Apesar da beleza e da simpatia, Bárbara Timo rejeita o rótulo de musa e só quer focar no judô (Foto: Marcello Pires)
A morte da mãe Deize, vítima de câncer de mama, em 2007, foi o único ataque que a judoca Bárbara Timo não teve como se defender. O duro golpe poderia ter tido o efeito de um ippon na vida da então adolescente de 16 anos. Mas a atleta do Flamengo preferiu a luta às lágrimas e se agarrou ao judô para contra atacar a dor.
A escolha foi tão acertada que o destino passou a jogar a favor, e até a medalha de prata conquistada na última quinta-feira nos Jogos Sul-Americanos de Santiago, no Chile, teve um sabor diferente. Se geralmente o vice costuma ter um gosto amargo, já que quase sempre vem acompanhado de uma derrota, no caso da peso-médio (70kg), não. Principalmente quando se tem uma bicampeã mundial pela frente logo na estreia.
A derrota para Yuri Alvear veio, mas não abalou Bárbara. Como a competição foi disputada no sistema de rodízio - quando a categoria tem somente até cinco atletas -, o ouro ainda era possível e a brasileira fez sua parte. Venceu suas três lutas seguintes e seguiu sonhando com a medalha dourada. O problema foi que a colombiana número 1 do mundo fez o mesmo e não deu sorte para o azar.
- Nunca tinha lutado contra a Yuri, mas fiz uma boa luta. Numa chave normal eu teria ido para a repescagem e só poderia ter disputado o bronze, mas nesse esquema eu poderia ter levado até o ouro. Mas ela precisava tropeçar, e isso não aconteceu. Fiz minha parte e ganhei as outras três lutas. Na última, contra a Elvismar Rodriguez, da Venezuela, valia a prata ou o bronze, e, ao contrário das competições normais, quando você perde o ouro, eu comemorei o segundo lugar - explicou a judoca que completou 23 anos na segunda-feira passada e fez ginástica olímpica antes de começar a praticar o judô.
Bárbara Timo conta com ajuda do pai para amarrar o quimono; posa para fotos em Kazan (RUS) e com a seleção, no Chile; em ação contra a venezuelana; com a medalha de prata e produzida para um casamento (Foto: Arquivo Pessoal)
O presente pelo aniversário não foi o desejado, mas mantém Bárbara, na 20ª colocação do ranking mundial, focada na disputa por uma vaga nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro na categoria médio com Nádia Merli, 16ª do mundo, e Maria Portela, 18ª. A caminhada é longa e muita coisa ainda pode acontecer. Principalmente fora dos tatames.
Apaixonada por fotografia, mas tímida diante das câmeras, a judoca, que rejeita o rótulo de musa e não tem o hábito de expor sua intimidade nas redes sociais, tem outro sonho além de disputar as Olimpíadas de 2016: se formar em jornalismo. Mais ultimamente tem sido tão difícil conseguir acompanhar as aulas na Faculdade Estádio de Sá, que Bárbara mal sabe em que período está.
- Quero ser jornalista. Comecei por acaso aos 18 anos e acabei me apaixonando. É uma profissão bem social, muito bonita e que de alguma forma pode contribuir para a sociedade. Eu vejo a estrutura da assessoria que o COB montou aqui e um dia quero fazer parte disso. Hoje estou na Estácio de Sá, mas já mudei duas vezes, pois estudo aonde me dão bolsa para competir.
O problema tem sido encontrar tempo para ir às aulas. Já poderia estar no 7º período, mas por falta de tempo tenho que cursar poucas matérias por período e acho que estou no 4º (risos). O máximo que consegui fazer num período até hoje foram oito matérias, sendo que três foram online - afirmou a judoca, que chama atenção pela beleza e simpatia.
- Nunca me importei com essa coisa de musa do judô, até porque nunca fui tratada dessa forma. Os comentários e os elogios que ouço são normais, nada demais. Eu ando tanto de quimono, descabelada e com o rosto ralado que nem dá para muito para se produzir e chamar atenção(risos).
Sorte do namorado Marcelo Contini, peso-leve (73kg) da seleção brasileira masculina. O problema tem sido conseguir conciliar suas atribuladas agendas com as raras folgas de ambos. Como só passou três semanas em casa em 2014, Bárbara ultimamente tem sido obrigada a recorrer à ajuda da internet para matar a saudade do namorado.
- Infelizmente nunca coincidiu de viajarmos juntos. Ainda, né! (risos). Esse ano a gente só se viu no carnaval, durante o período que fiquei me preparando para os Jogos Sul-Americanos. O jeito é apelar para a internet. Ela é a salvação. Acabo tendo poucas amigas também, quase todas do judô mesmo.Eu vejo mais o pessoal do Flamengo e da seleção do que a minha família, e as amizades ficam restritas. Mas tudo tem seu momento e lá na frente eu vou poder aproveitar tudo isso. São escolhas que fazemos na vida, quis isso para mim e amo o que faço. Ninguém me obrigou. Quando me formar o jornalismo também vai ter que esperar - disse.
Nada demais para quem perdeu a mãe com apenas 16 anos e teve que encarar os desafios da vida desde cedo. Além do judô, o apoio veio da família, principalmente do pai Renato, ex-judoca e responsável por sua iniciação na modalidade, e da irmã mais velha, Bruna, sua melhor amiga e uma espécie de mãe durante todos esses anos
- Eles foram muito importantes para mim. Comecei a lutar judô por causa do meu pai, que também foi judoca. Eu fazia ginástica olímpica numa escolinha em Santa Tereza e ele ficava falando que eu era muita alta para a ginástica olímpica e nem era. Foi uma maneira que ele usou para me convencer a fazer judô. Mas deu certo, né! E a minha irmã sempre foi uma mãe para mim. Como meu pai mora em Maricá, moro com ela e meu sobrinho, Eduardo, de 8 anos, que é também meu afilhado e está fazendo judô por minha causa - destacou.
Bárbara Timo não resistiu à bicampeã mundial Yuri Alvear e fica com a prata entre os médios (Foto: Valter França / CBJ)
Se o futuro do judô brasileiro estará garantido graças à família Timo só o destino dirá, mas personalidade e carisma o pequeno Eduardo herdou da tia.
- Eu nem precisei convencê-lo, pois ele sempre quis lutar judô. No primeiro dia de aula ele já chegou falando que era amigo do Victor Penalber, da categoria 81kg, e da Julia Penalber, que também é judoca e são meus grandes amigos, e que a tia dele era muito boa no judô (risos) - contou a tia coruja, medalhista de ouro no Grand Prix de Tashkent, no Uzbequistão, em 2013.
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