Número de Torcidas LGBTQIAP+ aumenta, mas poucas são vistas nos estádios

11/6/2023 12:23

Número de Torcidas LGBTQIAP+ aumenta, mas poucas são vistas nos estádios

Número de Torcidas LGBTQIAP+ aumenta, mas poucas são vistas nos estádios
Integrantes do movimento Palmeiras Livre na final do Paulistão Feminino de 2022 Imagem: Pri Fiotti/Ag. Paulistão/Centauro

"Já sofri ameaça no estádio. Disseram para mim que o Barradão não era lugar de "viado"". O depoimento é do torcedor do Vitória-BA Roberto Júnior, presidente da Orgulho Rubro Negro. O relato abre caminho para entendermos o movimento que marca as torcidas e coletivos LGBTQIAP+ no Brasil atualmente.

A quantidade desses grupos aumenta constantemente nas redes sociais. Porém, eles quase não são notados nos estádios. Seus integrantes estão lá, mas, na maioria das vezes, de maneira disfarçada, fingindo ser quem não são. Eles se sentem inseguros por causa da LGBTfobia que reina no ambiente futebolístico.

Em 2019, o coletivo de torcidas Canarinhos LGBTQ+, que reúne esses grupos e combate a LGBTfobia, foi criado com quatro filiados. Hoje ele conta com 22 torcidas de 21 times. Todas têm como foco principal combater a LGBTfobia. Levantamento feito pelo Canarinhos após ser procurado pela reportagem indica que apenas quatro consideram que vão de forma organizada aos estádios.

"A gente faz parte de uma parcela da sociedade que sofre inúmeras violências dentro do ambiente do futebol. Não é tão simples para gente ir organizado ao estádio", disse Onã Rudá Silva Cavalcanti, 33, fundador da Canarinhos e da Torcida LGBT Tricolor (Bahia).

De doze representantes de onze torcidas LGBT ouvidos pela reportagem, oito já sofreram ameaças ou foram hostilizados pela internet ou no estádio ou conhecem outros integrantes que passaram por isso. Dessas onze torcidas, três afirmaram que têm (uma começou a ter) o hábito de ir aos estádios com artigos que as identificam.

Ir para o jogo com casacos e camisas da torcida é colocar um alvo nas nossas costas. Para ter um jogo tranquilo, a gente prefere evitar

Higor Juan Bernardino, fundador da Furacão LGBT

Torcida sem rosto

Três dos entrevistados pediram para não terem seus nomes divulgados. Dois dos torcedores preferiram ser apresentados sem o seu sobrenome. Essa preocupação se reflete nos estádios, onde as torcidas LBTQIAP+ preferem não chamar atenção.

Entre as que não costumam se identificar nos estádios e falaram com a reportagem estão Fiel LGBT (Corinthians), Orgulho Rubro-Negro (Vitória-BA), Porcoíris (Palmeiras), Marias de Minas (Cruzeiro), Tricolor LGBT (do São Paulo) e Tigrão LGBT (Vila Nova-GO), além da Furacão LGBT.

A gente não se identifica no estádio por medo. Já cheguei a vestir a camisa do coletivo para ir com ela por baixo da do Corinthians e usar no metrô, mas desisti

Railson, da Fiel LGBT

"A Vasco LGBTQIAP+ não é uma torcida organizada, somos um coletivo LGBT que combate à homofobia no futebol e oferece apoio ao torcedor LGBT para que ele se sinta mais seguro de acompanhar seu time do coração. Então, não temos uniformes. Usamos nossas camisas do Vasco, especialmente as LGBTs que o marketing do Vasco já lançou", disse Beatriz Abreu, 30, cofundadora da Vasco LGBTQIAP+.

Sentimentos escondidos

Imagine você não poder beijar sua namorada ou seu namorado no estádio por ter medo de ser agredido mesmo estando no meio da torcida do seu time. É o que acontece com muitos dos membros de torcidas LGBTQIAP+.

"No máximo de mãos dadas [com o namorado], mas olhando para os lados. É muito doido pensar que o simples fato de eu ir com o meu namorado ao estádio, de eu beijar o meu namorado, incomoda outras pessoas por questões culturais", afirmou Júnior, da Orgulho Rubro Negro.

A gente não pode ser a gente mesmo no estádio. A gente tem que vestir uma carcaça, uma fantasia

Higor Juan Bernardino, da Furacão LGBT

Não temos a intenção de ser uma torcida organizada. Só queremos poder torcer para o Palmeiras na santa paz de Deus

Carlos, da Porcoíris

Relato de um trauma

"Em 2019, o Cruzeiro estava naquela situação de poder ser rebaixado. Eu estava torcendo no estádio. Estava tão nervoso que meu namorado me abraçou. E, no que ele me abraçou, tiraram uma foto, fizeram um vídeo nosso. Dois dias depois, nas redes sociais, começaram a compartilhar esse vídeo e essa foto, com ameaças, com tom de chacota. Recebi inúmeras ameaças de morte, de agressão física.

Galera falando que a gente não podia mais ir ao estádio porque aquilo não era aceitável. A situação foi inflando, mas a gente conseguiu dar uma revertida quando a gente postou essa foto e esse vídeo como uma declaração de amor. O primeiro sentimento é sempre o de medo. A gente registrou o boletim de ocorrência em 2019, mas até hoje nada foi resolvido.

A gente ficou um mês sem ir no Mineirão. Quando a gente viu que as coisas estavam amenizando, a gente falou assim: "vamos voltar para o estádio". E foi péssimo, porque deu confusão no jogo, e o trauma que a gente teve, a gente pensou: "alguém vai ver alguma coisa da gente, alguém vai vir para cima da gente". Então, eu tive crise de pânico. O pessoal do Mineirão levou a gente para uma área reservada. Depois disso, a gente só conseguiu voltar para o estádio dentro de um camarote, a convite do Mineirão. E foi assim por muitos anos".

Depoimento de Yuri Senna, 28, fundador e presidente da torcida LGBTQIA+ Marias de Minas e cofundador da Canarinhos.

Mostrando a cara

Entre os coletivos ouvidos, LGBT Tricolor e Palmeiras Livre relataram que vão com frequência aos jogos com artigos que os identificam. "Aqui nos sentimos seguros. É um direito de todo mundo torcer. Esse sentimento ganhou espaço no Bahia", analisou Cavalcanti, do coletivo LGBT Tricolor.

O Palmeiras Livre leva sua bandeira para os jogos do time feminino faz cerca de cinco anos. Nas partidas da equipe masculina, a presença é discreta, com integrantes usando bonés do coletivo.

"A gente se sente mais seguro no feminino por causa do público, que não é o mesmo dos jogos do masculino. Tem mais diversidade nos jogos do feminino. As pessoas LGBTs se sentem mais seguras para expor a sua sexualidade nesses jogos por causa do ambiente machista que impera no futebol masculino, essa masculinidade que a todo momento precisa ser provada, muitas vezes de maneira misógina, violenta", disse Thaís Nozue, 39, cofundadora do Palmeiras Livre. O coletivo palmeirense estará presente neste domingo (11) no Trio BI+ na Parada do Orgulho LGBT+ em São Paulo.

Por sua vez, a Vozão Pride começou a ir aos jogos do Ceará com pequenas faixas que cada membro abre nas arquibancadas. "A gente vai começar a levar essas faixas em todos os jogos, até que a gente esteja regularizado em cartório. Aí a gente pretende levar faixas maiores", explicou Ana Monteiro, 25, da Vozão Pride.

Novo raio X das torcidas LGBTQIA+

A reportagem teve acesso ao novo levantamento feito pela Canarinhos sobre coletivos e torcidas LGBTQIA+ que será publicado no site do coletivo nacional neste domingo (11). Cada torcida foi indagada se elas vão aos estádios de forma organizada. Apenas Coral Pride (Santa Cruz), LGBT Tricolor (Bahia), Palmeiras Livre e Sport Recife LGBTQ responderam que sim.

O trabalho também mostra, entre outros dados, quantos membros cada torcida afirma ter. Confira:

Coletivo Fora da Toca (América-MG) - 24

Coral Pride - 7

Coxa LGBT+ (Coritiba) - 18

Fiel LGBT - 3

Fla Gay - 5

Frasqueira LGBT (ABC-RN) - 5

Furacão LGBT (Athletico) - 102

Leões Com Orgulho (Remo) - 10

LGBT Tricolor (Bahia) - cerca de 600

Marias de Minas (Cruzeiro) - 124

Orgulho Rubro Nergro (Vitória-BA) - 82

Palmeiras Livre - 10 administradores e 100 associados

Papão Livre (Paysandu) - 25

Porcoíris - 7

Santos Pride - 1

Sport Recife LGBTQ - 1

Tigrão LGBT (Vila Nova-GO) - 1

Torcida LGBTQIAP do Botafogo - 20

Vasco LGBT - 100

Vozão Pride (Ceará) - cerca de 50

411 visitas - Fonte: UOL


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