Neymar foi eleito o jogador favorito da presidenta (Foto: Arquivo LANCE!)
Se você acha que era algum plano terrorista para a Copa, ou referência à panela de pressão social, mais errado impossível.
Na paisagem noturna do lindo Palácio do Alvorada, se reuniram para um jantar com a presidenta (assim ela gosta de ser chamada) 13 editores dos maiores veículos esportivos de comunicação do país, da imprensa televisiva e escrita, entre eles este editor do Grupo LANCE!. Dilma estava acompanhada do Ministro Aldo Rebelo, do Esporte, Ricardo Berzoini, da Articulação Política, e Thomas Traumann, da secretaria da comunicação da presidência, além de Ronaldo França, seu assessor especial para a Copa.
Capa do LANCE! foi elogiada pela presidenta
Da chegada de Dilma até a despedida, com direito a tour pelo lindo palácio e fotos, e um último cumprimento em cada um dos convidados, foram quase cinco horas de conversa, que foi de fio a pavio. Muitas risadas e histórias, da visita do Papa ('meu momento mais tenso na presidência' e 'na despedida , rindo, ele disse que eu estava torcendo para ele ir embora logo') à relação com Lula ('nada me separa dele e nada o separa de mim'), os temas variaram entre a Copa, prato principal, passando por economia, política e o futuro de um país 'que não tem como não explodir' no bom sentido, como disse a mandatária.
Percebeu-se sua emoção também quando falou sobre o racismo e sobre as desigualdades do nosso país. Uma mulher otimista com a imagem que o Brasil vai causar, pois 'estamos à altura em aeroportos, estádios e a segurança vai funcionar'. Inflexível em alguns pontos, como quando questionada sobre a necessidade de cortar o déficit público 'não dá para se reduzir' . Mas cheia da boa indignação ao propor a rediscussão sobre hidrelétricas de reservatório, uma das soluções para a questão energética. Aliás, não faltou energia à nossa mandatária nesta noite madrugada adentro.
A brasileira Dilma se entusiasma com sua receita para o país: educação, infra-estrutura (com parcerias privadas) e desburocratização. E que a reforma política, sem tirar a obrigação do voto, por consulta popular, é a forma de se desatar o nó da política brasileira, mesmo reconhecendo que no período Lula/Dilma já foram três tentativas frustradas de fazer a que é, para muitos, mãe de todas as reformas. Também teve deliciosas e divertidas inconfidências de suas andanças com outros chefes de estado de países de grande importância.
A presidenta não foi muito confrontada, talvez pelo formato da grande mesa, mas também pela forma aberta e descontraída com que ela foi conduzindo a conversa. Aproveitei a oportunidade para questionar e propor várias medidas com relação ao futebol, temas que nossos leitores já conhecem, como o combate à violência, indução a uma nova governança nos clubes, críticas ao modelo atual do futebol, papel da prática esportiva nas escolas e no aprendizado, e por aí vai. Outros colegas também levantaram pontos relevantes que foram bastante discutidos. Quem sabe algo possa surtir efeito. Cabe à Dilma decidir se o esporte ocupará algum espaço na sua agenda para além dos grandes eventos. A se lamentar muito que um encontro como este tenha ocorrido em função da proximidade da abertura da Copa e não muito antes, no início do mandato, quando então algumas das ideias discutidas poderiam ter se transformado em políticas do governo Dilma.
Como num jogo de futebol, conto os melhores momentos :
Início descontraído
Evidente ficou que não era papo com jornalistas de economia e nem de política, pois logo no apito inicial, de pé em frente à piscina, a anfitriã entregou que estava colecionando figurinhas do álbum da Copa com seu neto de três anos, Gabriel. Ela deu risadas ao perceber que era lógico que agora tem mais repetição de figurinhas que no início da coleção. Não apareceu a arrogante e autoritária descrita muitas vezes. Mandou bem, diria meu filho.
'As arenas eram para ser privadas'
Lembrou a presidenta que o plano inicial era de não usar dinheiro público, mas que em alguns casos o crédito ou garantias não foram obtidas a tempo. Nada que a parte mais atenta da imprensa não tenha antecipado, que quase tudo seria feito com dinheiro público. Questionada sobre o custo de manter as arenas após o Mundial, Dilma disse acreditar que mesmo onde não existe futebol organizado, como Cuiabá e Manaus, as construções servirão como espaços comerciais e de lazer. Está convencida de que ter doze sedes será positivo e de que as obras de mobilidade (nas que mantiveram os projetos) não são para a Copa e que vão mudar as cidades. Claro, mas precisava fazer também o estádio?
Petrobras ou Copa preocupam mais?
'Não perco o sono com a Petrobras' Dilma alegou que lê os jornais (não falou em azia, o que foi também um bom sinal) e que se verifica coisas erradas em várias empresas pelo mundo afora. E que a Petrobras é maior que esta crise.
Imagem e aprendizado com as manifestações
'Os países se protegem'. Deu para sentir sua preocupação com o saldo da imagem do país, o que é óbvio. Mas Dilma não teme as manifestações. Pensa que o futebol e o clima da Copa vão aplainar as insatisfações e dar trégua nos conflitos internos. Mais do que isto, ela avalia que todos aprenderam muito com os excessos de junho passado. E se mostra pronta para agir, diferentemente da complacência dos governantes, tomados de surpresa. O episódio do ônibus da delegação italiana apedrejado em Salvador foi citado como inaceitável. 'Não deixaremos chegar perto das delegações, isto não se pode admitir'. É veemente ao dizer que não aceita anarquia e nem repressão. E se anima ao relatar 'as mais de 200 fan-festinhas' que ocorrerão nas periferias das grandes cidades, com telões transmitindo os jogos, patrocinadas por empresas de refrigerantes e de cervejas, patrocinadoras da Copa. Ela vai à abertura na Arena Corinthians. Quanto às vaias da abertura da Copa das Confederações, em Brasília, no clima franco da noitada, Dilma disse com bom humor: 'Ninguém gosta de vaia, não sou masoquista'.
Dilma com troféu da Copa das Confederações (Foto: Evaristo Sa/AFP)
Religião contra o racismo
A presidenta e o secretário geral da ONU, Ban Ki-moon, negociaram com Blatter ações contra o racismo durante o Mundial. O Papa enviou carta para ser lida, conta Dilma, na abertura da Copa. Outros líderes religiosos também enviarão mensagens para serem lidas na abertura dos jogos. O tema a mobiliza muito. Convocou os editores a uma luta comum, no que foi apoiada. O editor da "TV Globo" informou que o tema havia sido abertura do Jornal Nacional na mesma noite. Ela adorou saber que o torcedor espanhol que jogou a banana, que foi comida por Dani Alves no domingo, foi identificado e banido dos estádios para sempre. Falou de como os latinos, por serem povos com grande miscigenação, já lhe surpreenderam com atos racistas.
Neymar é o favorito e Felipão, um xodó
'Fico com o Neymar, assim não tem reclamação', disse Dilma sobre quem seria seu jogador favorito. Mas se anima mesmo é com Felipão: 'Ele tem um jeito assim, meio turrão daquela parte do país'. Então provoco indagando se ela identificaria com este jeito de alguma forma e Dilma, que antes havia se declarado mais torcedora colorada do que do Galo, neste momento, com um sorriso na boca, se disse mais mineira do que gaúcha... A presidenta ainda revelou que gostaria de ver um treino dado por Felipão na Granja Comary, mas que não iria por não achar apropriado, com a razão de quem sabe que período eleitoral e Copa do Mundo são dois temas que, misturados, podem dar resultados imprevisíveis
Pedido atendido
No fim, Dilma reiterou o pedido para que todos nos engajássemos na luta contra o racismo. Por sorte, já havia aprovado a capa e o editorial, propostos pelo Luiz Fernando Gomes, editor chefe do LANCE!, com mais uma forte manifestação contra esta odiosa prática do racismo. Eu era o único que trazia um tablet em mãos e o levei à mesa sem cerimônia. Parece que eu antevia algo. Recebi a capa por email ainda sentado à grande mesa do Alvorada, e a mostrei à presidenta. MACACADA UNIDA, que ela pediu para lhe ser enviada. Foi a primeira vez que um presidente do Brasil viu a capa do LANCE! antes dos nossos leitores. Valeu!
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