20/11/2013 14:04
Orgulho da mãe, André Santos passa a limpo história no Fla pelo filho Arthur
Lateral revela ter cumprido profecia feita ainda na base do Figueirense, mas passagem frustrante pela Gávea seguia incomodando: ‘Todo mundo falava’
Quando o telefone tocou com uma proposta do Flamengo, André Santos fez uma viagem no tempo. Sem espaço no Arsenal, o futuro estava indefinido, mas existia uma certeza: tinha cumprido todas as metas traçadas no início da carreira. Mais do que isso, já era o orgulho da mãe, Maria Iraci, que carrega na carteira um “check list” completo e escrito pelo próprio lateral, ainda na adolescência. O questionamento foi imediato: valia a pena se arriscar novamente no clube onde viveu o pior momento da carreira? E o “sim” está diretamente ligado à continuidade de um ciclo familiar: despertar no pequeno Arthur, de dois anos, o mesmo sentimento que faz a mãe exibir orgulhosa em Florianópolis o papelzinho amassado assinado pela então promessa do Figueirense.
Desde que voltou, são 25 partidas e três gols. A alternância entre o meio-campo e a lateral prolongou o processo de conquista do torcedor rubro-negro, mas é inegável que em quatro meses o camisa 27 já fez mais do que entre 2005 e 2006 (44 jogos e um gol). De volta à sua posição de origem, tem formado com Paulinho um setor esquerdo determinante na campanha da Copa do Brasil. Apenas um início para quem fez questão de passar a limpo uma história mal escrita na Gávea.
- Todo mundo me falava: “Poxa, você foi muito bem no Corinthians, no Figueirense, foi campeão no Atlético-MG, passou por Arsenal, Fenerbahçe, mas no Flamengo não foi bem” (...) Tudo aquilo que eu quis, eu consegui. Foram metas que tracei e alcancei. Quando meu empresário me ligou para falar do Flamengo, pensei: se me convidaram, minha passagem pode não ter sido boa, mas as portas ficaram abertas. Balancei, sim. Pensei se estava disposto a mais um desafio, a suportar tanta pressão e quis encarar. Tinha uma proposta dos EUA, mas neguei. O meu momento era de ter esse desafio no Flamengo. Quero jogar, fazer gols e ganhar títulos.
Jogar, André Santos já joga. É titular absoluto de Jayme de Almeida. Gols também já marcou. A terceira parte da profecia, como aquela que Dona Maria Iraci leva na carteira, pode ser alcançada dia 27, no Maracanã, contra o Atlético-PR. E justamente em uma competição onde o lateral chegou na final nas últimas cinco vezes que disputou: a Copa do Brasil.
Antes da decisão, que começa nesta quarta, em Curitiba, porém, o camisa 27 recebeu o GLOBOESPORTE.COM para longo bate-papo onde admitiu os erros na primeira passagem pela Gávea, prometeu um 2014 melhor em termos individuais, falou de sonhos e frustrações com a Seleção e admitiu: o surpreendente e traumático pedido de demissão de Mano Menezes foi determinante para acordar o elenco e salvar a temporada. Confira na íntegra:
Você está indo para sua quarta decisão da Copa do Brasil de forma consecutiva jogando, sem contar 2006, quando fez parte do elenco do Fla. Podemos dizer que é o “Mister Copa do Brasil”?
É uma competição onde tive bastante sorte no decorrer da minha carreira. Fico muito feliz por esse histórico. Seria a quinta, mas não cheguei até a final com o Flamengo em 2006. Até agradeço a diretoria por ter me enviado faixa, medalha... Foi algo muito importante.
Daquela campanha de 2006, você tem quais recordações? Lembra de ter sido relacionado para algum jogo?
Lembro de ter participado de alguns jogos, acho que contra o Ipatinga, na semifinal (NR: não entrou em campo). Faz muito tempo, acabamos esquecendo. Fui relacionado para outros jogos. Mas a maior parte que joguei pelo Flamengo foi com o Joel Santana (em 2005).
A mudança de postura do Flamengo da maior parte da temporada para o atual, que chegou à decisão da Copa do Brasil, é muito grande. O que aconteceu para transformar um time sem confiança, com atuações de regulares para ruins?
Um ponto positivo é a autoconfiança do grupo. Depois de acontecer o distúrbio pela saída do Mano, muita gente questionando a equipe, jogadores, diretoria... Nós, jogadores, nos reunimos com a comissão técnica e dirigentes para conversar. Era um momento onde todos estavam batendo muito, criticando, e ali nos fortalecemos. Passamos a nos dedicar mais, nos entregar mais e confiar mais uns nos outros. Foi algo importante. A partir do momento da saída do Mano, o Jayme assumiu e nós falamos: “Daqui para frente temos que nos unir e trabalhar, nos apegar mais do que nunca, ser amigos fora de campo, e mudar a situação”. Todos entenderam muito bem e a virada aconteceu pela luta e entrega.
Por que isso não aconteceu com o Mano?
É até difícil de explicar. Digo a minha opinião, até porque o Mano é muito coerente, vencedor, uma excelente pessoa, me deu uma oportunidade na Seleção e aprendi muito no Corinthians. Sou grato a ele, mas às vezes se contrata um grande profissional e as coisas não dão certo. Acabou não dando certo o trabalho.
Quando você fala em se unir, se dedicar mais, é algo que vem muito também da forma como tudo aconteceu? Com o Mano ignorando o pedido de vocês para que ficasse, dizendo que o elenco não conseguia assimilar o que pedia...
Com certeza. Até porque, queríamos que ele ficasse. Tentamos de tudo para viver esse momento com o Mano, estar bem. A partir do momento da saída, conversamos e decidimos dar uma resposta a nós mesmos. Não para torcedor, para imprensa, mas para nós mesmos. São jogadores qualificados, que jogaram em grandes clubes e precisam dessa resposta. Essa subida foi muito boa porque confiamos em nós mesmos. Foi algo importante nessa reviravolta.
A troca te fez mudar de posição também. Parecia que o Mano não estava muito disposto a te escalar na lateral e agora você tem rendido em sua posição. A chegada do Jayme foi importante para isso?
Foi positivo, sim. Quando cheguei ao Flamengo, o Mano sabia que há muito tempo não fazia uma pré-temporada junto com o grupo. Faz um ano e meio, desde quando fui para China com o Arsenal. No Grêmio, não fiz pré-temporada, no Arsenal estava voltando de lesão e vim para o Flamengo também sem participar. É difícil para qualquer atleta suportar o calendário com muitos jogos e viagens, mas muitas pessoas não sabem. Vem a crítica, a cobrança. Todos querem uma resposta rápida quando contratam um jogador. Por isso, meu discurso quando cheguei era de ajudar, disposto a jogar no meio ou na lateral, mas realmente não estou na minha excelente forma. Ano que vem, vou voltar muito melhor, fazendo um ótima pré-temporada com o grupo, com tempo para recuperação, para trabalhar tecnicamente, fisicamente, acredito que vou ficar muito melhor. Busquei o meu máximo nos jogos e nos 15 dias que tive para trabalhar para estreia. Depois, quase não fiquei fora, jogando 90 minutos. Queriam me usar de uma maneira que eu rendesse um pouco mais, mas minha posição natural realmente é a lateral esquerda. Sempre me dei bem ali e cheguei na Seleção Brasileira. É onde eu rendo, gosto de jogar, pego a bola de frente. Com a chegada do Jayme, realmente o resultado foi positivo.
Agora, você já se sente bem para sentir todo o desgaste de jogar na lateral?
Me sinto muito melhor do que um mês e meio atrás. Jogando com o Paulinho ali (na esquerda) estou bem. Ele me ajuda na marcação, eu o ajudo no ataque, e fazemos essa ligação muito boa. Nesta reta final, estou bem melhor.
Por onde passou, você sempre foi um lateral que fez gols. No Flamengo, só marcou jogando no meio...
Está faltando, né? (risos). Quem sabe chega na final? Fiz pelo Corinthians na decisão da Copa do Brasil (2009). Quem sabe Deus não tem uma coisa muito boa reservada para eu desencantar? Fico feliz porque a função do lateral é marcar e dar assistências. Tenho feito isso. É o que me deixa satisfeito.
Você saiu do Figueirense e veio para o Flamengo em 2005 em um momento complicado para o clube, além de ser muito jovem. Depois, saiu e foi bem no Corinthians, Seleção, Europa... Na sua opinião, existia essa dívida com o Flamengo? Você se devia isso?
Esse era o meu maior desejo (pagar essa dívida). Todo mundo me falava: “Poxa, você foi muito bem no Corinthians, no Figueirense, foi campeão no Atlético-MG, passou por Arsenal, Fenerbahçe, mas no Flamengo não foi bem”. Volto, penso e não me arrependo. Foi um grande momento de aprendizado. Saí do Figueirense, um time que me deu tudo, me mostrou para o cenário brasileiro, mas vir para o Flamengo é um passo muito grande. Ainda mais quando se tem 22, 23 anos. Sua cabeça dá um giro. Um dia você está ganhando R$ 2 mil, no outro R$ 10 mil, por exemplo. Muda muita coisa. Precisei amadurecer muito rápido. Não estava totalmente focado naquela passagem. Acabou não dando certo. Tinha esse sentimento que deveria voltar para ganhar um título, para jogar, para mostrar ao torcedor que tenho plenas condições de jogar, ser titular e campeão.
Quando a diretoria te liga, vem na sua cabeça aquela necessidade de passar a história no Flamengo a limpo e apagar qualquer “porém” na sua carreira?
Pesou. Minha vida sempre foi feita de desafios e conquistei tudo que quis. Minha mãe anda com um papel na carteira da época que eu era do juniores do Figueirense. O time não era campeão há 17 anos e nós fomos campeões. Na noite anterior a final, o psicólogo nos deu um papel e mandou escrever qual seriam nossas metas na vida, o que queríamos no futebol. Escrevi: quero ser campeão no Figueirense, jogar em um clube de ponta, como Corinthians e Flamengo, chegar na Seleção e jogar em um grande clube da Europa. Hoje, minha mãe lê isso chorando. Tudo aquilo que eu quis, eu consegui. Foram metas que tracei e alcancei. Quando meu empresário me ligou para falar do Flamengo, pensei: se me convidaram, minha passagem pode não ter sido boa, mas as portas ficaram abertas. Balancei, sim. Pensei se estava disposto a mais um desafio, a suportar tanta pressão e quis encarar. Tinha uma proposta dos EUA, mas neguei. O meu momento era de ter esse desafio no Flamengo. Quero ser campeão, fazer gols e ganhar títulos.
Sua mãe sempre foi sua maior incentivadora?
Meus pais. Minha mãe é uma guerreirona, que sempre me apoiou, mesmo nos momentos mais difíceis. Estudava de manhã, treinava à tarde, trabalhava em uma pizzaria de noite e ela sempre me incentivou. Graças a ela e meu pai, mais a ela, pude dar essa volta por cima e me tornar um atleta bem sucedido.
Por toda essa sua relação com seus pais, o nascimento do seu filho também foi determinante para que você recusasse um mercado menor e se arriscasse de novo no Flamengo?
Com certeza é algo que marca muito. Ele é uma das pessoas que mais me incentiva. O Arthur, minha esposa Suellen... Chego em casa e é um satisfação vê-lo. Minha esposa manda vídeos dele vendo o jogo inteiro. Uma criança com dois anos parar e ver um jogo completo é quase impossível. E todo jogo ele senta lá, quer colocar a camisa e fica na frente da televisão falando: “Papai, papai. Gol!”. No Maracanã, chega a tremer quando entra comigo. Fica maluco, fascinado quando vê uma bola. Querer provar para mim e meu filho o quanto quero vencer novamente é uma conquista. Depois que ele nasceu, ainda não foi campeão. Se Deus quiser, agora vai marcar e o Arthur vai estar na foto do título.
Queria que você falasse um pouco dessa química que foi criada entre Flamengo e torcedor no Maracanã. Como o elenco tem recebido isso?
Essa relação é muito próxima e grande. Não é de agora. Em 2006, joguei vários clássicos, inclusive contra o Romário, no Vasco, e o Maracanã estava sempre lindo com a torcida do Flamengo. Lembro de muitas cenas com o Júnior Baiano cantando músicas, e era de arrepiar. Ficava pensando: “Que torcida maravilhosa, apaixonante”. Vejo isso muito próximo de novo. É uma torcida com carisma, entrega, raça, dedicação, independentemente de qualquer coisa. Contra o Goiás (na semifinal), você vê: tempo chuvoso e 56 mil pessoas. É algo de arrepiar. Sentimos essa emoção dentro de campo, vendo a torcida pulando e incentivando mesmo debaixo de chuva. Não tem como não sentir a adrenalina.
Você falou que ano que vem vai chegar melhor. Vão faltar praticamente seis meses para Copa, o Felipão já te convocou... Acha que é possível?
Muitas coisas podem acontecer. Nós, que vivemos o futebol, sabemos que as coisas acontecem até um dia antes da convocação. O Flamengo é muito próximo da Seleção. Se estiver bem tecnicamente, com uma boa sequência no clube, por que não? Penso (em voltar). Disputar uma Copa do Mundo no país seria um orgulho para qualquer brasileiro. O Felipão já me chamou, sou grato, e estar na Seleção sempre foi muito prazeroso. Não tem prazer maior do que ser campeão com essa camisa. Se tiver a oportunidade, vai ser algo único. Sigo trabalhando com o foco neste objetivo. Se não der, o país terá mais um torcedor.
Em 2010, você viveu o outro lado. Muitos imaginavam que o Dunga te convocaria e não aconteceu. Foi a maior frustração da sua carreira?
Não uma frustração, mas talvez não era o meu momento. Não guardo mágoa ou rancor. Já estive com Dunga várias vezes, jogamos o jogo do Messi e já conversamos muito. No futebol, não dá para guardar mágoas. É um ciclo, o mundo gira, amanhã vamos encontrar o cara em um outro clube. O Mano não me convocou mais depois do jogo contra a Alemanha pela Seleção e depois me contratou para o Flamengo. Se não aconteceu no momento, algum problema aconteceu.
Mas você ficou mal?
Com certeza. Mal comigo mesmo. No meu currículo, com tudo que conquistei, ter uma Copa do Mundo seria muito satisfatório. Fiquei triste, cabisbaixo por um bom tempo.
Falando um pouco dessa final da Copa do Brasil, como controlar a ansiedade e dividir a responsabilidade? Por mais que o Atlético-PR venha em uma grande temporada, a pressão acaba sendo maior para o Flamengo.
É até difícil colocar isso. Podem achar que há uma distância grande (entre os clubes), mas acho que não. O Atlético-PR não jogou o Estadual, está menos cansado; tem um excelente treinador, que é o Mancini, joguei com ele, foi campeão com o Paulista sobre o Fluminense... São pontos positivos para eles. O Flamengo não vinha tão bem, era um ano perdido e conseguiu reverter. Então, não é tão difícil colocar na cabeça (do elenco) para mostrar que éramos desacreditados e não podemos deixar passar esta oportunidade. Sabemos o quanto foi difícil chegar aqui, praticamente livrar o Flamengo do rebaixamento... Esse diálogo com os mais jovens é importante para fazer com que entendam o que é o Flamengo.
Até porque, se perder voltam todos os questionamentos...
Sem dúvida. No Flamengo é assim, tem que provar sempre. Tem que sempre jogar bem, estar entre os líderes, e Flamengo é isso. Pela grandeza do clube, tem que sempre brigar ali. Vamos entrar em campo dessa forma, nos dedicar para ganhar o título. Senão, não vai valer nada o que fizemos até agora. Se formos campeões, todos vão lembrar da reviravolta, da campanha, e isso que tem que estar na cabeça do atleta.
1860 visitas - Fonte: Globo Esporte
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