O Fla-Flu tem diversos personagens na sua história. Um dos mais recentes é Thiago Neves. Pelo Tricolor, provocou o rival após decidir um clássico com três gols em 2008 - vitória por 4 a 1 - e dançar o "Créu". Em 2011, vestindo a camisa rubro-negra, marcou contra o Flu em jogo que eliminou o ex-time da Taça Rio e comemorou com empolgação. Mas também viveu crises dos dois lados e sabe como poucos analisar o clima dos clubes nas vésperas do clássico. Hoje no Al-Hilal, mostra nas palavras muito mais carinho pelo clube das três cores, que deixou no meio desta temporada. É nele, inclusive, que faz a aposta para o jogo deste domingo, às 18h30m (de Brasília), no Maracanã. Mas faz a ressalva que o bom momento do Fla traz equilíbrio ao clássico.

- O Flamengo vive um grande momento, mas clássicos são sempre muito equilibrados. Minha intuição diz que o Fluminense sairá vencedor desse jogo! O time vai à campo extremamente motivado, determinado a tirar o time desse risco de rebaixamento, e como guerreiros que são, saberão tirar proveito dessa característica e crescer diante do Flamengo. Espero que dê tudo certo domingo, o Fluminense precisa muito desses três pontos. Vou acompanhar e torcer pelo Fluzão - afirmou.

Mesmo de longe, Thiago tem acompanhado a situação ruim pela qual passa o Fluminense. E ele já viveu isso nas Laranjeiras, como por exemplo após a derrota para a LDU na Libertadores de 2008 que colocou o time em queda e neste ano pelo mesmo motivo. Em 2011, pelo Flamengo, teve um ano vitorioso com a conquista do Carioca e a vaga na Libertadores com a quarta colocação no Brasileiro. Mas uma série de dez jogos sem perder durante a competição, com cinco derrotas e cinco empates, fez o camisa 10 sentir de perto a pressão que a torcida rubro-negra coloca.

Para ele em particular, tudo foi mais difícil justamente pela identificação que sempre teve com o Flu e pela desconfiança que marcou seu retorno às Laranjeiras após um ano no rival. E é por isso que se sente mais confortável analisando o Tricolor.

- Cada time tem suas peculiaridades, mas o Fluminense e o Flamengo são dois grandes clubes, onde os jogadores convivem com muita pressão o tempo todo. Fiquei mais tempo no Fluminense e vivi momentos extremos no time, o que não aconteceu em minha passagem no Flamengo, que foi de apenas uma temporada. O Flamengo tem uma grande torcida, que pressiona bastante, mas, por outro lado, minha identificação com o Fluminense e meu carinho pela torcida aumentavam ainda mais a responsabilidade dentro de campo. Como fiquei mais tempo no Fluminense, acho que a pressão foi a maior com que já convivi - analisou.

Nesta conversa por e-mail com o GLOBOESPORTE.COM, Thiago Neves comentou que ainda sonha em viver o clima do clássico no novo Maracanã, falou sobre Vanderlei Luxemburgo, que foi seu treinador no Fla e pode ser demitido do Flu em caso de tropeço, e mostrou confiança na permanência do Tricolor na elite do futebol brasileiro.

GLOBOESPORTE.COM - Como você tem acompanhado de longe a situação do Fluminense? Acredita que o time vai conseguir se salvar do rebaixamento?

Thiago Neves - O Fluminense é um time que me projetou para o futebol e me levou à Seleção, sempre terei muito carinho e gratidão. Acompanho sempre que possível essa fase difícil do time, mas torço muito e estou confiante de que conseguirão dar a volta por cima e terminar essa temporada numa posição de meio de tabela. O elenco tem bons jogadores e, com a superação de todos, o time vai se manter na Série A.

No Flamengo você trabalhou com o Luxemburgo, que hoje é extremamente contestado no Fluminense. O que lembra do trabalho dele? É um treinador que colaborou para a sua carreira?

Todos os meus treinadores passaram algo de importante, seja no aspecto tático ou mesmo nas conversas. O Luxemburgo é um grande profissional, conhece muito de futebol e tem total capacidade de inverter o rumo dos acontecimentos. Agora, o momento é de muita concentração, de acreditar na capacidade do grupo e entrar em campo buscando sempre o melhor que o time pode oferecer. O Fluminense é um gigante do futebol brasileiro, possui jogadores extremamente talentosos, que tem condições de reverter essa situação incômoda e afastar de vez o fantasma do rebaixamento.

Quando saiu do Fluminense neste ano imaginava que o time fosse ter uma queda tão grande de produção?

Não imaginava de forma alguma. Acho que além da minha saída, uma série de fatores atrapalharam no rendimento da equipe, como a lesão de jogadores importantes e a negociação de outros. Foram baques em alguns dos principais jogadores, que éramos os pilares do time campeão em 2012. Minha expectativa é a de sempre ver o Flu brigando lá em cima, por título e vaga na Libertadores. Mas confio nos profissionais do clube, no potencial dos jogadores para sair dessa situação incômoda e retornar rapidamente à rotina de vencer e de disputar títulos.

Você é personagem marcante na história deste clássico. Olhando de longe bate uma saudade de jogar? Especialmente no novo Maracanã?

É um sonho meu e, acredito, de qualquer jogador atuar no novo Maracanã. Pelo que vi, o estádio está maravilhoso, o que aumenta ainda mais a mística daquele lugar, principalmente em um clássico. Quero voltar um dia e disputar o Fla-Flu novamente, ter meu nome gritado pela torcida naquele estádio lotado. É mágico, todo jogador sentiria falta. Ainda sou novo e, se Deus quiser, vou poder viver esse momento e ter essa sensação novamente.

Como está a readaptação? Foi bom voltar a um clube onde sempre foi querido?

É ótimo chegar a um lugar que você é bem-recebido, querido e respeitado. Quando saí do Al-Hilal, havia deixado as portas abertas para um retorno e hoje estou muito feliz aqui. A estrutura do clube é fantástica! Aqui, tenho tudo para desenvolver meu futebol, tenho uma ótima relação com o treinador Al Jaber. Estou conseguindo voltar à minha melhor forma e quero retribuir todo esse carinho com grandes atuações, gols e títulos.

O que pensa para o futuro? Quando projeta um retorno ao Brasil?

No momento, eu não tenho planos para um retorno. Acabei de voltar ao Al-Hilal e estou muito feliz com minha situação no clube. Não descarto uma volta no futuro, afinal, é sempre bom estar perto da família e dos amigos, em sua terra natal. Mas no momento estou focado em meu trabalho no time e na busca de mais um título para o Al-Hilal. Minha família tem me apoiado bastante e sigo aprendendo cada vez mais dessa cultura tão rica e bacana daqui. O futuro, eu deixo nas mãos de Deus.