Mais que o topo do pódio, o título da Copa do Brasil de 2022 representa uma volta por cima para o técnico Dorival Júnior. O comandante levou o Flamengo ao título da competição, após sua equipe vencer o Corinthians nos pênaltis em um Maracanã lotado.



Contratado no decorrer desta temporada, o treinador superou a desconfiança da torcida e conquista o Brasil novamente após vencer tumor na próstata e a covid-19, passar por uma demissão inesperada e decidir pela primeira quebra de contrato na carreira.

A chegada de Dorival à Gávea foi oficializada em 10 de julho, após uma negociação concretizada no dia anterior. À época no Ceará, o comandante optou por caminhar em um novo rumo e aceitou o convite para substituir Paulo Sousa.

Era a chance de, talvez, terminar um trabalho que foi iniciado em 2018, mas que não teve continuidade após a chegada da então recém-eleita diretoria encabeçada por Rodolfo Landim, que hoje atravessa o segundo mandato.

"Eu botei na minha cabeça que um dia eu retornaria ao Flamengo. É uma satisfação, um prazer, vivenciar novamente um momento como esse", disse, à FlaTV.

O reencontro passou longe de ser unanimidade e foi envolto a certas dúvidas e descrenças por parte da torcida. Aos poucos, porém, o Flamengo engrenou e chegou até mesmo a ver o líder Palmeiras no horizonte no Brasileiro, mas deslanchou mesmo nas Copas, quando usou o time considerado titular e garantiu vaga nas finais.

Ao levantar a taça da Copa do Brasil, inclusive, Dorival conseguiu um feito ainda inédito nesta 'Era de ouro' pela qual o Rubro-Negro passa e termina com uma "pedra no sapato" que se tornou a competição. Apesar das diversas conquistas de 2019 para cá, e ser apontado como um dos favoritos nestes últimos anos, o Fla acumulou decepções nas edições mais recentes do torneio.

Pausa pela saúde

Dorival volta a conquistar um título nacional alguns anos após uma enorme vitória pessoal. No primeiro semestre de 2019, durante exames de rotina, o treinador descobriu um câncer de próstata. Na ocasião, por conta da doença, negou convites de trabalho de alguns clubes brasileiros.

Em setembro daquele mesmo ano, em um papo com o UOL Esporte, explicou que o primeiro sinal de que havia algo errado foi o aumento no valor do PSA [enzima que detecta níveis de tumor, utilizada para diagnóstico de câncer de próstata].

"Com essa alteração no PSA, que foi bem significativa, meu médico pediu exames complementares para investigação. Foi quando descobrimos o câncer, graças a Deus, ainda no início. Falamos sobre as possibilidades de tratamento e ele garantiu que a cirurgia era a melhor delas", diz. "Estou muito tranquilo, até animado, por ter descoberto cedo. Logo estarei pronto novamente para o mercado de trabalho", apontou.

"O câncer me fez dar outro valor à vida", afirmou o técnico, em novo papo com o UOL Esporte, já neste ano. "A tradição do café da tarde vem dos meus pais. Eu havia perdido isso, havia deixado para lá. Mas, depois de encarar essa doença, esse momento voltou a fazer sentido, e eu o recuperei completamente. Inclusive, já está na hora do café", riu.

Demissão inesperada

O primeiro trabalho de Dorival Júnior após este período foi no Athletico-PR, em 2020. No clube, porém, viveu o que considerou uma "demissão inesperada". Foram dois meses à frente do time antes de paralisação das competições devido à pandemia de covid-19.

Em julho, o calendário foi retomado e o Furacão levou o título do Campeonato Paranaense. No Brasileiro, o início da caminhada foi com duas vitórias e uma derrota. Em agosto, porém, Dorival foi afastado após testar positivo para covid. Sem o treinador à beira do gramado, foram três derrotas no Brasileirão em três jogos. Ao retornar do isolamento, acabou dispensado.

"A demissão foi inesperada para mim, mas nada mais me surpreende no futebol brasileiro", indicou. "No futebol brasileiro, você trabalha e, já na semana seguinte, tem que gerar resultados. Ninguém consegue. É uma impaciência muito grande, busca-se resultado pelo resultado, não se pensa em trabalho, em desenvolvimento; não se pensa no que o cara está fazendo dentro do clube".

Escolhido para ser o substituto de Paulo Sousa, Dorival Júnior estava no Ceará, mas pediu demissão para assumir o Fla. "Nunca quebrei um contrato, sempre defendi uma outra posição. Não indico fazer isso com nenhum profissional, não faria isso, mas acabei tomando essa decisão pelo meu coração", disse, em entrevista ao SBT.

A saída deixou a torcida do Vozão revoltada e gerou até um desabafo do presidente Robinson de Castro. O clube acertou com Marquinhos Santos para a vaga.

Título com 'dream team' do Santos

Novidade nesta vitoriosa Era do Flamengo, a Copa do Brasil não é inédita na carreira de Dorival Júnior. Ele levantou a taça em 2010, quando comandava um Santos que tinha Neymar, Ganso e companhia.

O comandante deixou o Peixe após uma briga com Neymar, que, apesar da pouca idade à época, já era tido como um dos grandes nomes do time. Após as arestas aparadas, Dorival Júnior indicou uma punição ao jogador, mas a diretoria santista, na ocasião, não permitiu a punição que o treinador decretou e decidiu pela demissão dele.

Aquele era, até esta noite, o único título nacional de "primeira prateleira" do treinador. À beira do gramado, ele ganhou a Série B do Brasileiro em 2009, pelo Vasco, enquanto, como jogador, foi campeão da mesma competição pelo Juventude, em 1994.



Depois que saiu do Santos, Dorival Júnior vestiu a camisa de diversos clubes. Ele está na terceira passagem pelo Flamengo (2012, 2018 e 2022), e esteve no Atlético-MG, Internacional, Vasco, Fluminense, Palmeiras, no próprio Peixe, São Paulo, Athletico-PR e Ceará.



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