"Falavam que eu era o "Pelé branco"": de volta ao futebol, Jean Chera revela por que se aposentou aos 23 e repassa carreira a li…

13/7/2023 07:13

"Falavam que eu era o "Pelé branco"": de volta ao futebol, Jean Chera revela por que se aposentou aos 23 e repassa carreira a li…

Jean Chera contou sua trajetória ao ESPN.com.br

Falavam que eu era o Pelé branco: de volta ao futebol, Jean Chera revela por que se aposentou aos 23 e repassa carreira a li…

Após seis anos sem jogar futebol, Jean Chera vive a expectativa de voltar aos gramados de forma profissional. Anunciado como reforço do EC São Bernardo para a Copa Paulista, torneio idealizado para clubes sem divisão nacional terem um calendário, ele espera construir uma nova história.

Quando as redes sociais estavam engatinhando, os vídeos de um garoto que protagonizava lances dignos de Lionel Messi viralizaram na internet antes mesmo do termo ter sido criado. O pai do menino, que filmava todos os jogos do filho no Mato Grosso, passou a editar os melhores momentos em DVDs.

Durante as férias no final de 2004, a família Chera foi para Santa Catarina acompanhada de um amigo dono da escolinha na qual Jean treinava. No meio do caminho, eles passaram pela cidade de Campo Mourão, no Paraná, onde ficava o ADAP-PR.

"O rapaz que estava com a gente conhecia o diretor do clube e falou para deixar um vídeo meu por lá. Por coincidência, meu pai tinha um DVD no carro, mas não queria deixar. Ele falou: "Não, deixa quieto, não precisa"", contou Jean, em entrevista à ESPN.

No entanto, o pai do garoto foi convencido e deixou o vídeo do filho com o diretor. Era véspera de Natal....

"A gente seguiu a viagem e no dia seguinte o dono do clube nos ligou: "O Jean tem que vir pra cá, tem que jogar aqui". Em seguida, me mudei para o Paraná junto com os meus pais", lembrou.

Jean ganhou projeção nacional ao aparecer alguns meses depois no programa do apresentador Gugu Liberato, no SBT. Logo em seguida, surgiram inúmeros convites para reportagens nos principais veículos de comunicação e ofertas de grandes clubes do Brasil.

"A gente foi no Parque São Jorge conversar com o pessoal do Corinthians e também com o Santos. Nós optamos pelo Santos", relatou.

Não demorou para Jean ser considerado uma das maiores joias da base santista ao lado de Neymar e Gabigol, que era seu colega de equipe.

"O Gabigol sempre foi um pouco diferente dos outros. Com o Neymar eu fiz alguns treinos porque ele é três anos mais velho. Nós três sempre nos destacávamos um pouco mais. A gente ganhou quase tudo na base do Santos. Era muito novo e não tinha essa imaginação de que daqui a 10 anos as coisas poderiam dar certo como deram para os dois", salientou.

Mesmo criança, Jean recebia um salário de um profissional. Por isso, antes mesmo de virar adolescente, passou a conviver com cobranças que poucos adultos suportariam.

"Por ser muito novo, não entendia muito a dimensão que aquilo lá tinha, eu fui entender mais para frente. Porque tinham pessoas ao meu redor que comandavam a minha vida. Mas a pressão era muito grande. Saía muita matéria e que eu era o "novo Messi", o "Pelé branco", sei lá o que.. Só que você nunca me viu falando isso, que eu queria ser esses caras. Eu queria jogar bola e me divertir. Mas teve uma exposição muito grande que as coisas começaram a se encaminhar para esse lado", afirmou.

A enorme expectativa atrapalhou a trajetória do garoto.

"Você não pode ser um jogador normal mais. As coisas têm que acontecer rápido e da forma que estão te expondo. Acho que se tivesse sido algo mais tranquilo as coisas poderiam talvez ter se encaminhado para um outro lugar. Tanto que quando a gente ia jogar na base, não era o Santos que estava indo jogar, era o time do Jean", disparou.

Saída do Santos

Prestes a completar 16 anos, Jean Chera deixou a Vila Belmiro cercado de polêmicas. O meia conta que estava com tudo certo para fechar o primeiro contrato profissional com o Peixe, mas um dia antes de assinar o acordo, o Genoa-ITA fez uma oferta tentadora.

O meia diz que receberia um salário três vezes maior na Itália, além de um alto valor em luvas.

"Meu pai falou: "Jean, vamos pensar na parte financeira agora, que a gente não sabe o dia de amanhã". Uma proposta assim naquela época era irrecusável. Eu tinha 15 anos e concordei. Aí começou a sair um monte de coisa, que a gente tinha pedido R$ 100 mil por mês para o Santos, mas não foi nada disso", assegurou.

Celso Chera, o pai de Jean, foi visto como o "grande vilão" da história e virou "persona non grata" no Santos. O meia deixou a Vila Belmiro de graça e ficou com fama de ingrato para muitos torcedores. A escolha pode não ter sido a melhor para a carreira do jogador a longo prazo, mas resolveu a situação financeira da família.

"Tenho a consciência também de que talvez, se tivesse ficado, a parte do futebol poderia ter sido melhor. Era o próximo a ter uma chance no profissional, o Santos ia me dar essa oportunidade. Se eu ia bem ou não, ia depender de mim. Mas não me arrependo", garantiu.

O clube italiano providenciou uma ótima estrutura para o prodígio, com direito a um carro e uma linda casa - de dois andares e piscina - na beira da praia. Jean conta que tudo corria bem, mas precisou deixar a Europa após seis meses por causa de um problema na documentação.

"Chegou a data do passaporte ficar pronto e das inscrições lá da Itália fechar, o passaporte acabou não ficando pronto. O clube ia ter um problema muito grande por eu ser menor de idade e não europeu. Eles iam correr o risco de ser rebaixados de divisão. A gente teve que rescindir o contrato, não tinha outras opções", contou.

Em seguida, o garoto acertou com o Flamengo, mas não conseguiu se destacar. Ironicamente, o passaporte europeu ficou pronto poucos dias após ele chegar ao Rio de Janeiro...

"Em alguns momentos também não fui bem tecnicamente, não consegui dar o meu melhor também. Mas fiquei lá um ano, recebi dois meses (de salário) e no final do ano fiz um acordo para poder sair", recordou.

Jean Chera falou com exclusividade ao ESPN.com.br

Falsas promessas

Depois disso, Jean tentou conduzir a própria carreira. Celso se afastou e foi cuidar dos negócios da família no Mato Grosso.

"Foi automático, não foi planejado, não teve briga para isso acontecer, nada. Foi algo que aconteceu normal. E a nossa relação sempre foi a mesma e sempre vai ser a mesma", salientou.

"Meu pai teve os erros dele, mas sempre agiu com um coração de pai. Isso que eu acho que atrapalha um pouco, a gente poderia lá atrás ter pego um empresário. Alguém para tomar a frente, tomar as porradas que ele tomou, e o cara só trazia as coisas prontas para a gente", acrescentou.

O meia passou rapidamente pela base do Athletico-PR e treinou por dois meses com o time sub-20 do Cruzeiro que iria disputar a Taça São Paulo. No entanto, nas férias, recebeu a ligação de um empresário dizendo que o colocaria no West Ham e receberia um patrocínio da Nike. Para isso, não poderia se reapresentar na Toca da Raposa.

"Não voltei para o Cruzeiro e uma semana depois esse empresário me falou que eu ia ter que ficar 15 dias fazendo teste para ser observado. Falei: "Não, pô, está errado, não tem como". Perdi o Cruzeiro, não tinha nada da Inglaterra, era tudo conversa", lamentou.

O próximo clube o garoto foi o Oeste para a disputa do Paulistão profissional de 2014, mas os planos deram errado.

"Fiquei seis meses no Oeste, não recebi também. Acabou o Paulistão, e saí. Você vai para os lugares e começa a dar tudo errado. Você acaba se frustrando, obviamente, porque é ser humano igual todo mundo. Aí as coisas começam a desandar e, enfim, foi só ladeira abaixo, para ser sincero", analisou.

"Fui para o Paniliakos-GRE e fiquei lá seis meses sem receber, mas joguei o Campeonato Grego da 2ª divisão. A gente chegou a jogar uns 10 jogos antes do clube ter um problema e falir. Aí teve que todo mundo ir embora, o clube acabou", relatou.

Jean ainda teve uma passagem curta pelo Cuiabá antes de voltar ao Santos para fazer parte do elenco sub-23. Em 2015, foi emprestado para a Portuguesa Santista para jogar a Série B do Paulistão (na prática, a 4ª divisão). Os dois únicos gols marcados pelo meia no profissional foram em cobranças de falta pela Briosa.

"Foi bom para mim, estava conseguindo jogar alguns jogos, mas a cabeça já não estava boa. Estava começando a fazer as coisas meio que no automático. Você não está indo lá treinar feliz, não está jogando feliz, você está indo por ir. Aí quando você começa a fazer isso, as coisas não vão dar certo. E aí eu já estava desanimado com tudo já, e aí resolvi voltar embora", disse.

Em 2017, ele ainda jogou pelo Sinop-MT antes de se aposentar do futebol, aos 23 anos.

"A decisão de parar não foi difícil. Difícil foi passar por tudo que eu passei. Ter que aguentar muitas coisas. Não precisava mais do dinheiro para ajudar a minha família".

Jogador falou com exclusividade ao ESPN.com.br

Não jogava bola nem por brincadeira

Durante os seis anos em que ficou parado, Jean disse que não jogava futebol nem por brincadeira com os amigos.

"Quando eu voltei lá para Sinop eu fiquei um ano assim, sem fazer nada. Atividade física, zero. Estava desanimado com tudo, com a vida. Depois de um ano, estava entrando no condomínio e vi um pessoal jogando futevôlei. Conversei com eles e passei a jogar", contou.

Ele gostou tanto da experiência que abriu uma quadra, contratou um professor e até chegou a dar algumas aulas. Além disso, jogou Fifa (jogo de futebol de videogame) com uma equipe chamada R10 Sports por alguns meses.

Há dois anos, ele se mudou com a noiva, que é arquiteta, para São Paulo e deixou os familiares tomando conta dos negócios no Mato Grosso. A convivência mais próxima com o filho, de seis anos, que mora em Santos com a mãe, despertou uma chama que parecia apagada.

O garoto, que está começando no futebol em escolinhas, ficou curioso ao ver os vídeos e as reportagens que foram publicadas sobre o pai na internet.

"Ele queria saber por que eu parei, como foi jogar no Santos e sobre o Neymar. A minha maior motivação foi mostrar para ele que você pode fazer o que você quiser da sua vida. Independentemente da sua idade e do tempo, se você quer, você pode. Eu quero que ele veja uma outra história do pai dele também", ressaltou.

Por isso, ele resolveu ver como seu corpo iria reagir durante uma pré-temporada e treinou por quase um mês com o Sinop-MT, que iria jogar a Série B do Estadual de 2023.

"Pegou um pouquinho da parte física, mas teve bastante trabalho com bola, o que me ajudou muito a realmente tomar essa decisão de querer voltar. Eu vi que ainda estava legal e resolvi tentar", contou.

Chera entrou em contato com alguns clubes até chegar ao São Bernardo. Logo na primeira reunião, ele gostou do que ouviu dos diretores e sentiu que poderia dar o próximo passo.

"É um recomeço. Eu sei que não vai ser fácil, porque são muitos anos parados, mas tenho certeza que eu estou no lugar certo, onde o clube e as pessoas que aqui trabalham estão me ajudando. Estou com outra cabeça, com outra mentalidade e no lugar certo. Eu não vejo isso dando errado, vai dar certo", bradou.

Aos 28 anos, Jean viu muitos outros garotos passarem por situações parecidas com a sua, mas que tiveram um final bem diferente. O caso mais recente é o de Endrick, do Palmeiras, que também ficou famoso muito antes de virar profissional.

"Você vê que o Palmeiras tem um cuidado muito grande com ele. Lógico, está sendo exposto também, mas há uma preocupação lá dentro e um cuidado com ele. Tanto que não estão botando ele para jogar todos os jogos. Eu acho que o Palmeiras está sabendo muito bem cuidar dele. E foi algo que eu acho que faltou para mim lá atrás. Pessoal dar uma blindada ali, dar uma cuidada melhor", observou.

Como pai, ele sabe o que precisa fazer para que seu filho não passe pelas mesmas situações que viveu.

"Primeiramente é dar tempo ao tempo. Hoje, ele já quer jogar bola, já quer treinar, ele treina. Esses dias eu tive que comprar uma luva porque ele quer ser goleiro. Se daqui um ano, dois anos, mudar de ideia, vai jogar em outra posição, não tem problema. A gente tem que fazer o que deixa a gente feliz. Não tem que ficar fazendo coisas por outras pessoas", finalizou.

1042 visitas - Fonte: ESPN


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