Os pais dos dez garotos que perderam a vida no incêndio do Ninho do Urubu receberam com grande consternação a decisão do juiz Tiago Fernandes de Barros. A notícia foi divulgada de forma quase simultânea, quando Darlei Pisetta, pai do goleiro Bernardo, que faleceu aos 14 anos, publicou o comunicado em um grupo de WhatsApp. A indignação foi unânime entre os familiares.

"É uma falta de respeito. Como uma tragédia dessas pode ocorrer sem que haja um culpado?", questionou Cristiano Esmério de Oliveira, pai do goleiro Cristian, que tinha apenas 15 anos quando morreu. A dor da mãe de Jorge Eduardo, que estaria completando 16 anos uma semana após a tragédia, foi palpável. "Quando li no grupo, minha nora me ligou para contar. Senti uma ânsia de vômito e uma dor forte de cabeça. Estou revoltada", desabafou Alba Valéria dos Santos Pereira. A janela da casa de Alba, localizada em Além Paraíba-MG, tem vista para o cemitério onde seu filho descansa.

Alba lamentou: "Olho para lá e lembro que meu filho está enterrado. Fiquei pensando: ‘O que vou dizer a ele?’. Acredito na Justiça, mas estou muito triste". A avó e mãe adotiva do atacante Isaias Coelho da Silva, Dona Josete Adão, vive isolada em Florianópolis e revela que há sete anos busca terapia para lidar com a dor. Segundo ela, a sensação é de que os meninos são tratados como se fossem os culpados pela tragédia, um sentimento de que suas vidas não importam. 

"Mataram dez crianças e ninguém é responsabilizado. O poder é quem manda. Mas a Justiça de Deus não falha", afirmou Cristiano. A Afavinu (Associação dos Familiares de Vítimas do Incêndio do Ninho do Urubu) anunciou que recorrerá da decisão que inocentou todos os réus do caso. Darlei Pisetta, residente em Timbó-SC, expressou sua indignação: "A notícia chegou como um choque, trazendo de volta a sensação de impotência da morte do meu filho. Parece que a Justiça não se preocupa com as famílias afetadas".

Ele também destacou: "Quando entregamos nossos filhos ao Flamengo, esperávamos que estivessem seguros. Após a morte de dez meninos, ninguém é responsabilizado? Que mundo é esse?", reclamou. Sara Cristina Matos, mãe de Pablo Henrique, que faleceu aos 14 anos, confessou que agora sente "ódio" pela situação. "Estávamos errados em confiar nossas crianças ao Flamengo. Hoje, tenho muito ódio, embora antes não sentisse raiva”, disse.

Edson Matos, pai de Pablo, garantiu total apoio ao recurso da Justiça: "Precisamos fazer algo a respeito". Em um comunicado publicado recentemente, a Afavinu protestou contra a decisão da Justiça do Rio de Janeiro, a qual considerou uma "grande afronta à memória das vítimas e aos sentimentos da sociedade". A associação reiterou sua determinação em buscar justiça e espera que a decisão seja revista.

No comunicado, a Afavinu enfatizou que a Justiça deve exercer uma função pedagógica essencial, prevenindo novas tragédias e enviando uma mensagem à sociedade de que a negligência e a falta de segurança não serão toleradas. "Os jovens falecidos estavam em condições inseguras, dormindo em contêineres improvisados sem alvará adequado e com falhas que comprometeram sua segurança", destacou a nota.

A Associação prometeu lutar incansavelmente para que as vidas dos jovens não sejam esquecidas e que a tragédia do Ninho do Urubu não se repita. O apelo final da Afavinu foi um convite à sociedade, à imprensa e a todas as entidades de defesa dos direitos humanos para que se unam na luta por segurança e justiça, assegurando que a vida dos jovens atletas seja sempre respeitada e protegida.