Vítor Pereira em estreia pelo Flamengo contra a Portuguesa — Foto: Thiago Ribeiro/AGIF
Em sua apresentação, há 13 dias, Vítor Pereira lançou mão de metáfora para dizer que não romperia de imediato com o Flamengo de 2022. Falou que não "pintaria a casa de novo" pouco depois da conquista de dois títulos importantes. No primeiro jogo do treinador e da equipe principal, o quadro do time campeão da Libertadores e da Copa do Brasil realmente teve poucas mudanças de personagens, mas a goleada por 4 a 1 sobre a Portuguesa já trouxe pinceladas diferentes.
Do time-base das conquistas do ano passado, apenas três mudanças. João Gomes, negociado com o Wolverhampton, deu lugar a Gerson, velho conhecido e ídolo da torcida. Na esquerda, Ayrton Lucas substituiu Filipe Luís, que se recupera de lesão. Na zaga, Léo Pereira, com dores no adutor da perna esquerda, deu lugar a Fabrício Bruno.
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É verdade também que o adversário rubro-negro no domingo não era dos mais fortes, mas foi possível observar uma mudança de rumos e um Flamengo mais plural. O losango do ano passado deu lugar a um meio-campo mais flexível, com mudança constante de posições. Ainda assim, Vítor sentiu que mais aproximação e alternativas são importantes para ampliar o leque de jogadas.
Em uma de suas respostas na entrevistas coletiva pós-jogo, Vítor disse: "O objetivo é pegar jogadores que tratem bem a bola e juntá-los em combinações próximas uns dos outros". Afirmou também que é preciso mais criatividade para confundir os rivais com as seguintes palavras: "É atrair o adversário de um lado, entrar por dentro, entrar por fora. Essa alternância, com combinações em que eles tenham liberdade para decidir, é o que torna o jogo bonito".
Objetivos atingidos
A aproximação pretendida por Vítor aconteceu constantemente, não à toa o quarteto ofensivo conseguiu diversas tabelas e toques de efeito. No primeiro gol, a curta distância entre Ayrton Lucas e Arrascaeta os permitiu que protagonizassem bela tabela antes do cruzamento do lateral-esquerdo para a peitada de Pedro que terminou no fundo da rede.
Mas a compactação não foi observada apenas nas tramas ofensivas. Na imagem abaixo, do site Footsats, é possível observar a ocupação de espaços no campo de ataque do Flamengo. Não se tratam apenas de ações em busca do gol, mas também de bloquear o avanço dos laterais. Os rubro-negros sufocavam a Portuguesa com a dobra de marcação que fazia o adversário forçar o passe.
A alternância pedida por Vítor que o faz vislumbrar um "jogo bonito" para os próximos passos apareceu já neste domingo. Era comum ver a troca de lado dos volantes e meias. E a variação na hora de agredir também se refletiu no placar. O primeiro gol foi construído pelo corredor esquerdo, já o segundo desenhou-se todo pela zona central. Gerson, perto da área rubro-negra, esticou para Pedro, que carregou desde o campo defensivo até dar a bola a Gabigol. O novo camisa 10 cortou para fora e soltou a bomba.
As "combinações próximas" que Vítor quer desenharam a jogada mais bonita da partida, aos 22 minutos. Everton Ribeiro recebeu na direita e negou-se a pedir falta enquanto João Paulo o puxava insistentemente. De pé ainda, enganou Kiss com um drible de corpo e entregou a Arrascaeta. O uruguaio esticou para Pedro, que, de esquerda, tocou de primeira para Ribeiro dar um chapéu em Gérson e por pouco não marcar com um sutil toque por cima do goleiro João Lopes.
O Flamengo foi para o intervalo com 61% de posse de bola, e sete finalizações, quatro a mais do que a Portuguesa. Só sofreu um gol por erro bobo de Ayrton Lucas, que, apesar do equívoco, fez excelente jogo especialmente no apoio. No setor defensivo, porém, deixou espaços.
Insistência e inteligência definem goleada
O Flamengo matou o jogo rapidamente após o intervalo, aos quatro minutos. E o gol veio de nova alternância. Não de posições ou de sistema de jogo, mas de postura. Pedro sempre foi um jogador de referência, com capacidade técnica para quebrar defesas ora com um pivô bem executado ou com seus toques de primeira. Mas o agora camisa 9 mostrou combatividade que não faz parte de suas principais características.
Desde o primeiro tempo brigando por bolas e marcando na área adversária, Pedro cabeceou em cima de Fredson aos quatro minutos. A bola parecia ter batido no braço do camisa 4 da Portuguesa. Em vez de parar para reclamar pênalti, o 9 rubro-negro insistiu pela bola e girou à la Zidane. O movimento foi perfeito, e ele ganhou espaço para cruzar. O zagueiro Fabrício Bruno, como um autêntico centroavante, teve calma para vencer o goleiro João Lopes.
O insuportável calor que cansava jogadores e a todos os presentes ao Maracanã fez o Flamengo diminuir o ritmo. Vítor até colocou os velozes Marinho e Cebolinha, mexeu nos volantes com Vidal e Erick Pulgar e ainda trocou Varela por Matheuzinho. Pouco mudou em termos de penetração.
No fim do jogo, aos 40 minutos, mais um gol que mostra a variação pedida por Vítor Pereira. Thiago Maia, com a camisa 8 que um dia foi do estreante Gerson, exibiu-se como um coringa na jogada que definiu o placar. Enquanto Vidal, na ponta esquerda, buscava Gabigol com um passe simples, Maia fez um corta-luz com movimentação que sugeria desinteresse. Encaminhou-se lentamente para a área no momento em que Gabi, com passe vertical, esticava para Matheuzinho. E o silencioso volante, com discrição, apareceu na risca da pequena área para finalizar de primeira. Belo gol de um coletivo Flamengo.
E o estreante Gerson? O Coringa não mostrou os dribles em espaços curtos e os passes em progressão que consagraram jogadores como Bruno Henrique, por exemplo, mas mostrou-se onipresente sem a bola. Sobre passes, aliás, não errou nenhum dos 60 que tentou.
Vítor Pereira começou a pintar o Flamengo que deseja. Está longe da obra final e precisa de novos rascunhos para projetar um quadro que o coloque na história do clube. Mas, apesar de não querer romper abruptamente com um modelo vitorioso, dá indícios de que também não levará muito tempo para assinar um time com a sua cara. Quarta, em Cariacica, contra o Madureira, tem mais. Aguardemos os próximos traços de VP.
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