Integrantes da organizada do Wydad possuem regras rígidas, mas fazem festa impactante no estádio
Imagem: Bruno Braz / UOL


Eleita a "melhor do mundo em 2022" pelo "Ultra Worlds" — site especializado no tema —, a torcida do Wydad Casablanca foi uma atração à parte no Mundial de Clubes do Marrocos, mesmo com a eliminação da equipe ontem para o Al-Hilal.



Os Winners, como são chamados, causaram espanto e admiração com variedade de moisacos dentro de um próprio jogo, movimentos sincronizados, bateria ritmada, organização impecável e um barulho ensurdecedor ecoado nas canções por 90 minutos.

Apesar da festa, o recado é claro: não ouse filmá-los de perto

O UOL chegou a conversar com alguns de seus integrantes para entender os segredos daquela potente organizada, mas um pequeno burburinho ainda do lado de fora do estádio Prince Moulay Abdalah já era um sinal do código de ética que depois seria revelado.

Ao notarem que estavam sendo filmados, os torcedores abandonaram parcialmente a discussão que acontecia por causa de ingressos e exclamaram para que a gravação fosse interrompida, algo que foi obedecido, mas não muito bem compreendido.

Em seguida, a reportagem recebeu uma hostilidade ainda maior quando teve a oportunidade de estar no campo antes do jogo e tentou se aproximar do famoso setor norte, onde se situam.

Os integrantes do Winners passaram a xingar furiosamente com o dedo apontado e, não satisfeitos, arremessaram uma casca de banana e uma lata em direção. Foi necessário, então, recuar e procurar compreender tamanha revolta.

"Então, como eu posso explicar... [risos]. Eles não gostam de serem filmados de perto por causa de serem vistos pela polícia", limitou-se a dizer um jornalista local, que preferiu não se identificar.

Fifa não intimida

Um dos segredos dos Winners está nos "maestros" que ficam dentro do campo "regendo" os torcedores com ordens ritmadas. Pelo fato de o Mundial ser um evento oficial da Fifa, imaginou-se que a entidade seria rigorosa nos critérios, como de costume, mas surpreendentemente, tais mestres de cerimônia ficaram na pista de atletismo do estádio Príncipe Moulay Abdalah mesmo com o início da partida.

Somente após cerca de 15 minutos de jogo, o trio de "cerimonialistas" foi convidado a se retirar pela segurança, mas quando um dos agentes encostou nos braços de um deles, o "maestro" se revoltou, desvencilhou-se de forma abrupta e reagiu num claro sinal de "me larga", se recolhendo para a arquibancada calmamente depois.

O que eu estou vendo essa torcida do Wydad Casablanca fazer hoje, eu nunca vi na minha vida. Parada absurda ?? pic.twitter.com/1BYXinYWea

— Bruno Braz (@brazbruno) February 4, 2023

O que tem por trás da torcida
A Winners foi fundada em 2005 inspirada nos "ultras" italianos (nome aplicado às organizadas na Europa).

A ideologia da Winners tem como inspiração a luta pela libertação do território árabe da colonização francesa, possuindo um histórico de participação dos torcedores mais antigos do Wydad nas batalhas pela independência.

O símbolo utilizado pela Winners é um fedayin palestino, guerrilheiro nacionalista em prol da libertação do território árabe. Já o nome (que significa "vencedores" em inglês) faz alusão também à conquista da independência.

A organizada utiliza softwares para elaborar os mosaicos e possui integrantes capacitados em suas respectivas áreas. Há uma estrutura organizada.



"Possuímos integrantes com capacidade técnica para cada setor, e elaboramos todas as ações através de um comitê. Desde as músicas, passando pelos mosaicos, os produtos personalizados, as viagens, entre outras questões", disse o engenheiro Hassan Youssef.

Mais camisas do Winners que do Wydad
O fenômeno dos Winners é tão grande no Marrocos que, ao menos no jogo de ontem contra o Al Hilal, haviam mais torcedores vestidos com camisas e produtos da organizada que do próprio Wydad, o mais popular do país.

"Eles têm todos os mais variados tipos de acessórios e roupas: camisas, jaquetas, bonés, gorros... Uma série de produtos, e todos muito bem feitos. E esta acaba sendo alguma das fontes de renda para as festas nos estádios, viagens, entre outros", disse o comerciante Said Ali, de 51 anos.