Análise: Flamengo é combativo e contundente mesmo com poucas finalizações; vitória distribui moral

2/7/2023 04:30

Análise: Flamengo é combativo e contundente mesmo com poucas finalizações; vitória distribui moral

Gabigol se iguala como sétimo maior artilheiro do clube, Cunha pega primeiro pênalti como profissional, marcadores crescem, Pedro cresce em nova função, e jogo de BH flui

Análise: Flamengo é combativo e contundente mesmo com poucas finalizações; vitória distribui moral
Alexandre Loureiro/Getty Images

"Creio que o time está melhor apurado agora, tem mais tempo de escolher a última jogada. Se faz muito mais contundente por essa tranquilidade no último terço".

Essa foi a definição de Jorge Sampaoli para um Flamengo que tem precisado de poucos chutes e cabeçadas para fazer gols e vencer os jogos. Com 10 finalizações, mesmo número apresentado nos 3 a 2 sobre o Santos no domingo passado, os rubro-negros venceram por 2 a 0 o Fortaleza neste sábado, no Maracanã.

A evolução nos aspectos tático, técnico e físico é visível. Triangulações apareceram no início do jogo, com direito a corta-luz de Arrascaeta, letra de Gabigol e constantes e perigosas infiltrações de Gerson pelo lado esquerdo. No segundo tempo, o mesmo aconteceu com Bruno Henrique e Pedro participando o tempo todo das tramas protagonizadas por Arrasca e pelo Coringa.

Os primeiros minutos foram de amplo domínio, com o Flamengo girando a bola e sempre presente no campo adversário. Momento de instabilidade, porém, veio por falta dentro da área cometida sem necessidade por Thiago Maia logo aos oito minutos. Matheus Cunha cresceu e pegou seu primeiro pênalti no futebol profissional.

Para rechaçar qualquer tipo de intranquilidade, o Flamengo empatou em jogada de um time que sabe escolher melhor suas os momentos e é diferente da equipe que era no início do trabalho de Sampaoli, quando arrematava muito e aproveitava pouco. Arrascaeta girou num drible de corpo e tinha a opção de passe simples para Everton Ribeiro, que estava próximo e invadindo a área.

Preferiu a genialidade que o caracteriza e lançou de três dedos para Gabigol finalizar com perfeição. Golaço.

Os 10 minutos finais do primeiro tempo mostraram um Flamengo que rompeu com a tranquilidade predominante nos outros 80. Acuou-se, precipitou passes e mostrou dificuldade para sair. Àquela altura, parecia com menos um porque Gabigol havia torcido o tornozelo direito e já não recompunha mais com a mesma energia. Também não tabelava como no bom início que fez. Ficou em campo pela vontade de ajudar e também evitou que o treinador queimasse mais uma pausa - Léo Pereira fora substituído aos 30.

Apesar do pequeno sufoco provocado por chuveirinho do Fortaleza, safou-se o Flamengo. Foi para o intervalo com apenas três finalizações, mas as outras duas além do gol também vieram de jogadas trabalhadas com participações de Thiago Maia, Gerson e Arrascaeta, os finalizadores.

Sampaoli mexe no intervalo, e time cresce

Gabigol não pôde voltar, e Everton Ribeiro fazia partida discreta. Atento a isso, Sampaoli pôs em campo Pedro e Bruno Henrique. O time logo cresceu e, em 18 minutos, igualaria o mesmo número de finalizações do primeiro tempo e chegava a seis no total.

Foi justamente no terceiro chute da etapa final, exatamente aos 18, que o Flamengo fechou o placar. Mais uma vez um lance de tranquilidade e de quem está enxergando melhor as opções.

Fabrício Bruno aproveitou erro de passe da defesa do Fortaleza e, enquanto corria para trás a fim de recuperar a posse, olhava para frente. Tinha opções simples para tocar de lado: Pulgar e Thiago Maia mais próximos, além de David Luiz no círculo central. Preferiu esticar no ponto onde havia mirado. Enxergou Gerson livre e por ali verticalizou o jogo.

Gerson também encontrou o companheiro mais desmarcado e deu a Maia. O volante esperou Ayrton passar e tocou. O lateral, que vinha mal no primeiro tempo, explorou sua melhor característica, foi ao fundo e cruzou. A bola sobrou, e Arrascaeta marcou num chute de raiva. Raiva que contrasta com a tranquilidade para definir e que inflamou um Maracanã com quase 65 mil presentes.

Arrascaeta Flamengo Fortaleza Maracanã — Foto: Alexandre Loureiro/Getty Images

Arrascaeta Flamengo Fortaleza Maracanã — Foto: Alexandre Loureiro/Getty Images

Thiago Maia, que fora mal no primeiro tempo, cresceu e ajudou o time a crescer na segunda etapa. Tornou-se símbolo de um time combativo. Mesmo com 60% de posse de bola e mais passes trocados (462 a 287), o Flamengo desarmou mais do que o Fortaleza (19 a 14). Além disso, ajudou na construção ofensiva numa noite em que Pulgar, dos grandes destaques do time de Sampaoli, não esteve em seu melhor nível.

O chileno, aliás, é desfalque certo para o jogo contra o Palmeiras, no próximo sábado, em São Paulo.

Moral distribuída a peças de todos os setores

Além do primeiro pênalti defendido na carreira, Matheus Cunha foi figura que encheu de segurança o setor defensivo e o Maracanã. Encaixou bolas, escolheu o tempo certo para sair jogando com os pés - exceção foi um lançamento longo para Arrascaeta quando tinha uma série de opções - e mostrou a Agustín Rossi, anunciado neste sábado, que terá trabalho para assumir a titularidade do gol rubro-negro.

David Luiz, que substituiu Léo Pereira ainda no primeiro tempo, fez partida impecável. Ganhou todos os duelos pelo chão, teve tempo de bola ajustado para fazer coberturas e impedir infiltrações rivais. Além disso, construiu bastante o jogo. Numa de suas jogadas, saiu dando caneta no campo de defesa e só foi bloqueado na entrada da área.

Arrascaeta, que ficou no banco contra o Santos, fez uma de suas melhores partidas no ano. Finalizou duas vezes na direção do gol, completou os dois dribles tentados e acertou 87% dos 45 passes que fez no jogo. Como é um jogador que costuma forçar passes mais difíceis, seu índice no fundamento geralmente é menor. Saiu de campo ovacionado.

Os atacantes também tiveram jornada para se encher de moral. Gabigol encerrou jejum de três jogos, chegou ao gol 150 e tornou-se o sétimo maior artilheiro da história do clube, agora empatado com Bebeto. Se fizer mais dois, empata com Jarbas e assume o sexto lugar.

Bruno Henrique viu seu jogo fluir. Com mudanças de direção, dribles e muita profundidade pelo lado esquerdo, mostrou que pode voltar a ser o jogador que conquistou o posto de um dos maiores ídolos da história do Flamengo. O momento é tão positivo que foi o único jogador que teve o nome gritado no aquecimento pré-jogo. No fim do primeiro tempo, quando reservas foram se exercitar atrás do gol do Fortaleza, mais uma vez foi ovacionado.

Pedro, por sua vez, provou que apesar de grandalhão, pode diversificar seu jogo e não depender apenas da grande qualidade técnica que tem. Mexeu-se, apareceu por diversas vezes no meio, de onde deu bons lançamentos para Bruno Henrique, e participou ativamente da construção. Não restringiu-se ao papel de definidor. Tomou decisões erradas no fim, mas animou bastante seu chefe com seus deslocamentos.

A vitória com autoridade, pautada em tranquilidade e combatividade, recoloca o Flamengo em uma realidade que o acompanha nos últimos anos, mas que parecia muito distante meses atrás: a de candidatíssimo a todos os títulos em disputa.

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405 visitas - Fonte: Globo esporte


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