"Improvável Hernane": atacante relembra trajetória com título da Copa do Brasil pelo Flamengo

11/7/2023 13:01

"Improvável Hernane": atacante relembra trajetória com título da Copa do Brasil pelo Flamengo

Dez anos depois de conquista, Brocador projeta novo duelo contra o Athletico-PR: "É um jogo perigoso"

Improvável Hernane: atacante relembra trajetória com título da Copa do Brasil pelo Flamengo
Janir Júnior

"Minha mãe conversava bastante comigo. Ela falava que eu sempre devia estar pronto. Dizia: "Sempre que estiver em algum lugar tem que dar o máximo. Porque a gente acha que não vai ter alguém olhando, mas é mentira". Eu fui prova viva. Para eu sair da quarta divisão, é porque tinha alguém olhando. Às vezes, você pode estar jogando uma pelada na rua. Ela sempre falou, faça seu melhor independentemente da situação.

Sou baiano de Bom Jesus da Lapa.

Eu e meus irmãos morávamos com a minha vó. A nossa cidade pequena, era difícil arrumar emprego, , e minha mãe foi para São Paulo para trabalhar, tal. Na época não dava para fazer ligação de telefone, então a gente mandava carta escrita. Não que a gente não sentia falta da mãe, mas a vó é mãe duas vezes, nos educou bem. Cheguei a fazer uns testes, saí da minha cidade, da Bahia. Tentei no Goiás e cheguei a ser aprovado, mas não tive verba para retornar.

Com 12 anos, conversei com a minha mãe para morar com ela e para pensar no futebol também. Em São Paulo, ela voltava para casa todos os dias. Antes, na nossa cidade, ela dormia no trabalho e ficava 15 dias fora. Chegando em São Paulo, fiz bastantes testes. E ela sempre me levava. Às vezes, eu estava atrasado, descia do ônibus e saia correndo na frente e depois ela chegava. A minha mãe foi fundamental.

Hernane Brocador na época do Flamengo — Foto: Janir Júnior

Hernane Brocador na época do Flamengo — Foto: Janir Júnior

Passei em alguns testes, mas não dava certo porque tinha que trabalhar, estudar e treinar. Parei de treinar para ajudar em casa. Mas assim que acabei o colégio consegui entrar no Guarulhos, joguei poucos jogos do Paulista, mas consegui me federar.

Fui para o Atibaia, e fui bem. Joguei a B1. Se não me engano, fiz 20 jogos e 13 gols. Em um desses jogos, o olheiro do São Paulo foi olhar um volante do outro time. O jogo estava 3 a 0 para os caras, mas eu sempre fui o mesmo atleta: brigando com o zagueiro, chutando na trave, o time perdendo e eu, guerreiro. Creio eu que ganhando de 3 a 0, o volante deu uma cadenciada no jogo e eu que estava perdendo, dei a vida. Acabou que o cara me levou, e não o volante.

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Outro mundo

Cheguei no São Paulo com 19 anos. Tomei um susto. Você sai de um time da quarta divisão para o São Paulo. Fui para Cotia, outra estrutura, outro comportamento. Tem atleta que olha para você e não dá nada, desacredita, por ser de time pequeno. Às vezes, o cara fica chateado porque saiu do time para outro entrar. Eu escutava me chamarem de pé duro.

Uma vez ou outro quem não fez um gol de canela? Muitas vezes falavam na resenha, mas a gente sabe que tem um fundo de verdade. Nunca abaixei a cabeça. Eu dizia: "Eu sei o que eu quero e o que posso fazer".

Sempre trabalhei. Eram os melhores anos do São Paulo, 2007, 2008. O time campeão brasileiro. Aí o São Paulo me emprestava, eu cumpria o contrato e voltava de novo, mas não tinha oportunidade no profissional. Sabia que precisava de paciência, mas estava ficando difícil. Em 2011, amigavelmente, eu saí do São Paulo.

Alguns atletas falavam assim, já ganho um bom salário, não vou sair daqui nada. Eu não deixava nem o lado financeiro abalar. Abri mão de ficar no São Paulo e fui para o Paraná ganhar um pouco menos e jogar. Eu precisava jogar e encontrar meu futebol no cenário nacional. Infelizmente, cheguei na 17ª rodada, depois de um tempo parado e não consegui ter sequência.

No Mogi Mirim foi diferente, eu pude fazer a pré-temporada. Quando começou o Paulista, eu estava voando. Fui vice-artilheiro, perdi apenas para o Neymar. Então me considero artilheiro. Fiz 16 gols em 21 jogos. Quase fui para o Vasco mas acabou que a negociação não deu certo. E foi aí que pude ir para o Flamengo.

Chegada ao Flamengo

O jogador que chega no Flamengo, se não acontecer nos dois primeiros jogos, o torcedor perde paciência. Na minha estreia, mesmo desacreditado, o Papai Joel olhou para o relógio e falou: "Faltam 15 minutos, meu filho. Sua oportunidade está dada". E eu agarrei aquela oportunidade. Aqueles 15 minutos mudaram minha vida.

No primeiro dia que eu cheguei no Flamengo, eu olhava para o escudo do lado do gol e não acreditava. Eu nunca sonhei em jogar no Flamengo, queria uma grande equipe e parei na maior. Eu não podia deixar escapar. Na primeira semana era difícil dormir, tinha medo de chegar atrasado e tomar uma chegada. Ia até com sono pra não perder a hora, pra ser pontual.

Eu cheguei preparado depois do Campeonato Paulista, mas tive poucas oportunidades, porque o Vagner Love não se lesionava, não tomava cartão, era um excelente atleta. Em 2012, só consegui jogar uns 5 ou 6 jogos, mas fiz um gol importante que livrou o Flamengo de vez do rebaixamento. o ano seguinte, saíram os atletas da posição: Deivid, Love, Liedson.O presidente falou que ia fazer contratações. Então eu falei: "Vou ser artilheiro e vou renovar o meu contrato". Foi o que aconteceu. Fui artilheiro e consegui renovar meu contrato.

Fui um pouco injustiçado depois de ser artilheiro do carioca. Fiquei 3 meses no banco.

Na chegada do Marcelo Moreno, ele teve uma conversa comigo. Disse: "Cheguei agora, a gente precisa ter uma boa relação". Eu até cortei a conversa. Falei: "Que isso, a gente ia ter uma boa relação, sim". Mas brinquei com ele: "Mas se você não tiver melhor que eu, não vai jogar não, vou dar a vida". A gente teve uma relação muito boa, mas aconteceu o que eu tinha falado para ele.

A gente pode até não concordar com a decisão do técnico, mas tem que respeitar. Trabalhei mais forte ainda. Creio que tenha sido até bom para mim naquele momento. Quando o Moreno foi para a seleção da Bolívia, voltei a ser titular. Eu comecei a fazer gols, conquistei meu espaço novamente e pude dar sequência. Virei titular absoluto e briguei por todas as artilharias.

Marcelo Moreno e Hernane — Foto: Reprodução SporTV

Marcelo Moreno e Hernane — Foto: Reprodução SporTV

Final da Copa do Brasil: Athletico-PR

O jogo contra o Athletico-PR foi e continua sendo um dos mais difíceis. Eles estavam ganhando os jogos de 3, 4 e até 5. A gente sabia da dificuldade. Fizemos a estratégia para tentar o gol fora de casa e conseguimos. Tomamos o primeiro gol mas não deixamos nos abater e fizemos o empate.

Vou ser sincero, a gente foi bem preocupado, mas quando acabou o jogo e os atletas do Athletico-PR estavam cabisbaixos imaginando a dificuldade no Maracanã, nos deu uma injeção de ânimo. E a torcida foi em peso. Quando chegamos lá no Maracanã e vimos os atletas do Athletico-PR admirando a torcida, o próprio Marcelo Cirino, eu pensei: "Hoje não tem como perder o título".

Eu já chegava no Maracanã e brincava: "Um gol já está certo, quem vai fazer o outro?". Eu brincava de tão confiante que eu estava. E os companheiros confiavam e me procuravam em campo. Graças a Deus. Tinha até alguns comentaristas que falavam: "O improvável Hernane". Sempre tive desconfiança dos comentaristas, diziam que eu tinha chegado como aposta. Mas aconteceu. Eu fiz acontecer, batalhei bastante. Quando a gente chegou na final, não tinha mais desconfiança. Foi maravilhoso.

Dez anos depois, Athletico-PR de novo

No jogo da semana passada contra o Athletico-PR, eu recebi a notificação no celular e falei para a minha filha que o Flamengo tomou um gol. O aplicativo mostra mais rápido que a TV. Ela viu e ficou triste, foi deitar e depois o Flamengo fez os gols. Ela acordou e viu na TV que estava 2 a 1. E falou: "Papai, o Flamengo está ganhando". Ela é flamenguista de tanto ver os meus vídeos, o carinho do torcedor na rua. E fica muito mais feliz de saber que o pai dela fez história.

Arrascaeta e Fernandinho, Flamengo x Athletico, Copa do Brasil — Foto: André Durão/ge

Arrascaeta e Fernandinho, Flamengo x Athletico, Copa do Brasil — Foto: André Durão/ge

O Flamengo já fez o papel de casa a vitória em casa. Mas a estratégia do Athletico-PR é muito boa, defende e joga só no contra-ataque. O Flamengo por ter qualidade vai para o campo adversário, fica com a bola, e é um jogo perigoso. Porque o Athletico-PR consegue surpreender. O Flamengo precisa de atenção porque tem só um gol de diferença. Se não tivesse o pênalti no Maracanã, acho que seria difícil. Creio que o Flamengo vai com outra estratégia, e o Athletico-PR deve mudar também. Mas o Flamengo é maior vai jogar para cima, vai para ganhar.

Ídolo?

Algumas vezes é inevitável. Fui vaiados duas vezes. Me recordo muito bem. Sabia que teria dia que não ia estar bem, é normal. Sou falho, mas sempre me entreguei. Quem vaiava era minoria, torcedor que procura perfeição, que não vai encontrar em ninguém. A maior parte aplaudia. A gente procurava ouvir mais o incentivo. Você vai pegar as vaias e entender como crítica construtiva. E isso dá mais gás, para dar todo o seu melhor. No Flamengo, as vaias aconteceram muito pouco. Tive uma margem de acerto muito grande.

Eu sou muito realizado por tudo que conquistei, por tudo que Deus fez na minha vida. Eu nem pensava em tanto. Com 11 anos, eu era bem novo, eu falei para Deus em uma oração: "quero só jogar futebol. Ganhar R$100 para mim está bom." Mas fui muito além, cheguei no maior do Brasil, conquistei títulos, assinei com times importantes. Estou jogando ainda porque amo jogar. Futebol é um sonho de criança. Enquanto conseguir atuar bem, vou jogar. Quando o corpo não aguentar mais, eu encerro a carreira.

Hernane gol Flamengo final Copa do Brasil jogo Atlético-PR — Foto: Getty Images

Hernane gol Flamengo final Copa do Brasil jogo Atlético-PR — Foto: Getty Images

Ídolo tem que ganhar título. Eu ganhei um título muito importante, que o Flamengo não ganhava há um tempo. Eu me considero um ídolo, sim. A torcida responderia melhor. Me considero ídolo, mas não só pelo título, eu fiz muito pelo Flamengo com tão pouco."

Depoimento de Hernane Brocador ao repórter Ronald Lincoln

Assista: tudo sobre o Flamengo no ge, na Globo e no sportv

3421 visitas - Fonte: Globo esporte


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