Crédito: Divulgação/ Al-Merreikh

O técnico Heron Ferreira construiu boa parte de sua carreira no futebol internacional. Ao todo, são 40 anos de experiência no futebol somando trabalhos no Paraguai, Arábia Saudita, Egito, Catar, Líbia e Sudão onde está na sua terceira passagem.

Antes de empilhar taças no exterior, Heron Ferreira foi auxiliar técnico de Vanderlei Luxemburgo em três oportunidades: no Bragantino em 1989, Flamengo em 1990 e Corinthians em 2001. A experiência foi determinante para lhe abrir portas no mercado da bola.

Atualmente, Heron Ferreira é técnico do Al-Merreikh, do Sudão. Ele foi contratado em janeiro para comandar o clube na Liga dos Campeões da África. No entanto, o clube pode ser eliminado da competição pela Confederação Africana de Futebol (CAF).

Isso porque, o Sudão está à beira de uma guerra civil. O general Mohamed Hamdan Dagalo, líder das Forças Armadas Sudaneseas (SAF), e general Abdel Fattah al-Burhan, conhecido como Hemedi, chefe das Forças de Apoio Rápido (RSF) paramilitares vivem uma relação tensa.

Os dois atuaram juntos e realizaram um golpe de estado no passado. Agora, eles duelam para ficar com o comando do Sudão. Por causa disso, a capital do Sudão, Cartum, tem sua rotina mudada por causa do medo e incerteza em meio à troca de balas, foguetes e explosões.

“Estamos vivendo uma situação bastante delicada. Estamos dentro de casa e tem segurança no nosso prédio temos, mas numa situação de guerra não temos como assegurar nossa integridade física. Os conflitos estão bem perto daqui aonde estou e é possível ouvir os tiros. Então realmente é uma situação de muito cuidado e atenção. Não tem sido fácil”, revelou Heron Ferreira em entrevista ao canal “OurSports”, no YouTube.

Desde o início do conflito, Heron Ferreira vem pedindo ajuda ao governo brasileiro para conseguir deixar o Sudão. O diplomata Sérgio Eugênio de Risios Bath, embaixador do Brasil na Arábia Saudita, negocia com o governo sudanês a retirada dos profissionais de Cartum.

“O contato com o Itamaraty já foi feito e o embaixador está na Arábia Saudita. Ele falou com o meu assistente e disse que não tinha nenhuma previsão de retirada dos brasileiros daqui do Sudão. Então a situação é desesperadora, já que não existe nenhum plano de saída daqui. Dizem apenas para aguardar”, disse Heron Ferreira, que destacou também a dificuldade com alimentação:

“Até o momento temos comida e água, mas os mercados já estão com dificuldades. Ao lado de onde moro tem um mercado pequeno aonde as coisas já estão acabando. Então não tenho como dizer quanto tempo vamos resistir assim”, revelou o treinador.

Apesar das dificuldades, Heron Ferreira disse ainda que é possível manter contato com amigos e familiares no Brasil. Além disso, também é possível se atualizar das notícias sobre a guerra no Sudão. O treinador também destacou a quantidade de brasileiros no futebol do país.

“A nossa comunicação em nenhum momento foi cortada. Temos internet e telefone e podemos falar com nossos familiares no Brasil. Eu moro em um prédio com o nosso fisioterapeuta, aonde dividimos um apartamento. Outros membros da comissão técnica estão em outro apartamento. Estamos no aguardo para sair daqui”, disse o treinador do Al-Merreikh antes de finalizar:

“O campeonato foi parado e não temos previsão de volta. O que queremos agora é sair daqui para poder voltar ao nosso país. Estávamos trabalhando e é muito importante o nosso governo tomar uma providência”.