Nas últimas semanas, a rotina do Flamengo não mudou: atuações pouco convincentes no Brasileirão seguidas de bons resultados nas competições de mata-mata. A oscilação despertou a dúvida na torcida: o atual elenco rubro-negro escolhe jogo?

Garantido nas oitavas de final da Libertadores e com boa vantagem nas semifinais da Copa do Brasil, o Flamengo ocupa o terceiro lugar no Brasileirão, 12 pontos atrás do líder Botafogo.

Após a vitória sobre o Grêmio por 2 a 0, em Porto Alegre, na quarta-feira, o técnico Jorge Sampaoli afirmou que vê diferença na postura do time.

- Esses jogadores sabem jogar esse tipo de jogo (de Copas). Se ligam mais. Tem mais coisa em jogo. Não é por mim, mas por eles, que têm essa capacidade, jogaram muitas finais - disse.

Elenco titular do Flamengo em partida contra o Grêmio, pela Copa do Brasil — Foto: Pedro H. Tesch/AGIF

Também depois da partida contra o Grêmio, o volante Thiago Maia deu sua opinião sobre a questão.

- A gente não escolhe campeonato nenhum. Sempre respeitamos todas as equipes. Sempre vamos dar a vida em todos os jogos. O Brasileirão é muito difícil. Estamos em terceiro, estamos brigando e esperando as equipes acima darem uma escorregada para a gente aproveitar - afirmou.

Com a questão colocada, o ge procurou comentaristas para debater a dúvida. E aí, o Flamengo escolhe jogo?

- Os jogos de Copa sempre têm um senso de urgência, o time não pode perder, as melhores formações são sempre escaladas. E um time como o do Flamengo, mobilizado, é muito perigoso. Só que as frequentes mudanças de treinador acabam tornando o Brasileiro um território de instabilidade, de experiências, de como lidar com um elenco tão repleto de possibilidades. A direção precisa oferecer ao time maior estabilidade para uma condução de 38 rodadas. Não acredito que o Flamengo tire o pé, trata-se apenas de processos que estão sempre se iniciando.

- Eu discordo da análise de que o Flamengo escolhe campeonato. Se as Copas são a principal prioridade da equipe e eles escolheram essas competições para jogar, a equipe não deveria ter terminado em segundo no grupo da Libertadores e ir decidir fora contra o Olímpia. O Flamengo não escolhe campeonato por duas razões:

- Se analisar o Flamengo dentro do recorte do Sampaoli, é um time que teve algumas boas atuações, mas que foi capaz de jogar mal nas diversas competições, indiscriminadamente. O jogo contra o Ñublense fora de casa serve como um grande exemplo. O Flamengo também não jogou uma partida espetacular quando ganhou do Racing no Maracanã. Até mesmo quando teve um homem a mais contra o mesmo Racing, em Buenos Aires.

- Antes mesmo do Sampaoli, jogou muito mal o jogo de ida contra o Maringá, pela Copa do Brasil. A classificação contra o Athletico-PR através de uma atuação muito ruim na Arena da Baixada ou, mais justo dizer, jogando pior do que o adversário e cedendo muitas oportunidades. Não é que o Flamengo se imponha magnificamente bem nas Copas e não vá bem no Brasileiro. Não se trata de uma escolha, mas de um time que está em um processo de construção que tem sido difícil. A forma de jogar impõe mudanças de comportamento. Essas oscilações aparecem em qualquer competição.

- A outra questão é que se centra muito o debate em uma questão de atitude e comportamento, como se todo o rendimento da equipe derivasse disso. O time tenta competir e se entrega aos jogos, mas existem limitações de entendimento tático e de evolução dentro do modelo de jogo que está sendo proposto pelo treinador, pois tem elementos muito distintos do que se fazia e trabalhava antes. Isso faz com que o time não seja sólido e constante a curto prazo. Agora, atribuir as oscilações a uma questão de entrega, de disposição ou preferência de uma competição, eu realmente não concordo.

- O que pode vir a acontecer neste momento em que se tem uma sequência importante de mata-mata em uma fase muito adiantada é que essa vantagem que o Botafogo abriu no Brasileiro, uma vez aberta, acaba desestimulando os jogadores a terem o mesmo ímpeto e serem confrontados pela necessidade de escolher entre uma competição e outra por uma questão física, para não desgastá-los. Mas acho que até esse momento essa não foi a questão principal do Flamengo, mas sim que é um processo de trabalho que ainda faz o time oscilar.

- Nos últimos anos, o Flamengo sofre com inícios ruins do Brasileiro, perdendo pontos importantes. Aí, quando voltam o foco para o campeonato, já tem um adversário disparado, o que faz com que o Flamengo perceba o Brasileiro como um campeonato mais complicado de buscar uma reação e brigar. Mas por que o time perde tantos pontos no início? Para mim, está associado a trocas de treinadores entre o fim do estadual e o primeiro turno do Brasileiro. É nesse intervalo, no tempo do início de trabalho e da adaptação do novo treinador que vêm as oscilações e os tropeços.

- Não concordo com a afirmação de que o Flamengo escolhe campeonato pelo simples fato de que teve atuações tão ruins ou piores na Copa do Brasil e na Libertadores em comparação com outros jogos do Brasileiro. O Flamengo perdeu para o Maringá fora de casa jogando muito mal. Lembrando que o Maringá é uma equipe de Série D e que tinha perdido jogadores importantes. O Flamengo jogou mal em quase todos os jogos da primeira fase da Libertadores. Se lembrar dos desempenhos contra o Aucas, contra o Ñublense, contra o Racing, jogando com um a mais por mais de 50 minutos e mesmo assim levou o empate no final e por pouco não sofreu a virada.

- Então acho que é uma afirmação, inclusive, perigosa. Torcedor pode confundir com falta de dedicação, e até acho que esse elenco do Flamengo, que já conquistou muita coisa, em alguns momentos - e isso é natural com equipes vencedoras, temos exemplo do próprio Flamengo na década de 80 – acaba havendo menos concentração, menos intensidade. Isso é diferente de largar jogo ou não querer correr. É uma questão comportamental que qualquer ser humano tem quando conquista muita coisa. Acho que não tem a ver com a competição, mas talvez aconteça mais vezes no Brasileiro por ter mais jogos e por ser um campeonato mais difícil, na minha opinião.

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