Pumita comemora gol do Vasco contra o Flamengo — Foto: André Durão

O torcedor do Flamengo viveu mais uma frustração neste domingo com a derrota por 1 a 0 para o Vasco, no Maracanã. A inconsistência defensiva parece ter ficado no passado após os últimos jogos, mas o problema é novo: o time finaliza muito, mas pouco cria jogadas trabalhadas e termina as partidas sempre de forma desordenada, tentando as vitórias no abafa.



Outra situação comum aos insucessos contra Del Valle (derrota por 5 a 4 nos pênaltis após vitória sofrida no tempo normal) e Vasco é a queda vertiginosa no segundo tempo dos jogos.


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O primeiro tempo contra o Vasco foi interessante no ponto de vista do volume. O Flamengo teve 61% de posse de bola e sobrou no quesito finalizações: 14 a 3. É bom destacar, porém, que a maioria aconteceu em chutes de fora da área. Numa delas, Arrascaeta carimbou a trave de Léo Jardim.

Jogada bem trabalhada e com oportunidade clara, porém, somente a que Gabriel desperdiçou aos 10 minutos. Vale destacar: uma bela trama, aliás. Vidal desarmou Léo com perfeição, Varela deu passe vertical, e Arrascaeta tirou Miranda da jogada com lindo toque de calcanhar. O camisa 10, sem potência no pé direito, chutou fraquinho.

Chamou atenção a dificuldade que o Flamengo teve pelo lado direito. Ribeiro estava apagado, e Varela, como de costume, errava muito no terço final. Do outro lado, porém, Gerson, Ayrton Lucas e Thiago Maia, este com uma surpreendente participação ofensiva, jogavam bem.

Maia sai: Fla perde em proteção e, aos poucos, em organização
Thiago Maia teve de ser substituído no intervalo por conta de um trauma sofrido no tornozelo esquerdo em dividida com Andrey Santos. Sua saída fez o Flamengo perder defensivamente. No gol do Vasco, aliás, Cebolinha, que entrou muito bem ofensivamente, mostrou não ter cacoete para defender ao tentar travar Pumita Rodríguez, que acertou um lindo chute.

Não teria sido mais interessante colocar Igor Jesus e manter a estrutura? Ou talvez apostar em Léo Pereira, que recuperou-se de lesão? Fato é que o time mudou de característica. Com isso, Ayrton Lucas, que vinha bem no apoio, teve de ficar mais preso.

Logo após a saída de bola veio a última jogada coletiva interessante do Flamengo no jogo. Arrascaeta evitou a saída da bola pela lateral, Cebolinha foi inteligente e cruzou no segundo pau. Everton Ribeiro escorou para o meio, e Gabigol, de puxeta, perdeu na pequena área. Mais uma chance que não se pode desperdiçar.

O preocupante, porém, é que a última combinação bem trabalhada aconteceu aos seis minutos do segundo tempo. A exemplo do ocorrido contra o Del Valle, o time foi perdendo em organização, muito em função também das substituições.

Gabigol, que já vinha saindo muito da área no primeiro tempo talvez pelo hábito de jogar com Pedro, foi deslocado para a ponta em definitivo com a entrada de Matheus França, que entrou para atuar como referência e não foi bem. França entrou junto com Matheuzinho, que substituiu Varela.

Matheuzinho, aliás, mostrou que merece ser titular. É verdade que deixa muitos espaços ainda, mas sobra em eficiência ofensiva em relação a Varela. É mais agudo, chuta em gol, cruza bem e é o lateral do Flamengo que mais deu assistências (21) desde que Léo Moura deixou o clube. Neste domingo, recebeu uma bola pela direita, cortou para fora e chutou de esquerda com relativo perigo.

Sem criar, Vítor Pereira fez mais uma mudança tática. Colocou Matheus Gonçalves no lugar de Vidal. O menino mais uma vez mostrou personalidade, apresentou-se para dribles, mas o Flamengo já estava muito bagunçado e jogando no abafa.

Contra o Del Valle, a salada de meias e atacantes acabou rendendo um chorado gol de Arrascaeta aos 51 minutos do segundo tempo. Diante do Vasco a sorte não foi a mesma.

Aos 30 do segundo tempo, o Flamengo era o seguinte: Santos, Matheuzinho, Fabrício Bruno, David Luiz e Ayrton Lucas; Gerson, Matheus Gonçalves e Arrascaeta; Everton Cebolinha, Gabigol e Matheus França.

O Flamengo voltou a se limitar aos chutes de fora da área, mas a maioria sem perigo efetivo. Somente um de Cebolinha deu trabalho para Léo Jardim.

Exposto, correu risco de tomar gols, e Nenê e Marlon Santos chegaram com liberdade na área, mas pararam em Santos, que fez seu melhor jogo em 2023.

Santos dá resposta positiva
O goleiro, aliás, defendeu um pênalti aos 25 minutos, quando Vidal ainda estava em campo, mas o Flamengo já estava bem bagunçado.

Outro fator interessante de Santos foi a participação na saída de bola e o posicionamento como um líbero para permitir que o Flamengo subisse suas linhas. Deixou sua área algumas vezes e ganhou aplausos de Vítor Pereira. De fato fez uma atuação bem segura.

- Lançamos um desafio ao Santos para jogar mais adiantado. Porque se quisermos pressionar alto precisamos de um goleiro que atue quase como um líbero nas costas da linha defensiva. Isso é um desafio e uma adaptação que ele tem feito e evoluído - disse VP

Resumo do jogo: Flamengo chuta muito, mas cria pouco
O enredo de Flamengo 0x1 Vasco foi muito semelhante ao jogo com o Del Valle. O time sofreu pouco defensivamente - o rival finalizou apenas nove vezes -, mas mostrou grande dificuldade para fazer as tabelas saírem.



Das 28 finalizações, 10 foram para fora. O discurso do time segue alinhado: "trabalhar mais, falar menos". O mantra do momento, porém, deveria ser outro: criar mais. Um time com o poderio técnico do Flamengo não pode viver do chuveirinho praticado contra o Del Valle ou do bombardeio de chutes de longe contra o Vasco. É preciso mais imaginação para voltar a ser Flamengo.