Gabigol foi destaque do Flamengo contra o Al Ahly — Foto: Alexandre Neto/Reuters

A obsessão do Flamengo era o Mundial de Clubes, mas as lições das atuações ruins no Marrocos impõem uma obrigação a ser trabalhada à exaustão: o acerto do sistema defensivo como um todo. Não se trata de um problema restrito a goleiros, zagueiros e laterais. O Rubro-Negro deu campo e oportunidades aos montes a Al Hilal e Al Ahly nos jogos realizados em Tânger.



Placar mentiroso
A vitória por 4 a 2 sobre os egípcios, que garantiu o terceiro lugar, evita um vexame maior, porém é incapaz de ofuscar uma apresentação preocupante.


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Enquanto estavam em campo 11 contra 11 - Abdelfattah foi expulso aos 23 minutos do segundo tempo -, o Flamengo oscilou muito. Começou o primeiro tempo bem, depois regrediu. Fez 1 a 0 rapidamente com Gabigol e poderia ter ampliado se o próprio aproveitasse chance na pequena área. Na sequência, como tem sido uma tônica dos últimos jogos, deu campo ao adversário e chegou a ser dominado.

Sofreu o empate num erro raro desse Flamengo de Vítor Pereira. Levou pela primeira vez gol de bola parada na temporada. Pedro cochilou, Fabrício Bruno tentou ajudar, mas não chegou a tempo.

Depois disso, os egípcios continuaram a empurrar o Flamengo para o campo defensivo. Perderam pênalti cometido em lance de desconcentração de Thiago Maia. Tanto bateram que furaram a defesa rubro-negra e conseguiram a virada em um lance que explica bem o momento do time.

Fatih recebeu com muita liberdade dentro de um buraco que tem se desenhado corriqueiramente no meio-campo. Tinha opção de passe para dois jogadores também desmarcados pela esquerda. Escolheu Abdelkader, que driblou facilmente Varela e Everton Ribeiro antes de tocar com o pé direito para marcar um golaço.

Minutos depois, Percy Tau perdeu chance incrível, mais uma vez com muita liberdade. O lance seguinte, porém, mudou a sorte rubro-negra. Ayrton Lucas, mais uma vez em boa jornada, recebeu de Gabigol após linda jogada de Arrascaeta e avançou. O lateral Abdelfattah derrubou Ayrton Lucas por trás e acabou expulso.

Antes de o Flamengo subir o bloco e enfiar até mesmo volantes entre os defensores rivais, o Al Ahly, já com um a menos, perdeu a chance de matar o jogo em um erro de comunicação tremendo do ataque. Gabigol recebeu na esquerda e tocou um pouco atrás da linha do corpo de Pedro. O camisa 9 não foi na bola, e Varela, que estava próximo, também não. Em contra-ataque frenético, Sherif desperdiçou totalmente livre após mais uma ótima jogada Abdelkader.

Flamengo vive efeito reverso e vira com erros individuais
Com Cebolinha pela direita e Vidal e Thiago Maia subindo bastante, o Flamengo partiu desordenadamente para tentar virar o jogo. Conseguiu em cima de erros do adversário, dois deles bizarros. O empate veio em saída atabalhoada do goleiro El Shenawy. Inteiro no lance, trombou no companheiro Hany e entregou no pé de Pedro.

A virada veio em pênalti, novo erro dos egípcios. Fabrício Bruno descolou bom passe para Pedro, que deixaria Arrascaeta livre. Hany cortou com a mão. Pênalti e mais um gol de Gabigol.

O quarto gol também veio numa lambança. Diego recuou para Pedro fechar o placar. O centroavante foi cirúrgico. Finalizou três vezes e fez dois gols. Terminou como artilheiro do Mundial, com quatro, e já soma nove na temporada, em sete partidas.

Marcado por entregar o ouro nos três jogos importantes de 2023, o Flamengo venceu sem jogar bem e aproveitando-se justamente de um adversário atrapalhado.

Balanço geral dos erros: nove gols em três jogos
Como dito anteriormente, o Flamengo falhou muito na Supercopa do Brasil e no Mundial. Contra o Palmeiras (3 x 4), houve erros de Santos e dois por falta de encaixe na marcação. Diante do Al Hilal, pênaltis infantis foram cometidos e um gol oferecido em erro simples de domínio. Neste sábado, desatenção no jogo aéreo e espaçamento excessivo.

Por mais que existam erros individuais aos montes e gols dados de mão beijada, o sistema de marcação não vem funcionando corretamente, e Vítor Pereira e o elenco têm consciência disso.

O problema de marcação é geral, não é concentrado na defesa. E, como não há encaixe, um hiato se observa na zona central.

Os jogadores estão incomodados com a situação. Verbalizam a necessidade de corrigir o problema, mas também conversam entre si frequentemente, até para tirar o peso da defesa, já que neste momento as críticas geralmente recaem sobre as costas de goleiros e zagueiros.

Gabigol sugere mais posse de bola
Perguntado sobre que leitura tática faz a respeito do desajuste corrente, Gabigol aponta como um dos caminhos para sofrer menos é ter a bola.

A sugestão parece coerente, já que no Mundial o Flamengo empatou em posse com o Al Hilal e teve apenas cinco pontos percentuais a mais do que o Al Ahly, mesmo com o adversário com um a menos durante grande parte do segundo tempo.

- Acho que é como um todo, como ele bem falou, não é só a parte de trás. É também a parte da frente. Dependendo do time que a jogue contra, a gente tem que ajustar melhor isso. Na minha opinião, um jeito de marcar menos é ter mais a bola. Ter a bola, trabalhar de um lado para o outro, como já fizemos em alguns momentos, e vamos poder sofrer menos - disse.

David Luiz cobra repetição
David Luiz evitou detalhamento tático em sua análise, pediu, sim, que o elenco redobre esforços para conseguir o esperado ajuste e impedir o espaçamento que tanto incomoda.

- A gente deve trabalhar para cada vez mais estar com o bloco coeso defensivamente. E entender todos os momentos de jogo da forma que o nosso professor quer que nós joguemos. Isso que temos de fazer. Não é bom. Eu, como zagueiro, não gosto de levar nenhum gol. Nunca é bom quando se leva muitos gols, ainda mais da maneira que foram os últimos. Mas cabe a nós aprendermos com nossos erros e mudarmos isso.

Responsável maior para encaixar as peças e arrumar a cozinha, Vítor Pereira vê o time em um processo para acertar a marcação. Citou o quanto o Flamengo foi atacado no Mundial. Para se ter uma noção, tanto Al Ahly quanto Al Hilal finalizaram mais do que o Flamengo - 11 a 10 e 13 a 10 respectivamente.

- Eu não sou de pensar que quando ganha está tudo bem e que quando perde pensar que está tudo mal. Eu acredito num processo que está a se construir, numa determinada de forma de jogar que está a se construir. Claro que um bocadinho com base naquilo que são as qualidades dos jogadores, mas temos consciência que temos de nos transformar uma equipe mais consistente no processo defensivo. Essencialmente no processo defensivo. Não podemos permitir que o adversário chegue por tantas vezes em nossa área, chegue tantas vezes à linha do fundo, faça tantos cruzamentos dos lados. Então são aspectos que nós, para competirmos por títulos, temos que melhorar.

O dever de casa trazido da Supercopa e do Marrocos está dado. Para não ser reprovado em novas oportunidades de voltar a levantar taças, está montado o intensivão para ajuste da marcação.



Professor e alunos se mobilizam por um trabalho de grupo a fim de fazer a química voltar a acontecer. Nos próximos sete dias, dois testes modestos estão marcados, mas em 21 e 28 de fevereiro novas provas valendo muito esperam os rubro-negros, valendo a Recopa Sul-Americana. É hora de estudar e praticar muito para voltar a tirar nota alta, Flamengo.

Análise, Flamengo, volta, joga, mal