Após perder por 1 a 0 no Maracanã, um Flamengo que não marca há três jogos terá que vencer no Morumbi: por dois ou mais gols de diferença para ser campeão direto, ou por um para levar a decisão para os pênaltis. Tarefa difícil, mas entre os rubro-negros que não jogam a toalha está o ex-zagueiro Fernando, herói do único título como visitante.

Foi em 1990, quando a Copa do Brasil havia sido recém-criada e estava apenas em sua segunda edição. O Flamengo , na época com Júnior, Renato Gaúcho, Zinho, Gaúcho, Fernando e companhia, foi campeão invicto passando por Capelense-AL, Taguatinga-DF, Bahia, Náutico e Goiás.

Com o Maracanã fechado para reforma, o primeiro jogo da final foi no Estádio Municipal de Juiz de Fora (MG), e Fernando fez o gol da vitória por 1 a 0. Expulso nos minutos finais, ele desfalcou a equipe no lotado Serra Dourada e viu o Rubro-Negro segurar o 0 a 0 para sair como herói (veja no vídeo acima) .

Com passagens marcantes também por Santos e Vasco, o ex-zagueiro defendeu o Flamengo entre 1989 e 1990, disputou 80 jogos e marcou 12 gols. A camisa do gol do título da Copa do Brasil ele guarda, usa até hoje e se recusa a vender: "Já tentaram de tudo, não tem negócio". Aos 61 anos e morando em Santos, Fernando falou com o ge e lembrou aquela final; lamentou ter saído do clube depois; contou que uma depressão o tirou o sonho de ser treinador após se aposentar e deixou um recado para os atuais jogadores rubro-negros antes da decisão no Morumbi:

- Tem que ser gigante para ser campeão e espero que essa seja alma dos atletas para domingo.

Confira a entrevista na íntegra:

ge: Você foi o herói da primeira Copa do Brasil do Flamengo . O que aquele gol do título em 1990 mudou na sua vida?

Fernando: - O gol só enriqueceu ainda mais minha história no futebol. Minha trajetória é muito legal, começo minha vida futebolística na Portuguesa Santista aos 15 anos, time da Segunda Divisão do Paulista, me profissionalizo aos 18 anos e com 20 o Santos me contrata. É um salto enorme em todos os sentidos. E lá ganho meu primeiro título, campeão paulista de 1984. Sempre me fiz ser reconhecido pelo meu profissionalismo, certeza que essa postura, junto a minha técnica e alma de vencedor, acompanharam minha trajetória de grandes equipes.

Foi estranho para vocês ter jogado uma final em Juiz de Fora (MG)? O Maracanã fechou no final daquele ano, e vocês fizeram quatro jogos seguidos nesse estádio. Como era a resenha na época no elenco sobre isso?

- Jogar em Juiz de Fora, longe da nossa torcida, claro que tem peso. Sou um atleta que me acostumei a grandes massas e a nação rubro negra faz diferença. Para nós, dentro de campo, numa final de Copa Brasil, o manto sagrado que vestimos era suficiente responsabilidade de encararmos o Goiás como uma grande final. Certo de que foi isso, nós atletas superarmos horário, local e tudo que o Maracanã, nossa casa, naquele momento não podíamos contar.

Apesar de ter sido o herói, você acabou expulso no fim do primeiro jogo junto com o atacante Cacau, do Goiás. Aonde acompanhou a segunda partida? Estava no Serra Dourada?

- Doeu ficar fora do segundo jogo, ainda que tenha viajado com a delegação para Goiânia. O árbitro foi muito rigoroso, se deixou levar pela emoção da decisão. Enfim, faz parte do futebol e os deuses fizeram do meu gol neste primeiro jogo o gol decisivo. Só acrescentando que não tenho alma de torcedor, fiquei muito tenso do lado de fora. Viajei com a delegação, participei de tudo, só não joguei, mas é duro ficar de fora.

Você conquistou títulos por Santos, Vasco, Flamengo ... Mas aquela Copa do Brasil acha que foi o título mais importante da sua carreira?

- Não classifico dessa forma. Tenho títulos estaduais pelo Santos e Vasco, copas e torneios também, mas esse título é o único nacional que tenho. Amo cada conquista que tive, sem distinção.

E por que saiu do Flamengo no final daquele ano?

- Não sei te responder, nunca ficou claro isso. Saí de férias com o contrato a ser renovado. Houve troca do comando técnico, o Jair Pereira foi para o Atlético-MG, o Vanderlei Luxemburgo veio para o Flamengo , e como o passe era meu, o Flamengo , através do seu departamento de futebol, pediu que eu aguardasse essa troca de comando. Eu aguardei até onde foi possível, após isso o Jair Pereira me chamou para disputar o Brasileiro pelo Atlético-MG e abri negociação. O Flamengo não se manifestou e lá fui eu.

O que fez depois de se aposentar? Vi que chegou a trabalhar como técnico e dirigente na Portuguesa Santista.

- Fecho minha carreira em 1996, levando a Portuguesa Santista, meu time de origem, à Primeira Divisão do Campeonato Paulista. Por isso digo que minha carreira é especial. Após isso, fiz cursos para dar seguimento a minha carreira, agora como técnico, fiz gestão, mas infelizmente fui acometido por uma depressão grave e tive que fazer escolhas para ter uma vida saudável. E infelizmente o futebol, minha paixão, já não me permitia seguir com ele pelas responsabilidades e emoções que me exigiam. Tive que fazer escolhas mais leves e saudáveis sem tantos compromissos.

O que te ajudou naquele momento difícil? Você se sente curado?

- Sim. A depressão tem gatilhos, infelizmente o futebol é um deles pela intensidade que eu vivia. Tratei com medicamentos por dois anos, e há três anos não faço mais uso. Fiz a melhor escolha para ter uma vida saudável e uso do futebol com amigos para vivê-lo na sua leveza, da paixão do torcedor. Isso de alguma forma me conforta.

O Flamengo já ganhou quatro Copas do Brasil, mas a única conquistada fora de casa foi aquela de vocês em 1990. Acha possível o time atual repetir o feito no Morumbi?

- Flamengo é Flamengo no Maracanã, no Morumbi... Está nas mãos dos atletas, na garra, na alma, nos detalhes, na superação. Tu não jogas no Flamengo por nada, tu jogas porque você é gigante. Tem que ser gigante para ser campeão e espero que essa seja alma dos atletas para domingo. Uma vez Flamengo , sempre Flamengo .

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