Foram 15 minutos de foguetório. Os gols de Paulo Luciano e Serginho fizeram os torcedores do Uberaba Sport tomarem as ruas da cidade no dia 1º de abril de 1981. Ao mesmo tempo que eram tomados pela euforia, os uberabenses não acreditavam que o time da cidade mineira jogara bem o primeiro tempo e vencia por 2 a 0 o então Campeão Brasileiro e futuro campeão mundial: o Flamengo, de Zico, Nunes, Adílio, Andrade, Júnior e Raul. No segundo tempo a virada. O Flamengo venceu o jogo por 4 a 2. Mas a história já estava contada. O confronto pela Taça Ouro ainda deixa emocionados jogadores e torcedores do Uberaba Sport, que há 33 anos, fazia um grande primeiro tempo no Maracanã. As lembranças e a importância daquele resultado parcial para história do clube ainda vivem para os atletas que vestiram a camisa do time do Triângulo Mineiro.

Ruy Trida tinha 11 anos, e o pai dele, apesar de não gostar de futebol, estava no Rio Janeiro e acompanhou o jogo (relembre no vídeo cima). Ruy, no entanto, já era torcedor fanático pelo Uberaba Sport e sempre acompanhava o time no Uberabão. Ele se lembra bem de como ficou a cidade após o término do primeiro tempo com o Uberaba à frente no placar.

– Estava todo mundo na rua e eu também fui. A cidade soltando foguetes no intervalo, foi o tempo inteiro de foguetório, os 15 minutos. Era algo que o Uberaba ainda não tinha conseguido fazer que era vencer pela Taça Ouro – relembrou.
Paulo Luciano Aldeir Uberaba Sport (Foto: Paula Arantes)Atletas ainda têm lembranças e a camisa usada na partida(Foto: Paula Arantes)


Apesar das boas lembranças da época em que o clube disputou a elite do futebol nacional, Ruy tem razão ao dizer que era difícil vencer. Os empates com Flamengo e Atlético-MG – considerados os dois melhores times da época – no Uberabão podem ser vistos como bons resultados. Mas se ponderar que a campanha foi de sete empates e uma vitória, contando a Taça Prata e na Taça Ouro, os resultados não foram tão bons.

- Se pegar o histórico de partidas, o Uberaba teve uma campanha boa, mas custava a ganhar. Chegou nesta partida com o Flamengo com quatro empates. Conquistou o acesso com uma vitória e três empates na Taça de Prata. Para ganhar era difícil e neste momento em que fizeram os dois gols no Flamengo, o time não soube superar – opinou o torcedor.

'FICHA NÃO CAÍA'

No dia 11 de março, as Uberaba e Flamengo se enfrentaram no estádio Uberabão pelo mesmo campeonato. O jogo terminou em 1 a 1. Logo, enfrentar o Flamengo não seria tão complicado para os atletas do Uberaba. Jogar no Maracanã palco do segundo embate, porém, era o desconhecido, pelo menos para o lateral esquerdo do time mineiro Aldeir.

- Eu conhecia o Maracanã por fora, mas por dentro não. Quando chegamos ao estádio, ver aquela torcida toda do Flamengo foi uma emoção grande. Servia como incentivo. Procurava ver todo mundo incentivando. Tinha que me adaptar a partida e quando passamos a ter confiança, jogamos normalmente. Tanto que jogamos de igual para igual com o Flamengo.

O lateral relembrou que, na partida em Uberaba, o time da casa fez frente ao poderoso Flamengo. A vitória só não veio porque, na opinião dele, o gol de Nunes, de bicicleta, foi irregular. Aldeir lembra inclusive o canto da torcida rubro-negra do estádio que ele e todo o time do Uberaba precisou relevar.

- Foi algum tempo depois do Carnaval e a torcida cantava uma música da Clara Nunes. “De que me vale um saco de dinheiro para comprar um quilo de feijão, ah Mengão” – lembrou.



Dentro de campo, o Uberaba Sport queria impor o mesmo ritmo do Uberabão para cima do Flamengo; E foi daí que aqueles 45 minutos entraram para a história do time mineiro. Camisa 10 do Uberaba Sport, Paulo Luciano recebeu bola na intermediária ajeitou com a perna direita tirando Andrade da jogada. Bateu forte e contou com a ajuda do goleiro Raul para abrir o placar. Aos 37 minutos da primeira etapa, jogada pela esquerda, Ney dribla Raul e toca para Serginho escorar e fazer o segundo.

- A ficha não caía. Quando descemos para o intervalo veio o baque: puxa, estamos ganhando do Flamengo completo. Eram ídolos, jogadores que víamos na mídia, na Seleção Brasileira, times do exterior os assediavam. Quando fizemos 2 a 0 que passamos a pensar: vai repercutir no Brasil inteiro. Foi muito importante – relembrou Altair.

Um gol contra e um finalização de Marinho, após cobrança de falta de Zico, resultaram no empate. Após cobrança de escanteio de Junior, Zico escorou de letra e a bola sobrou para Nunes virar o jogo. Para fechar o placar, Tita bateu de sem pulo.
"Eram ídolos que víamos na mídia, na Seleção Brasileira. Quando fizemos 2 a 0 que passamos a pensar: vai repercutir no Brasil inteiro".

Aldeir, lateral-esquerdo

Se grandes nomes do futebol brasileiro já declararam a emoção de marcar gols no Maracanã, para o camisa 10 do Uberaba não foi diferente. Paulo Luciano marcou o primeiro gol e deu início à jogada do segundo.

- Pelo palco e por ter sido no Flamengo foi muito bom. O Raul contribuiu, pois o chute foi de longe. O time era humilde, pequeno, ninguém conhecia o Uberaba nacionalmente e jogamos bem, de igual para igual. A sensação de fazer gol no Maracanã, mesmo para os feras de seleção é muito satisfatório, para mim muito mais.

O camisa dez do time mineiro afirmou que o Uberaba tinha um time muito forte, mas reconhece que era difícil bater de frente com o Flamengo e com o Atlético-MG. Tanto que, ao descer para o vestiário, os jogadores não conseguiam acreditar na vitória parcial.

- Quando fizemos 2 a 0 viram que não éramos um time fraco. Tentamos manter a tranquilidade, seguramos, mas o time deles era muito forte. Um campo que assusta, o Maracanã tem a sua história, muito barulho da torcida, um dos nossos principais jogadores, o Hilton, tinha sido suspenso e fez falta. Derrota nunca é bom, mas saímos honrosamente.

JOGO ENTREGUE


Paulo Luciano e Aldeir trocam passes no Uberabão (Foto: Paula Arantes)

Depois de um primeiro tempo impecável, o Uberaba Sport não resistiu ao poderio ofensivo de Zico, Andrade, Nunes, Junior e companhia, e acabou perdendo por 4 a 2. Muitos torcedores uberabenses acusaram os jogadores de terem entregado o jogo durante o intervalo. Para o lateral esquerdo Aldeir o erro foi outro.

- O Uberaba ficou mais recuado e perdemos um gol no início do segundo tempo que poderia ter mudado a história do jogo. E se fosse assim eu estava rico. Perder o jogo por nada? Não teve conversa, não teve proposta. O time do Flamengo era forte. Não precisava.

Uma vitória sobre o Flamengo dentro do Maracanã naquela época valeria muito mais que qualquer dinheiro. Tanto que Paulo Luciano, que ressaltou a qualidade do rubro-negro, preferiu não levar a conversa adiante.

- Já escutei isso, mas sou muito franco. Ninguém sabe o quanto era importante o resultado para nós. O Uberaba tinha uma equipe boa e é uma conversa que não tem como ter sequência. O Flamengo virou contra São Paulo, Botafogo e Atlético-MG no Maracanã – concluiu.