Um novo estádio, no Rio de Janeiro. A possibilidade de um clube-empresa, como meio para captar dinheiro. Uma eleição presidencial antes de qualquer decisão estratégica, a fim de decidir o sucessor de Rodolfo Landim. O futuro do Flamengo passa por esses três assuntos, e todos envolvem direta ou indiretamente as finanças. A partir da leitura das demonstrações financeiras rubro-negras, é possível notar que o clube vem se preparando para esse grande investimento. Dívidas foram reduzidas nos últimos anos, o índice de alavancagem está baixo, o que abre margem para um novo ciclo de gastos. Como as receitas continuaram crescendo e batendo recordes, hoje na casa do R$ 1,3 bilhão, o Flamengo pôde manter o ritmo tanto nos custos, com a folha salarial mais alta do futebol brasileiro, quanto nas contratações de atletas. O que faltou em 2023, mesmo, foram títulos.

As notas foram atribuídas por Grafietti, da consultoria Convocados, com base nas demonstrações contábeis referentes aos últimos 12 anos. O conceito é usado no mercado de capitais para classificar empresas: a partir da combinação de uma série de métricas, gera-se uma nota. No caso do rating para o futebol, o especialista considera elementos como receitas, custos, EBITDA, investimentos e valores a pagar para bancos, entidades, agentes, fornecedores, parcelamentos etc. Cada um tem um peso pré-determinado para determinar o status de cada clube.

Em 2023, o faturamento do Flamengo aumentou e chegou a R$ 1,3 bilhão. Direitos de transmissão renderam menos, devido à queda na performance, pois premiações são contabilizadas nessa linha. Mas transferências de atletas e o Maracanã compensaram, com sobras. Os gastos com pessoal — que incluem salários, encargos trabalhistas e direitos de imagem — ficaram quase no mesmo patamar, enquanto despesas administrativas do clube aumentaram. Na soma de ambos, o Flamengo teve um custo de R$ 804 milhões na temporada.

Em 2023, o endividamento do Flamengo foi mantido em R$ 391 milhões. Dívidas bancárias estão zeradas, o que economiza em juros e reforça a tese do preparo para o novo ciclo de investimentos. As obrigações atuais são majoritariamente operacionais, ou seja, ligadas ao presente do clube. O cálculo de Grafietti para a dívida inclui tudo o que deverá ser desembolsado, menos o que está disponível em caixa.

Por outro lado, é possível que o clube tenha valores a receber por direitos de jogadores que vendeu, ou de patrocinadores e parceiros comerciais, o que eventualmente torna a dívida mais fácil de lidar no curto prazo.

EBITDA: R$ 486 milhões (positivo) Investimento em base: R$ 16 milhões Investimento em contratações: R$ 280 milhões Investimento em infraestrutura: R$ 41 milhões. EBITDA é a diferença entre receitas e custos, antes de descontar juros, depreciações e amortizações. Menos complicada do que a sigla faz parecer, ele indica a saúde financeira do negócio. E, no caso do Flamengo, o número positivo mostra que o ponto de partida é muito favorável. O investimento na compra de jogadores "prontos" está entre os mais altos do futebol brasileiro. Um luxo que a geração de caixa permite, pois é possível dar conta de todos os custos, dívidas e ainda apostar, com larga margem de erro, em reforços no mercado de transferências de atletas.