Alerta de textão. Não tem como passar a limpo a trajetória de Rodrigo Caio no Flamengo sem falar e escrever muito. Tudo foi superlativo nesses cinco anos. Quando deu certo, sorriu e venceu muito. Quando deu errado, se lesionou e sofreu muito.
Abre Aspas: Rodrigo Caio critica Sampaoli e faz balanço de passagem pelo Flamengo
A transformação nos cinco anos de Rio de Janeiro, em passagem que terminou com reverências da torcida no último domingo com Maracanã cheio, vai além do zagueiro com 11 títulos vestindo rubro-negro. O Rodrigo que deixa o Flamengo tem mais do que um corpo mudado. A mente e, principalmente, as prioridades são outras.
Rodrigo Caio se despede do Flamengo em jogo contra o Cuiabá — Foto: GILVAN DE SOUZA/FLAMENGO
Em uma hora e 10 minutos de conversa com o "Abre Aspas", Rodrigo desabafou, se emocionou, projetou o futuro, mas, acima de tudo, fez alertas em forma de reflexões:
- As dores me fizeram refletir muito sobre o que o Rodrigo tem após o futebol. Às vezes, ficamos obcecados em jogar, treinar muito, isso, aquilo e não entendemos que a vida não acaba quando acabar o futebol. Eu tenho mais 50 anos pela frente e preciso estar saudável para aproveitar a vida, meus filhos, minha esposa, minha família...
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Não é exagero dizer que o zagueiro chegou ao extremo físico e mental por conta dos muitos problemas médicos. São mais de 300 dias e 58 jogos fora de combate nesses cinco anos de acordo com levantamento do site "Transfermarkt. Cirurgias, dores e até uma infecção hospitalar que o fizeram cogitar a aposentadoria no início de 2022, aos 28 anos.
Rodrigo Caio, do Flamengo, em entrevista ao "Abre Aspas" — Foto: André Durão / ge
- Eu estava no limite, peguei infecção, perdi oito quilos, pesei 67kg e estava muito mal. Treinava e saía fogo pela minha orelha, pela minha boca, de tanto antibiótico que eu tinha tomado por quase um mês.
"Era dor para caramba e eu falei: "Cara, vou parar!""
O suporte da família e a relação com a religião ajudaram a superar os dias de dúvidas e dores. As recordações, por sua vez, seguem vivas e fazem com que Rodrigo Caio use seu testemunho como um alerta. Não pelas lesões, mas pelos impactos externos de tudo o que aconteceu.
O zagueiro faz questão de ressaltar que sempre sentiu o suporte do torcedor do Flamengo nas ruas. Nas redes sociais, no entanto, as piadas como "está se formando em medicina" ou "é jogador de vidro" machucaram, assim como a falta de diálogo e carinho de lideranças do departamento de futebol.
Rodrigo Caio e Filipe Luís estamparam ingresso de Flamengo x Cuiabá — Foto: Reprodução
- Eu nunca quis isso para a minha vida, nunca quis me machucar. É claro que eu senti falta de uma conversa, de me chamar e falar "estamos com você. O que você precisa? Precisa de ajuda?". Por mais que a gente seja forte, em algum momento a gente baqueia. A gente chega em casa e pergunta a razão. Por que acontece isso comigo? Em alguns momentos, eu me perguntei.
- Há pessoas que a partir de brincadeiras não estão nem aí para o seu bem-estar mental e físico, pessoas que não querem saber se você vai conseguir passar pelas dificuldades, querem brincar e zoar. Elas têm que ter essa atenção. O Rodrigo conseguiu superar, mas e o João: será que vai conseguir? Isso pode acabar não só com a carreira, mas com a vida de uma pessoa.
Livre no mercado, Rodrigo Caio desfruta das férias com a certeza de que a carreira como jogador vai continuar. Se as oportunidades não foram muitas, principalmente com Jorge Sampaoli, o ano de 2023 foi imune a lesões e ele aguarda movimentações do mercado:
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- Ainda me sinto muito apto para performar. É isso que me motiva para continuar. Eu não quero ficar sofrendo e batendo cabeça se física e tecnicamente não estivesse bem.
O próximo clube terá a seu dispor um Rodrigo Caio diferente daquele jovem vigoroso dos tempos de São Paulo e início da passagem pelo Flamengo. E as novas características quem define é o próprio atleta.
- Eu não sou o jogador que era cinco anos atrás. Quando você passa por lesões que te machucam, isso é natural e eu tenho essa consciência. Algumas valências que eu tinha três, quatro anos atrás, eu não tenho mais. Mas eu não precisava usar outras características que hoje eu tenho o entendimento. Saber encurtar os espaços, jogar com a inteligência, e eu acho que isso faz a diferença.
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Aos 30 anos, Rodrigo Caio garante estar com mente e corpo sãos para os próximos desafios. E se alguém tiver dúvida baste ler os muitos parágrafos abaixo para saber o que pensa o zagueiro após cinco e intensos anos de Flamengo. Respira que lá vem textão!
O Flamengo teve um 2023 difícil, sem títulos e com derrotas marcantes, mas você conseguiu passar sem lesões graves - por mais que não tivesse jogado tanto. O sentimento é de alívio por conseguir se manter saudável, há o que se comemorar neste sentido?
- Com certeza. Para mim, foi um ano muito positivo. Não perdi treinamento, consegui manter uma regularidade de treinos. Claro que o jogador só fica 100% feliz quando ele joga, quando performa em jogos. Não tive oportunidades para que isso acontecesse, mas não posso deixar de enaltecer um ano sem lesões, presente em todos os treinamentos. Quando tive oportunidades, procurei aproveitar o máximo possível por mais que tenham sido poucas. Nos anos anteriores, passei por algumas lesões que acontecem e a gente não consegue prever, principalmente as articulares. Mas fico feliz por esse lado. Só eu sei o quanto trabalho no dia a dia para estar saudável. As oportunidades não surgiram, mas foi um ano positivo fisicamente.
Você acredita que essa falta de oportunidades pode ter sido condicionada por uma preocupação com o seu histórico de lesões ou foi mesmo uma questão técnica?
- É até difícil falar porque eu não tive muito contato. Com o Vitor (Pereira), quando ele chegou eu não estava em uma situação boa. Fisicamente, eu não estava confortável. Estava sofrendo muito para treinar. Muito, muito! Eu vinha de uma lesão na época do Dorival e sofria muito. Saia do treinamento destruído, mas foi uma adaptação. Meu corpo foi se adaptando, fui me sentindo cada vez melhor, e o Vitor teve essa paciência, foi um cara importante. Eu fui evoluindo, comecei a ter oportunidades e ele viu que eu poderia ajudá-lo. Até por isso, me deu uma sequência de dois, três jogos... Quando ele saiu, foi no momento em que eu estava melhor e me sentia fisicamente bem. Eu treinava forte e a minha recuperação era boa. Quando o Sampaoli chegou, as perspectivas eram das melhores. Pelo estilo de jogo dele, pelo meu estilo, eu achei que as oportunidades iam surgir. Não que eu tivesse que ser titular, isso você conquista nos treinamentos e nos jogos.
Bruno Henrique, Rodrigo Caio e Éverton Ribeiro no banco: rotina com Sampaoli — Foto: André Durão/ge
- No primeiro jogo, entrei contra o Ñublense, tive uns 30 minutos, tirei aquela ansiedade e fui trabalhando, trabalhando por novas oportunidades que nunca apareceram. Às vezes, há insegurança do treinador em me expor, mas eu nunca tive um diálogo para que isso fosse esclarecido. "Ah, eu não vou te colocar para você se preparar, subir o seu nível...". E eu sempre ali trabalhando e me sentindo no nível dos outros. Respeitei as decisões dele, continuei a me dedicar, e sempre com a esperança de algum momento. Ele não dava o time e era sempre uma expectativa. Às vezes, eu treinava com os jogadores que vinham jogando e pensava "agora vai", mas não acontecia.
- Foi frustrando, mas sempre trabalhei. Infelizmente, as oportunidades não surgiram, mas eu tinha certeza de que poderia ajudar muito. Eu sei da minha qualidade, sei do meu potencial. Eu não sou o jogador que era cinco anos atrás. Quando você passa por lesões que te machucam, isso é natural e eu tenho essa consciência. Algumas valências que eu tinha três, quatro anos atrás, eu não tenho mais. Mas eu não precisava usar outras características que hoje eu tenho o entendimento. Saber encurtar os espaços, jogar com a inteligência, e eu acho que isso faz a diferença. Mas não tive as oportunidades de mostrar que eu poderia ser útil.
Essa falta de diálogo do Sampaoli você sentiu também de outros setores do clube? Foi algo que te machucou não ter esse tipo de atenção sendo que estava seguro que poderia jogar bem?
- Claro que você pensa que as pessoas vão sempre te ajudar, mas eu aprendi na minha vida a não esperar nada de ninguém. Eu vivi isso no São Paulo. Aconteceu com pessoas que trabalharam comigo, estavam no dia a dia e me conheciam muito bem. Quando aconteceu isso em 2018 com o Diego Aguirre, ninguém me ajudou. Claro que você nunca espera que vai acontecer novamente uma situação de você ficar sem jogar, sem uma oportunidade nem de mostrar. Não é dizer que ele entrou, jogou mal e não merece. Beleza, vou seguir a minha vida. Mas não tive isso. Você fica com aquela questão se alguém vai chegar no cara e perguntar o motivo de não estar jogando. Às vezes, aconteceu isso e eu não fiquei sabendo, mas eu não fico esperando.
- Aconteceu isso no São Paulo e a mesma coisa aqui no Flamengo. Eu segui treinando, me dedicando, e até perguntava aos meus companheiros: "Cara, eu estou mal? Treino mal? Não tenho condição de ajudar?". E eles diziam que eu estava bem e merecia. Eu tenho minha autocrítica, mas poderia estar me confundindo. Não foi o caso. Mas vida que segue, faz parte do passado e tem coisas que não voltam.
- São coisas que me atrapalharam quando o Tite chegou. Por quê? Por mais que ele me conhecesse, ele não ia chegar e logo me colocar para jogar. Ele vai seguir de acordo com o que vinha acontecendo e é justo. Ele não vai tirar um cara que vem jogando, independentemente de estar no mais alto nível, mas está demonstrando uma regularidade. Mas com o Tite eu pude mostrar que estou aqui e que posso ajudar, com o Sampaoli eu não tive essa oportunidade. Mas faz parte do nosso trabalho. O que me deixa muito feliz é que sempre mantive a minha conduta, o meu caráter. Todos os treinadores que passaram aqui podem falar que eu não tinha condição de jogar, é direito deles, mas não podem falar que eu não trabalhei, me dediquei e dei o meu melhor. Isso é o que fica.
Foram alguns anos de lesões graves, dúvidas sobre o futuro, e que você acabou muitas vezes sendo julgado e até cobrado em redes sociais. De que maneira você recebia essas críticas, por mais que fosse uma minoria, e o clube cuidou de você nessa parte mental?
- Ninguém gosta, isso é natural. Ainda mais quando você constrói uma identidade com um clube como o Flamengo. Eu cheguei com algumas desconfianças naturais por ter vindo de um outro clube onde tive uma lesão e fiquei fora da Copa do Mundo. É natural. Mas foi uma desconfiança que logo se desfez, e eu pude ser protagonista dentro de uma equipe muito forte individualmente e coletivamente, o que faz muita diferença para o atleta. Só que, sim, você sempre espera uma mão, um cuidado especial, mas volto a falar que aprendi no futebol porque as dificuldades vieram desde muito cedo. Aos 15 anos de idade, eu tive uma lesão grave e muita gente falou que eu não voltaria a jogar, mas lá eu tive um cuidado especial.
- E eu agradeço muito pelas pessoas que me abraçaram. Tive um professor que até já faleceu, o Bebeto de Oliveira, que foi preparador físico da Seleção. Um cara humano e que foi extremamente solícito para me ajudar. Me levantou da cama, me deu banho, me levou de cadeira de rodas e me ajudou demais. Não só na questão física, mas no lado humano quando me fez me sentir importante no momento mais difícil da vida. Aqui, quando começaram as lesões, era muita piada, muita brincadeira. Eu tento afastar isso de mim, questão de rede social, mas alguma coisa sempre chega e eu tentava levar na brincadeira. No fundo, machuca. Eu nunca quis isso para a minha vida, nunca quis me machucar. Não eram lesões musculares para falar que eu não me cuido. Muito pelo contrário, tenho minha academia em casa e trabalho todos os dias para chegar ao treinamento preparado, mas foram lesões articulares graves.
Rodrigo Caio, do Flamengo, em entrevista ao "Abre Aspas" — Foto: André Durão / ge
- Tive essa lesão grave aos 15 anos e desde lá já sabia que em algum momento o meu corpo ia reclamar. Mas é claro que eu senti falta de uma conversa, de me chamar e falar "estamos com você. O que você precisa? Precisa de ajuda?". Por mais que a gente seja forte, em algum momento a gente baqueia. A gente chega em casa e pergunta o porquê. Por que acontece isso comigo? Em alguns momentos, eu me perguntei. Mas não falo que isso seria o mais importante. Não, porque tenho uma família que me ama, tive uma conexão muito forte com Deus e senti o verdadeiro significado da minha vida. A gente pergunta por qual motivo passar por isso, se é para acontecer. Não, Deus não quer que nada de mau aconteça conosco, mas em alguns momentos precisamos passar para entender o verdadeiro significado de estarmos aqui. Muitas vezes eu me achava forte o suficiente para passar por todas as dificuldades, e não é dessa forma.
- Eu passei por todas as lesões, eu superei todas as lesões, mas não fui eu que me mantive forte. Foi Deus que me manteve forte e de pé para superar as dificuldades. Foi assim que eu preenchi o vazio de alguma forma das pessoas que estavam ao meu redor e poderiam me ajudar. Não é uma crítica, mas é um alerta. Porque pode acontecer com outras pessoas e elas têm que ter a atenção para chegar ali, perguntar, se fazer presente. Essas pessoas podem não conseguir superar. Eu consegui! Mas há pessoas que a partir de brincadeiras não estão nem aí para o seu bem-estar mental e físico, pessoas que não querem saber se você vai conseguir passar pelas dificuldades, querem brincar e zoar. Elas têm que ter essa atenção. O Rodrigo conseguiu superar, mas e o João: será que vai conseguir? Isso pode acabar não só com a carreira, mas com a vida de uma pessoa. É preciso ter atenção para a parte mental, ajudar, dar um apoio, dar a mão nos momentos difícil, e não só no momento bom ir dar tapas nas costas e falar que você é bom, é top, é o melhor... Vale uma reflexão.
Ao mesmo tempo que existem as cobranças, indiscutivelmente há também um carinho e uma relação muito forte entre você e a torcida do Flamengo. Mesmo nesses momentos difíceis, foi possível sentir isso?
- Com certeza. Muito maior do que as brincadeiras. Sem dúvida nenhuma. Todo carinho, todo respeito que eu recebo no dia a dia com minha família. É muito grande! (A crítica) é uma minoria. A rede social hoje em dia virou uma plataforma muito grande para as pessoas que não colocam a cara e ninguém sabe quem é. Vão ali xingar, zoar, criticar, e ninguém sabe quem é. É uma minoria que não podemos dar importância para isso. Agora, a maioria sempre me respeitou e deu carinho, independentemente das circunstâncias em todos os lugares. Nunca! Nunca eu tive uma brincadeirinha de alguém que me encontrou em algum lugar, isso eu posso dizer com toda certeza. Nada tipo: "Pô, você só se machuca, você é de vidro".
- Essas brincadeiras que fazem por aí nunca fizeram comigo e eu só posso agradecer o respeito que todos têm por mim. É muito grande. Acredito que toda nação se sentiu representada por mim em campo, e é isso que fica. Sempre que eu entro em campo, dou o meu máximo, o meu melhor, e deixou minha vida. Acredito que todas as lesões que eu tive foram pela minha característica de jogo. Um cara muito forte e que independente da jogada está sempre competindo ao máximo e acontece.
- Os meninos até brincam: "Saudade de você sair com a cara cortada e sangrando". Era algo meu, sempre foi, desde moleque. As pessoas falavam para eu me proteger e eu não conseguia, é minha característica, meu jeito de jogar. O que fica muito mais marcado é o carinho que eu recebo das pessoas que pedem para eu voltar jogar, a ter oportunidade. É isso que fica, a gratidão por toda energia e respeito que me passam.
Rodrigo Caio, do Flamengo, em entrevista ao "Abre Aspas" — Foto: Andre´Durão / ge
Você falou da importância do testemunho para ajudar os outros e da necessidade de apoio. Você chegou a ser diagnosticado com depressão? Procurou apoio psicológico em algum momento?
- O ano de 2021 foi muito difícil para mim. Muito difícil. O Renato Gaúcho foi um cara que sou eternamente grato, foi um cara que me ajudou muito. Eu não aguentava mais, estava no limite, muitas dores, e ele me deu calma, falou que íamos superar isso, jogar os jogos importantes e eu falei que iria até o fim, até a final da Libertadores. Acabei definindo fazer a artroscopia para aliviar as dores e acabei pegando a infecção, que foi o momento mais difícil da minha vida. Eu fiquei 13 dias internado, muito mal, mal, mal... Passa tudo pela sua cabeça, que você vai morrer, que não vai voltar a jogar, e foi o momento que eu me apeguei mais com Deus.
- Eu parei de ficar perguntando o porquê e dizendo que eu não merecia. Só me aproximei com Deus de colocá-lo na frente de todas as coisas e ser grato. Agradecer mesmo diante daquelas dificuldades. Por que agradecer? Cara, eu era improvável. Eu com 15 anos tive uma lesão surreal que muita gente falava que eu não ia jogar mais, e com 30 anos eu estou performando. Conquistar tudo que eu conquistei, chegar na Seleção... Então, comecei a agradecer e entender que Ele tinha um propósito maior na minha vida. Mesmo assim, com as dificuldades, houve um momento em que eu dei uma baqueada e comecei a procurar e fiz algumas sessões (com psicólogo), mas não sentia que era isso e não estava me ajudando.
- Aí, parei de fazer e a única ajuda foi Deus mesmo. Me aproximei, me batizei, comecei a ter mais afinidade e sem dúvidas foi ele que me livrou de todos os pensamentos negativos, das dificuldades, de entender verdadeiramente o meu propósito e passar uma mensagem para as pessoas que a gente pode independentemente as circunstâncias. Foi esse o processo. Por mais difícil que seja, temos que ter um sentido, e encontrei esse sentido de me aproximar e ter uma afinidade com Deus.
A gente é seduzido muitas vezes a falar do que faltou de apoio, de carinho, mas você também teve pessoas importantes que sempre se mostraram ao seu lado. Lembro de uma visita de vários jogadores ao hospital... O quanto os jogadores foram importantes nessa trajetória?
- Construímos um grupo especial. Claro que alguns com mais afinidade, outros menos, mas é um grupo muito bom que se sente bem de estar junto. Não apenas no Ninho e nos jogos, mas fora dali. A gente se encontra, compartilha momentos com a família, e isso faz total diferença. Eu nunca tive essa união e amizade tão fortes. Sou muito grato a cada um deles. Filipe, Renê, Arão, Diego Ribas, Diego Alves, Bruno Henrique, Everton Ribeiro, Gerson... São pessoas que foram essenciais. Hoje, o Pablo, que é um cara que passamos juntos pelas mesmas dificuldades neste ano, e é um cara que me inspira muito pela resiliência, pela força. Você olha e se identificar. E os treinadores também, o próprio Dorival era um cara com quem eu estava jogando e depois me machuquei e fiquei fora das conquistas. Mas estava sempre perguntando, sempre cuidando. Os profissionais do clube, o staff me deu a mão, me ajudou... Sou muito grato porque sozinho não conseguimos nada.
Quando voltou a jogar em 2022, você deu uma entrevista muito forte em que disse ter dificuldades até para segurar seu filho no colo e que começaria uma nova história respeitando os limites do seu corpo. Como tem sido essa nova história? O que ficou de ensinamento?
- Eu entendi que precisava respeitar o meu corpo e em muitos momentos eu não respeitei. Cheguei ao meu limite físico. Em alguns momentos, eu não conseguia andar. Ia para o treino, me arrastava, voltava e ficava muito mal no dia a dia. Não conseguia curtir minha família e fiz uma promessa para mim mesmo de que não ia deixar nunca mais isso acontecer. Muito pela minha família. Eu quero curtir, aproveitar meus filhos, brincar, jogar bola com eles. Isso me fez refletir muito sobre o que o Rodrigo tem após o futebol. Às vezes, ficamos obcecados em jogar, treinar muito, isso, aquilo e não entendemos que a vida não acaba quando acabar o futebol. Eu tenho mais 50 anos pela frente e preciso estar saudável para aproveitar a vida, meus filhos, minha esposa, minha família...
- Eu tenho esse entendimento, mas é difícil para quem é competitivo e quer treinar, jogar, melhorar. Eu tenho isso comigo. Diariamente converso com meu fisioterapeuta para melhorar, jogando ou não, mas agora com mais calma e menos entusiasmo. Antes eu só pensava em treinar e jogar. Hoje, tenho um entendimento maior e quero levar até o fim da minha carreira. Não sei mais quantos anos vou jogar, até meu corpo me dizer, minha mente, mas sempre com esse pensamento. Se tiver que descansar, descansa. Pensa no teu corpo, na sua saúde, para poder estar forte para performar e pensar no pós-carreira também.
Rodrigo Caio, do Flamengo, em entrevista ao "Abre Aspas" — Foto: André Durão / ge
Antes mesmo de o clube se posicionar sobre uma não renovação, você já tinha decidido que era hora de ir embora. Como foi esse processo, essa decisão de encerrar a passagem pelo Flamengo?
- No meio do ano, tive uma conversa bem franca com a minha esposa sobre como seria o nosso futuro e foi uma decisão em conjunto. Muita oração, pedindo uma direção, mas ali tivemos uma certeza de que precisava de um novo ciclo. Eu entendi pelo dia a dia, por tudo que eu estava vivendo dentro do clube, e entendi que minha história ali precisava ter um fim. Logo em seguida, passou um tempo e numa conversa com a diretoria me passaram (que não iam renovar), eu passei que pensava da mesma forma. Foi uma decisão em comum acordo. Tudo tem um início, um meio e um fim.
- Minha história aqui é maravilhosa, só tenho a agradecer por tudo que construí dentro do Flamengo. Pelas conquistas, pelas amizades, pelo carinho e respeito de toda nação, que é muito grande. Me sinto muito lisonjeado com isso. Eu nunca imaginei jogar em outro clube no Brasil, que sairia do São Paulo e jogaria em outro clube. Todo mundo sabe que sempre fui são-paulino desde pequenininho e eu falava isso para minha família, que ia sair do São Paulo para ir para Europa e retornaria. Mas em 2018 aconteceu todo um cenário onde eu duas semanas antes da Copa do Mundo tive uma lesão surreal no pé que me impossibilitou de brigar até o último minuto com o Geromel quem seria a quarta opção.
- Disputar uma Copa era um sonho, sofri uma lesão no pé no jogo com o Ceará no último minuto e perdi essa oportunidade. Não terminei a temporada da forma que gostaria e foi uma decisão minha. Antes eu falava que nunca ia jogar em outro clube, mas ali o ciclo tinha se encerrado e eu tinha que sair de lá. O Flamengo logo entrou em contato e eu senti no meu coração que tinha que ir, tinha que aceitar esse desafio. Construí a minha história aqui. Ganhei, perdi, tive minhas tristezas, e no meio do ano tive a certeza de que era o momento de sair com o coração muito em paz. Tenho certeza que o novo ciclo será maravilhoso. Creio que Deus vai abrir uma porta especial para seguir minha carreira e construir novos objetivos e será especial.
Você se despede junto com o Filipe, há um ano se despediram os Diegos... Vocês têm noção do tamanho do feito dessa geração na história do clube? Que vocês vão ser lembrados para sempre?
- Até arrepia. Por mais que a gente sonhasse com tanta coisa, quando a gente vive fala: "Caramba! Será que eu mereço tudo isso?". Foi algo surreal tudo que eu vivi aqui nesses quase cinco anos. Foram títulos e mais títulos, e nunca imaginei. Só vai cair a ficha mesmo quando a gente sair daqui, passarem os anos. Como as coisas são tão reais aqui, a gente não consegue imaginar o que fez. Tive a mesma sensação nas Olimpíadas, quando conquistamos a primeira medalha de ouro. Hoje que eu paro para pensar. Com o passar dos anos, a nossa história vai continuar e vamos pensar: "Caramba, o que a gente fez foi algo espetacular".
- Sou muito grato de ter tido a oportunidade de viver isso. Nunca imaginei e consegui me entregar ao máximo nesses cinco anos da melhor forma. Independentemente das circunstâncias, das dificuldades, das dores... Tudo o que vivi de alegria e tristeza, se eu colocar na balança as alegrias são muito maiores. O que eu vivi de dificuldade foi só uma página de um livro que a gente escreveu e sem dúvidas vou lembrar eternamente de tudo que vivi aqui no Flamengo com o maior carinho e gratidão.
Por tudo que foi conquistado, você acredita que daqui para frente será lembrado muito mais como o Rodrigo Caio do Flamengo do que o Rodrigo revelado pelo São Paulo?
- Por mais que eu tenha o carinho e o respeito ao São Paulo, hoje eu vejo o Rodrigo Caio do Flamengo. A história que eu construí aqui vai ficar eternizada no meu coração e na minha memória. Meus filhos são flamenguistas. O Bernardo ama ir ao estádio e ficar cantando "Mengo! Mengo!". Minha esposa, meus pais, e eu. O amor que eu tenho pelo Flamengo é imenso. Hoje eu sou um flamenguista, um cara que vai torcer e vibrar pelas histórias e conquistas.
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Quando o Fábio Mahseredjian vem a público e elogia sua condição física com tanta convicção, quando chega o Tite que tentou te levar para duas Copas do Mundo, isso mexe nessa decisão de saída ou em momento algum você repensou?
- A decisão já estava muito decidida no meu coração, mas que deu vontade de terminar minha passagem com chave de ouro, de jogar, de performar e mostrar novamente o Rodrigo Caio, sem dúvidas. Isso que sempre me manteve vivo. Todos os dias que eu ia para o CT, eu trabalhava acreditando em ter uma oportunidade, em jogar e em jogar muito. Em estar pronto e preparado. Era isso que me mantinha dentro do CT. Não vou dizer que foi fácil.
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- Muitas vezes eu não queria estar lá e falo com os meus companheiros que era muito mais por eles, treinando por eles. Tudo o que eu vivi esse ano foi muito difícil. Não tinha nenhuma perspectiva. Teve treinamento que eu sabia que independente do que eu fizesse, eu não ia jogar. E falava: "Pessoal, estou aqui por vocês, pelo respeito que temos um pelo outro, por aproveitar o que construímos e é difícil viver novamente". Mas você fica na expectativa depois do preparador físico te elogiar, te mostrar. No dia seguinte, eu fui dar um abraço e falei com ele: "Obrigado".
- Ele disse que só falou a verdade, mas as pessoas não têm coragem de falar a verdade no mundo que a gente vive, de assumir e falar: "É isso". Foram oito meses com o Sampaoli. Alguém teve coragem de falar a verdade que eu estava bem? Que a minha oportunidade ia chegar? E teve a chance! Lembro de um jogo contra o Cuiabá que eu achei que ia jogar. O David tinha machucado e estava sendo preparado para o jogo com o Olimpia, a gente jogou com o Cuiabá 20h30 lá, o Fabrício suspenso, o Léo machucado, e ele botou o David, que tinha acabado de voltar, para jogar. Acabamos perdendo por 3 a 0. Você pensa: "Que bom que não jogou". Mas eu penso sempre diferente. Por mais que não seja, eu tenho que ter a confiança em mim de que faria algo diferente. Faz parte.
- Mas a decisão estava tomada dentro do meu coração com uma paz muito grande para seguir minha vida com novos ciclos, mas com carinho e respeito de toda torcida. Eles criticam muitas vezes, xingam muitas vezes, mas a gente sabe o que é ser torcedor com paixão, com emoção. Não tenho um "a" para falar da torcida independente das circunstâncias. Só uma minoria que fica atrás de uma câmera e faz brincadeiras, mas a torcida que vai ao estádio, que apoia e critica, eu não tenho um "a". E a admiração que eles têm por mim é a admiração que eu tenho por eles.
Você falou sobre falta de perspectivas, e algumas vezes o Sampaoli foi questionado em entrevistas sobre situação e falava que você estava atrás fisicamente. Acredita que faltou clareza dele neste processo?
- Claro. Com certeza! Em nenhum momento aconteceu de ele externar isso publicamente ou conversar comigo dentro do clube. Até aconteceu com alguns atletas dele falar que não contava, mas comigo não. E eu tive algumas possibilidades de sair no meio da temporada, mas não quis. Queria encerrar minha passagem pelo clube de outra forma. Por mais que fosse importante para mim sair e jogar, mas foi minha decisão. Nas poucas conversas que tive com o Sampaoli, fui bem claro ao externar que podia ajudar a equipe. Não era o mesmo jogador que ele quis levar para o Sevilla em 2016, durante as Olimpíadas. Isso eu não sou. Mas infelizmente em nenhum momento aconteceu de ele me dar oportunidade por opção dele.
- Em 2016, ele me ligou, tinha acabado de levar o Ganso e queria que eu fosse para o Sevilla. Agora, ele disse que por duas horas eu fui jogador do Sevilla, mas mudou por questões de empresários. Depois, eu refleti e vi que foi um livramento de Deus não ter ido. Será que não aconteceria a mesma coisa? Por isso que às vezes a gente não entende. Naquele momento, eu fiquei muito triste. Era uma oportunidade grande, tinha o sonho de jogar na Europa. Mas tem coisas na vida que a gente não entende, esbraveja, e lá na frente entende que é uma coisa que não seria para o seu bem, que é um livramento. Temos que ter a paciência, a calma, porque o que é seu é seu.
Por mais que você tenha passado por temporadas com lesões mais graves, esse ano, mesmo sendo o seu mais saudável, foi o seu mais difícil psicologicamente?
Com certeza! Nos outros anos, eu sabia que ia me tratar, me recuperar e ter oportunidade de mostrar que estava bem como sempre fiz. Se você pegar todas as minhas voltas, eu voltei e performei. As lesões me tiraram muitas valências, isso é nítido, mas muitas coisas que eu não usava antigamente no meu estilo de jogo, eu preciso usar por causa dessa condição. E isso não quer dizer que eu não possa performar. Eu só não parei de jogar em 2022... Eu estava no limite, peguei infecção, perdi oito quilos, pesei 67kg e estava muito mal. Treinava e saía foco pela minha orelha, pela minha boca, de tanto antibiótico que eu tinha tomado por quase um mês. Era dor para caramba e eu falei: "Cara, vou parar!".
Pensou realmente em parar?
Rodrigo Caio foi homenageado com mosaico em Flamengo x Cuiabá — Foto: Fred Gomes
- Pensei! Falei para minha esposa: "Amor, vou parar". E ela me passou calma. Foi aí que eu fui em busca de me aproximar de Deus, me conectar, me fortalecer e entender o verdadeiro significado de tudo o que acontecia comigo. Fui atrás de médicos especialistas, fisioterapeutas... Fiz tudo, tudo! Aí, comecei a me sentir bem novamente, mas com a certeza de que não ia mais sofrer. Se eu voltasse a sofrer, ia parar. E as coisas voltaram a acontecer. Chegou 2023 e muita dificuldade. Não jogava, não tinha uma oportunidade... Por eu estar bem fisicamente, mentalmente estava me desgastando muito. Era uma briga constante comigo.
- Eu brigava com o Sampaoli mentalmente a todo minuto. O Pablo mesmo fala isso também. Eu discutia com ele aqui (na cabeça). O Rodrigo, o Pablo, o Filipe, nós temos uma imagem. Que imagem íamos passar? De chutar o balde, brigar com o cara e perder a razão? Não.
- Mas tinham momentos que eu não queria estar ali, não queria treinar. Pedia forças e falo muito com o pessoal sobre isso de estar ali pela amizade e pelo respeito, pelo incentivo de um com o outro. Já com a vinda do Tite tudo mudou pelo perfil dele, pela forma que ele gere o grupo e você renova as esperanças. Não foram tantas oportunidades na minha posição, mas entrei, joguei, me senti importante. Enfim, não foi um ano fácil. Me recuperei das lesões, mas mentalmente foi difícil. Queria terminar o meu ciclo campeão brasileiro, é meu campeonato preferido. Todo mundo fala da Libertadores, que leva para o Mundial, mas eu sempre falei que preferia o Brasileiro, que é o mais importante, e consegui vencer dois aqui. É o mais difícil e o que eu sempre sonhei.
Olhando para frente, como que você acha que o mercado te enxerga neste momento? As questões físicas dos últimos anos te preocupam? É algo que precisa ser informado que está saudável?
- É difícil, né?! Eu imaginava que teria mais oportunidades para mostrar que estou bem. Não tem o que falar, as pessoas me viram jogar muito pouco. Viram esses três últimos jogos, que me dão uma tranquilidade por enxergarem que estou bem, mas estou muito tranquilo por me sentir bem, confortável e saudável. Espero que as oportunidades surjam. Tem chegado bastante coisa e quero tomar essa decisão com calma e paciência. Queria ter falado antes sobre essa questão até para as pessoas entenderem que fechei esse ciclo, porque ainda relacionavam que poderia renovar, mas vou aguardar o melhor cenário.
- Vou ser sempre sincero da forma que estou, de como hoje é minha vida, meus treinamentos, da parte que eu faço fora do clube para que eu possa me manter saudável e entender as oportunidades que os clubes vão me oferecer. Ainda me sinto muito apto para performar. É isso que me motiva para continuar. Eu não quero ficar sofrendo e batendo cabeça se fisica e tecnicamente não estivesse bem. Aí, seria a hora de encerrar a carreira, mas não é isso. Ainda me sinto muito capaz para um projeto bacana onde eu possa brigar por grandes objetivos. Não vou sair do Flamengo para ir para um lugar que não brigue por grandes coisas, se for isso eu vou seguir para outro lugar. Vamos aguardar.
Por falar nisso, é bom que você explique definitivamente sobre esse joelho, o por que dele ser assim "diferente", o que aconteceu, mas que ele é saudável?
- É feio (risos). Eu tive uma fratura na patela com 15 anos. Fraturei no meio e quebrei as partes inferiores em pedacinhos e ficou assim deformadinho. Não é tão feio assim, né? (risos). É bonitinho. Mas assim... Sofri bastante. Em 2020, tomei uma outra pancada em cima desse joelho e acabei sofrendo um pouco. Hoje, graças a Deus, ele é o que menos me dá trabalho. Consegui estabilizar bem. Ele é feio, esteticamente tem uns biquinhos porque tive que tirar um pedacinho e ficou um pouco deformado, mas é super saudável graças a Deus. Meus joelhos estão prontos para performar e só agradeço ao Papai do Céu. Só ele para nos cuidar e nos livrar do que é difícil. É a testa do Renê (risos)!
Rodrigo Caio, do Flamengo, em entrevista ao "Abre Aspas" — Foto: André Durão / ge
Voltando ao Flamengo, quais os cinco momentos mais marcantes dessa sua passagem?
- Acredito que meu primeiro gol contra o Boavista, o Flamengo x Athletico-PR com gol da vitória no último minuto com o Maracanã explodindo no último jogo do Abel.
- A final da Libertadores foi surreal, surreal, surreal... Vou com o gol contra o Grêmio no 5 a 0, que foi um jogo marcante. A final da Supercopa eu não queria bater o pênalti nunca, eu e o Arão. Não gostava de bater pênalti, mas não tinha ninguém e falei: "Eu vou". Estava vendo o Weverton só caindo para o lado direito e eu pensei: "Vou bater uma paulada no meio". Quando botei a bola, olhei para ele, ele olhou para mim, pensei que ele fosse ficar parado com certeza. E agora? Bati no cantinho e foi gol.
- E fico com a final do Mundial. Não ganhamos, mas foi um dia único para nós. Chegar lá e jogar de igual para igual com um timaço. Eles mereceram ganhar? Mereceram mais, tiveram mais oportunidades, mas a força que a gente faz para jogar contra esses caras é muito grande. O time deles é uma máquina, foi especial, me senti muito bem e foi um dos mais marcantes com a camisa do Flamengo. Podemos pontuar vários... Vou tirar o gol do Boavista e botar a final da Supercopa para fechar cinco que vão ficar eternizados na minha memória.
Você falou que a final da Libertadores de 2019 foi surreal. Depois de quatro anos, quais as memórias que você tem daquele momento? Tem imagens de vocês sem acreditar na hora da virada...
- É até difícil porque foi algo surreal! A sensação que eu tinha desde o começo é que a gente não ia perder. Essa era uma sensação de muita tranquilidade. O Filipe Luís usa a palavra soberano. A gente se sentia muito soberano nos jogos, com inteligência, tranquilidade e calma. Era uma final de Libertadores, cenário totalmente adverso, mas em nenhum momento nos apavoramos, até mesmo nos momentos dos gols com calma e toques. Mas a partir do momento que sai o gol você se transforma.
- Lembro de uma imagem eu chorando para caramba, e é difícil eu chorar, eu me emocionar. Ali foi um momento único que você pensa: "Meu Deus! Está acontecendo mesmo". Foi especial e mágico, um dos momentos mais marcantes dessa minha história com o Flamengo. Tantos anos sem ganhar, da forma que foi, tudo o que vivemos dentro da Libertadores. Coloco como a cereja do bolo de todos esses cinco anos.
Para finalizar, você chega ao Rio com muito a provar e agora se despede ídolo do Flamengo, casado, pai de duas crianças... O quanto esses anos te mudaram como pessoa?
- A gente veio com uma dúvida muito grande para morar no Rio de Janeiro por tudo o que falam. Eu me transferindo de um clube gigantesco para outro com as dúvidas muito mais para fora do que minhas. Eu confiava que ia performar e ser protagonista em um clube gigante como o Flamengo. Construí um legado. Construí minha família. Casei, tive meus filhos aqui, me batizei... Isso vale mais do que qualquer coisa. Às vezes, a gente só pensa pelo lado profissional do atleta, mas o Rodrigo pessoa é muito melhor do que quando chegou. Construí minha família, criei um ciclo de amizade muito grande, conheci pessoas maravilhosas que vou levar para a vida e não vai parar por aqui essa amizade. Viver aqui foi especial, não só dentro do futebol, mas do lado humano. Saio daqui muito fortalecido e pronto para os novos desafios.
O que você vai contar para seus filhos do seu período no Rio de Janeiro?
- As melhores possíveis e fazemos questão. Temos várias fotos, imagens e tudo para passar para eles. São as melhores sensações possíveis. Tudo o que vivemos aqui foi especial. Minha esposa ama o Rio de Janeiro. Ficamos até na dúvida de onde morar, mas também amamos São Paulo e fica mais próximo da cidade dos nossos pais. Mas vou passar as melhores coisas desses momentos marcantes e de muita alegria, de uma construção não só do Rodrigo atleta, mas de um jovem que chegou solteiro, casou e construiu uma família. Tenho uma esposa especial, duas crianças abençoadas... Tudo o que vivi aqui foi especial!
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