Leopoldo de Souza, o Zequinha, não entrará em campo nesta quarta-feira na decisão da Copa do Brasil, contra o Flamengo, às 21h50 (de Brasília).

Será pelo massagista, no entanto, que Manoel procurará assim que pôr os pés nos vestiários do Maracanã e der início ao seu ritual de todas as partidas: colocar o fone de ouvido no máximo ao som de "Nego Drama", dos Racionais MC's, e beber o seu energético, conforme pede sempre.

"Tem um trecho dos Racionais que fala que ‘hoje eu estou num carrão bom, mas ninguém dava nada por mim antes'. Todo jogo que eu vou jogar, antes de entrar em campo, ouço isso. Acredito que mexe comigo", afirma o zagueiro do Atlético-PR.

Mais do que estimulá-lo após o empate em 1 a 1 no confronto de ida, a música recorda o defensor de sua caminhada. Nascido em Bacabal, no interior do Maranhão, ele se diz hoje mais paranaense. Desde 2006 no CT do Caju, chegará ao seu jogo de número 252 nesta noite diante do rubro-negro carioca. O mesmo adversário coincidentemente de sua estreia profissional em maio de 2009. A seguir assim, terá tudo para se tornar o recordista de partidas na história do clube a partir da próxima temporada, com 24 anos.

Manoel não passa despercebido em Curitiba. Não haveria como. Mas para aqueles que ainda ficavam na dúvida em torno de sua presença, costumava facilitar até meses atrás: andava pelas ruas com um modelo preto de uma Tucson com um ‘M' confeccionado no lugar do símbolo da montadora Hyundai.

"Olha o carro do Manoel passando", diziam.

Com sete anos na Arena da Baixada, o zagueiro se transformou ao longo do tempo em um nome mais do que comum no mercado. É como se a cada recusa de oferta crescesse o interesse por seu talento. Somente nas últimas janelas, foram propostas de São Paulo, Corinthians e Inter. O fascínio por seu futebol é tamanho que, durante a Copa do Brasil, surgiu até mesmo uma campanha por sua convocação para a seleção.

A princípio, encabeçada pelo veterano Paulo Baier, um de seus mentores, de quem recebe conselhos sobre investimentos financeiros e com quem compartilha empresário, Neco Cirne. E em seguida disseminada entre todos os torcedores atleticanos.

De certa forma, se Manoel segue nos gramados, tem um pouco a ver com o sonho de entrar no radar do técnico Luiz Felipe Scolari.

"No momento em que pensei em largar tudo, foi quando perdi meu pai com 21 anos, fez dois no mês passado. Eu queria abandonar e minha mãe respondeu: ‘mas o seu sonho é ser jogador de futebol e chegar na seleção'. Porque eu tinha prometido para o meu pai que ia ser convocado um dia. E ela pegou e falou: ‘você não prometeu que ia chegar na seleção para ele e vai desistir agora?'", conta.

Manoel não desistiu.

Para continuar sonhando, supera a perda na família, o medo de voar - costuma fazer todas as viagens entre Curitiba e Bacabal, no fim do ano, de carro - e ainda as insistentes suspeitas de ter tido a sua idade adulterada.

"Sério, os caras me chamam de ‘gato'! Falam que eu sou muito experiente jogando e que já tenho 200 jogos com o Atlético-PR. Mas desde que eu subi com 19 anos, atuo em todas as partidas e não saio do time. E o pessoal falando você é ‘gato'! Mas eu não sou, não, é o meu jeito, carinha de menino novinho", se diverte.

Nesta quarta-feira, acompanhado pelos Racionais MC's e pelo energético em seu ritual nos vestiários, ele se prepara para construir mais um capítulo em sua carreira.

"Eu nunca fui campeão pelo Atlético-PR de um título grande assim, uma Copa do Brasil que todo mundo quer ser, então, queremos fazer história", afirma.

Como diz a tatuagem que carrega nas costas, conhecendo o mundo, mas não esquecendo do quintal de sua casa.