inicial e resolveu fazer o tratamento. Segundo ele, as mensagens foram essenciais para a continuidade no processo de tratamento. Ao todo, o tratamento levou cerca de seis meses, com quatro sessões de quimioterapia e 33 sessões de radioterapia.

- Depois dos vídeos, minhas forças para continuar aumentaram cada vez mais, receber o apoio deles foi fundamental para continuar - ressaltou o jovem.

- Ter recebido uma mensagem do Neymar, me enlouqueceu. Na hora, eu estava com meu melhor amigo e meu primo. Quando minha mãe me mostrou, eu fiquei sem reação e comecei a gritar e gritar. Foi um momento crucial, no qual eu decidi continuar todo o processo de tratamento. Minha admiração por ele já era enorme e aumentou ainda mais, porque foi naquele momento em que ele me fez tomar a maior decisão da minha vida. Por isso, fica aqui a minha eterna gratidão a ele.

Hoje, João Victor já recebeu alta da nutricionista. Ele ainda faz acompanhamento de três em três meses com o oncologista e radioterapeuta, Gustavo Machado. De acordo com o médico, o câncer dele representa cerca de 2% dos tumores de cabeça e pescoço e que atinge mais adultos jovens, com uma discreta predileção pelos homens.

- O paciente tratou com quimioterapia. Houve uma redução da lesão e foi proposto a segunda fase com quimioterapia associado à radioterapia. É um tratamento muito desgastante e exigiria muito do paciente. Ele, por ser um garoto jovem, que gosta muito de esportes, optou por não se tratar. Ele simplesmente desistiu de fazer o tratamento - relembrou o médico.


- Então, a partir dali, iniciou-se uma campanha dentro do grupo numa tentativa de convencê-lo a continuar o tratamento e isso fez com que, de alguma forma, ultrapassasse as barreiras da clínica e chegasse a alguns jogadores de futebol. O que acabou viralizando através de mensagens de apoio ao caso do João e, no final das contas, ele decidiu se tratar novamente. Isso foi um exemplo clássico do esporte promovendo transformação das vidas das pessoas - destacou Machado.

Após vencer a batalha contra o câncer, João Victor disse que não quer mais ir para a Marinha. Agora, o jovem está estudando para passar em psicologia. O motivo da escolha é para ajudar quem o ajudou. Seguindo o exemplo. Ele se apaixonou pela profissão durante o tratamento. Com toda uma vida pela frente, João Victor hoje é um exemplo de que o futebol pode sim ajudar a curar.

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