Em noite de muitos vilões, Arizala é o novo 'Cabañas' na vida do Fla

10/4/2014 07:38

Em noite de muitos vilões, Arizala é o novo 'Cabañas' na vida do Fla

Colombiano repete gol marcado no jogo de ida e se destaca em jogo coletivo do León. Torcida rubro-negra resume protestos com gritos de 'time sem vergonha'

Sai Salvador Cabañas, entra Franco Arizala. Com uma dose menor de protagonismo para o colombiano em comparação ao paraguaio, mas não menos sofrimento para a torcida do Flamengo. Em uma noite com 60 mil rubro-negros que esperavam sair do Maracanã comemorando o renascimento com a vaga nas oitavas de final da Libertadores, não faltaram candidatos a vilões vestidos de vermelho e preto.
Felipe, Muralha, Amaral, Elano e Léo Moura foram vaiados. Mas foi o camisa 11 do León quem mais infernizou a defesa carioca, e completou, com um gol - o primeiro da vitória por 3 a 2 -, um trabalho que começou com outro tento marcado há quase dois meses, no México. O filme se repetiu: seis anos depois do América, mais um mexicano fez a festa no Rio de Janeiro.

É preciso, porém, ser justo: com dois gols no confronto, Arizala assume o papel natural de um carrasco, mas torna-se apenas mais um em um time bem organizado e que colocou o Flamengo na roda em pleno Maracanã. Mérito do jogo coletivo, assim como foi coletivo o fracasso rubro-negro. Em uma noite onde pouquíssima coisa deu certo, não faltaram "culpados" discretos. Se nenhuma falha clamorosa marcou a derrota que resultou na eliminação, o torcedor fez questão de condenar com vaias determinadas figuras e expor a insatisfação geral com gritos de "time sem vergonha" nos minutos finais.


Não deu para segurar: Arizala foi o ator principal do trágico enredo final do Fla na Libertadores (Foto: Reuters)


PASSIVO, FLA FACILITA, E LEÓN DOMINA AS AÇÕES

Afobado, o Flamengo em momento algum se mostrou senhor do jogo. A impressão era de que a vitória, único resultado que interessava, teria que chegar a qualquer custo, mesmo que de forma desorganizada. E foi aí que o desejo de ser herói transformou muitos em candidatos a vilões. Alecsandro, que em Guayaquil tinha comandado o time diante do Emelec com a experiência de quem é bicampeão da Libertadores, pecava pela ansiedade e cometia faltas desnecessárias. Foi dele o primeiro chute perigoso, aos seis minutos, mas foi dele também a infração boba que gerou o primeiro gol mexicano, de Arizala, o Cabañas da vez, aos 21, de cabeça.

A essa altura, o torcedor já tinha escolhido sua primeira vítima: Elano. De volta ao time após longo período no departamento médico, o meia voltou a sentir lesão na coxa direita e passou a ser muito vaiado até dar lugar a Gabriel, por sinal, um dos poucos rubro-negros que se aproximaram do posto de herói. Responsável pela única boa defesa do goleiro Yarbrough na partida, o baiano deu, com sua correria, vida a um Flamengo passivo, criou jogadas e não se escondeu. Mas não era dia de heróis rubro-negros.


Boselli corre para o abraço após anotar o segundo (Foto: AFP)

Tranquilo, o León seguia fazendo do jogo coletivo sua principal característica e, diga-se de passagem, tinha as ações facilitadas pelo Flamengo. Estranhamente, o time da casa marcava em seu campo defensivo, esperava o rival, que trocava passes tranquilamente. Além disso, marcava distante, sem a pegada esperada para um jogo decisivo. É aí que entra a segunda "vítima" das vaias: Muralha. Sempre distante do adversário, o volante não impunha muita dificuldade no combate direto e também não conseguia demonstrar a qualidade que tem com a bola nos pés.

No ataque, a correria habitual de Paulinho, Everton e Gabriel mantinha acesa a possibilidade de uma virada. Nada que empolgasse muito o torcedor. Quando o Maracanã incendiou, com o gol de André Santos, aos 29, Mauro Boselli tratou de colocar o León na frente novamente no minuto seguinte: 2 a 1. Foi quando Felipe passou a ser questionado pelo torcedor por não ter impedido o gol do atacante argentino, fosse interceptando o cruzamento ou saindo do gol para tentar fazer a defesa.

O Flamengo não se encontrava em campo. Tudo ficava ainda mais complicado à medida que os mexicanos tinham a certeza de que a pressão que vinha das arquibancadas não era refletida em campo. Alecsandro ainda empatou na etapa inicial, mas, nitidamente, a desvantagem rubro-negra não era somente no placar que já levava a eliminação. Era também técnica, tática e emocional.

SEM A BOLA, FLA NÃO PRESSIONA E CAI MAIS UMA VEZ

Na volta para o segundo tempo, Paulinho e Gabriel se aproximaram do heroísmo em boas chances logo nos minutos iniciais. O León, por sua vez, teimava em manter a paciência, a tranquilidade, e trocava passes sem pressa e com qualidade. Chutão parecia proibido, e a bola seguia de pé em pé até chegar a Arizala, que levava os marcadores à loucura com velocidade pelas duas pontas. O tempo passava, e quase nada acontecia a favor dos rubro-negros.

Dizer que o Flamengo não correu seria injusto. Correu. Correu bastante. Muitos jogadores, inclusive, deixaram o campo extenuados, casos de André Santos e Paulinho. Mas o time corria errado. Não pressionava o León na saída de bola e tinha que correr atrás em seu campo de defesa. No ataque, a ausência de um meia (Elano se lesionou, e Lucas Mugni e Cadu sequer estiveram no banco, que foi formado por Paulo Victor, Gabriel, Welinton, Chicão, Nixon, Feijão e Negueba) minava as forças. A bola não parava nos pés rubro-negros. Não havia tempo para respirar, pensar. E a cada desarme o León voltava a trocar passes e fazer os flamenguistas cansarem.


Baque: Wallace, cabisbaixo e isolado, depois da derrota para o Léon, no Maracanã (Foto: André Durão)


Cansarem como Arizala cansou. Depois de muito infernizar os rubro-negros, o colombiano deu lugar a Luis Delgado, mas até para sair de campo deu trabalho. Enquanto Yarbrough era atendido pelos médicos, o atacante viu que seria ele o substituído e resolveu ganhar tempo: caminhou lentamente até a lateral oposta a que teria que deixar o gramado, esperou a sinalização da arbitragem e voltou todo percurso lentamente.

No reinício do jogo, o León deu seu golpe final. Com o Flamengo ainda mais desorganizado, os visitantes chegaram ao terceiro gol, com Carlos Peña, e decretaram o fim da participação rubro-negra na Libertadores. Foi a quarta eliminação na fase de grupos em 12 participações, a segunda consecutiva.

O torcedor que chegou ao Maracanã confiante em conhecer um novo herói, perdeu a paciência de vez. Até o capitão Léo Moura, com quase uma década de clube, foi vaiado. Gritos de "time sem vergonha" ecoaram no Maracanã e, por fim, pouco mais de 80 mexicanos cantaram mais alto diante de 60 mil, que se dividiam entre os que deixavam o estádio e os que permaneciam para os minutos finais, incrédulos. O filme se repetiu. Dessa vez, não teve gordinho, não teve Cabanãs, mas teve tragédia. E se é preciso nomear um novo carrasco, este é Franco Arizala.

1529 visitas - Fonte: GE


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