Pé esquerdo afinado com a bola. Comemorações que fazem jus ao apelido ou que vão na onda do Lepo Lepo. Aos 27 anos, Claudio é personagem de um enredo conhecido: menino pobre que sonha vencer na vida através do futebol. Com nove gols em oito jogos pelo Ceres, ele é artilheiro isolado da atual Série B do Campeonato Carioca. Mas sem os holofotes de Hernane, que na atual temporada marcou apenas seis vezes em 11 partidas. Longe do Brocador, o goleador musical da Segundona atende como Pagodinho.
Ainda neném, a bola já era um dos brinquedos preferidos do pequeno Claudio. Mas a redonda não foi capaz de calar os longos e repetidos choros.
- O apelido Pagode veio de berço. Eu era muito chorão. Um dia, me deixaram no berço, no quarto, e foram para a sala. Do nada, parei de chorar. Foi todo mundo correndo saber o que aconteceu. Chegaram lá, eu estava parado, e tocava uma música do Zeca Pagodinho na rádio. Quando a música parou, voltei a chorar. Aí, então, meu pai comprou vinil, tudo do Zeca e falou: “esse aí é meu pagodinho”. Tentei tirar (o apelido) por causa do futebol, tem quem implique, mas não consegui. Um dia foram me chamar e perguntaram para a minha mãe: “onde está o Claudio?” Ela falou: “Não tem nenhum Claudio aqui, não”. Depois, parou, pensou: “Ah, é o Pagodinho, meu filho”. Todo mundo me chama assim – diverte-se o jogador.
Nascido em Realengo, o atual atacante do Ceres - que ocupa a terceira colocação do Grupo B da Segundona - encarou, na infância, adversários bem mais complicados do que os campos esburacados, a falta de estrutura e a distância da mídia esportiva.
- Sou de família humilde, com sofrimento. Quando (na infância) não tinha o que comer, pegava um pão, um leite com a vizinha, sempre alguém ajudava – recordou o atacante.
O conhecido começo
É aquela velha história... Depois de uma pelada em Realengo, um amigo indicou Pagodinho para jogar pelos juniores do Angra dos Reis. O canhotinho fez teste e passou. Desandou a fazer gols. Mas o dinheiro curto e a incerteza sobre o futuro obrigaram o jogador a mudar de campo.
- Joguei contra pessoas que chegaram para mim e disseram: “não almocei para jogar”. É triste. Como futebol é difícil e não tinha dinheiro, fui para o quartel, onde fiquei dois anos. Aí o sonho ressurgiu com tudo, conversei com meu pai, que sempre foi meu maior incentivador. Voltei para o mundo da bola. Todo jogador sonha estar em um grande clube. Comigo não é diferente. Brocador está aí na mídia, o cara do momento, mas o Pagodinho está chegando. Tomara que chegue para ficar – brincou, ou melhor, falou sério, com um sorriso no rosto.
A bola deu lugar à boina
Sem dinheiro para seguir no futebol, Pagodinho ficou dois anos no exército (Foto: Reprodução)
Pagodinho acredita que o fato de não ter empresário torna tudo mais difícil. É sua segunda passagem pelo Ceres. Ele já atou pelo Grêmio Mangaratibense, no futebol baiano e pelos cearenses Icasa e Caucaia. No Rio, também defendeu o Madureira.
- No começo, achava que futebol era Ronaldinho, Neymar... Mas, não. Para quem tenta ser jogador, vai sofrer, vai batalhar, tem que estudar, obedecer mãe e pai, que são alicerces de tudo. Bateu na primeira porta, se fechar, não desiste. Uma hora vai abrir. Precisa se dedicar, dormir cedo, cabeça no lugar – disse Pagodinho.
Conselhos de um jogador que tem como traço - além de oportunismo na grande área e boas cobranças de faltas - um estilo família de ser. Pagodinho até curte uma boa batucada, mas diz que “não entende nada de pandeiro”.
O atacante divide uma casa humilde com a mulher Monique, o filho Nicolas, a irmã Alessandra e dois sobrinhos. No futuro, a laje vai virar segundo andar. Já começou a ganhar forma, mas ainda depende de ajustes e um gás nas finanças para jogar concreto na vontade de construir um lar.
Sonho fantástico ao ritmo de 'Deixa a vida me levar'
O pequeno Nicolas, de quatro anos, é o fã número 1. Agitado e sempre rodeando Pagodinho, o pequeno menino é quem escolhe as comemorações dos gols e decretou: o pai é o Pagode, ele é o Pagodinho e a mãe, a “Pagoda”.
Pagode família: com a irmã, sobrinhos, o filho Nicolas (com pé na bola) na laje da humilde casa em Realengo, no Rio (Foto: Janir Junior)
Mais do que brincadeira de criança, o apelido virou coisa séria. Assim como outro sonho do atacante de Realengo.
- Sempre pensei, sonho com isso, em fazer três gols e pedir a música “Deixa a vida me levar” no Fantástico. Gosto de todas do Zeca, mas essa é a preferida. Sou feliz e agradeço por tudo que Deus me deu.
Comentários do Facebook -