“Eu posso me denominar um treinador sem memória. Não tenho museu em casa, não tenho lugar para memórias. Gosto de apagar e ir para o próximo. E os jogadores que quiserem vir comigo vão entender que eu sou agradecido, que há gratidão pelo que aconteceu até agora, mas ficou para trás”. Com essa declaração, Filipe Luís mostrou que a fome por mais títulos continua insaciável. E não são poucos em seu currículo rubro-negro. Foi campeão 10 vezes como jogador e, neste domingo, após vitória marcante sobre o Atlético-MG em Belo Horizonte, deu sua primeira volta olímpica como treinador. As palavras soam também como um incentivo ao grupo de atletas, e elas têm muito valor. Mas Filipe Luís terá que refrescar, sim, sua memória e revisitar essa conquista. Ela é muito marcante e poderá servir de exemplo para momentos de pouca inspiração e de dificuldades.
Filipe disse que não herdou um caos e agradeceu algumas vezes a Tite em suas entrevistas coletivas, porém o trabalho dele é muito autoral e transformador. Ele devolveu o Flamengo ao seu DNA: disse que ia correr riscos, atacar sempre com três na área, e o fez. O Flamengo de Tite jogava um futebol modorrento e, no modo arame liso, não furava retrancas. Além disso, tropeçava aos montes e já estava fora da Libertadores. Não havia mais clima, e a vitória por 1 a 0 sobre o Athletico-PR mostrou isso, com o Maracanã xingando de forma uníssona o gaúcho de 62 anos, que cairia dias depois.
Fiel às suas convicções, Filipe Luís avisou que deixaria jogadores bravos, e é possível que isso tenha acontecido. Titulares com Tite, Varela e Fabrício Bruno foram sacados no primeiro jogo. Se Fabrício eventualmente tenha ficado chateado, é compreensível. Jogava muito bem e vinha sendo convocado pela seleção brasileira. A questão é que a entrada de Léo Ortiz foi muito certeira, e o Flamengo , além de um bom defensor, ganhou um construtor de jogo.
Na estreia, contra o Corinthians, o placar foi de 1 a 0, mas a atuação foi para mais. Com 19 finalizações, o time poderia ter matado a semifinal da Copa do Brasil ali. O time perdeu inúmeras chances, e os paulistas saíram do Maracanã no lucro. “Ganhar, ganhar e ganhar” No vídeo de bastidores divulgado pelo Flamengo depois da vitória por 2 a 0 sobre o Bahia, Filipe Luís foi flagrado repetindo o verbo ganhar 10 vezes na preleção.
Filipe Luís utilizou o esquema com três zagueiros duas vezes pelo Flamengo . A primeira foi circunstancial, na partida de volta da semifinal com o Corinthians. Torcedores, analistas e até o autor desse texto estranharam quando Filipe, ao ver Bruno Henrique expulso aos 27 minutos, optou por Fabrício Bruno no lugar de Gabigol. Ele estava certo. Preencheu a frente da área e ao mesmo tempo tirou a amplitude dos paulistas, que abusavam no jogo de cruzamentos pelas pontas.
Filipe Luís estava na dúvida entre começar com Fabrício Bruno num 3-5-2, ou jogar no 4-4-2 (ou um 4-2-3-1 dependendo da ótica de quem vê). Preferiu a segunda opção e teve dificuldades. O Galo teve mais volume, porém as principais chances foram do Flamengo . Gerson, Arrascaeta e Evertton Araújo estiveram perto de marcar.
A finalização mais importante do jogo veio para mostrar que, além de um técnico muito promissor, Filipe tem estrela. Não, não foi sorte. O homem a entrar era Plata, mas tinha que ser logo ele a fazer o gol do título? E ainda mais um golaço. Pois foi assim: a jogada teve como protagonistas Bruno Henrique, que mudou o jogo, e Plata, o escolhido por BH para decretar o penta. Com um passe de trivela, Bruno acionou o equatoriano, que também deu lindo drible e finalizou com o pé menos forte lindamente.
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