Bap faz contas e diz que preços populares são inviáveis para o Fla

9/5/2014 16:45

Bap faz contas e diz que preços populares são inviáveis para o Fla

Dirigente fala que contratos ditam diferença de preço em relação ao Flu, combate taxas e formato de leis estaduais: “O que nos cobram no Maracanã é caríssimo”

Bap faz contas e diz que preços populares são inviáveis para o Fla
Luiz Eduardo Baptista, o Bap, avisa que não lançará mão de preços populares (Foto: Alexandre Vidal/Fla Imagem)



Números, taxas, descontos, leis estaduais e metas a cumprir. A calculadora do Flamengo não para a cada partida realizada no Rio de Janeiro, e a certeza da diretoria continua sendo a mesma: é impraticável oferecer preços populares no valor cheio dos ingressos tendo em vista abastecer o caixa com receitas de bilheterias. Desde o início da gestão Eduardo Bandeira de Mello, o montante cobrado para assistir as partidas em que o Rubro-Negro é mandante tem sido alvo de questionamentos. Com política de redução radical dos bilhetes adotada pelo Fluminense - como, por exemplo, no Fla-Flu de domingo, que custará a partir de R$ 30 -, o questionamento voltou à tona: por que o clube da Gávea não adota medida semelhante? O GloboEsporte.com ouviu Luiz Eduardo Baptista, o Bap, vice-presidente de marketing, para defender seus argumentos.

Em longa conversa por telefone, Bap foi claro ao culpar o sistema adotado no Rio de Janeiro pelo aumento dos preços. De um montante de R$ 50 milhões arrecadado em bilheterias na temporada passada, a renda líquida do Flamengo não alcançou a marca de 40%. O dirigente comparou a situação com a realidade apresentada pelo Mineirão ao Cruzeiro, que tem acesso a quase o dobro do percentual destinado ao Rubro-Negro e não poupou críticas às exigências feitas pela Odebrecht, responsável pela gestão do Maracanã, nos termos firmados com o clube. Luiz Eduardo Baptista se mostrou contrário ainda aos 10% cobrados pela Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro a cada partida, além da forma como é conduzido o cumprimento de lei estaduais que permitem gratuidade e meia-entrada. No somatório destes fatores, uma conclusão: os preços adotados dificilmente fugirão do padrão apresentado nos últimos 17 meses.

Se o Flamengo fosse o Cruzeiro e jogasse no Mineirão, faturando R$ 50 milhões, ficaria com 78%. Ou seja, R$ 39,5 milhões. Se jogasse em Brasília, ficaria com 60%. No Maracanã, fica com 40%. Por que isso? Entre o Governo e o Cruzeiro, não há Odebrecht, como no Maracanã. O clube paga as despesas do Mineirão e fica com o restante. No caso do Flamengo, a Federação Carioca cobra 10%. Isso é uma extorsão. Nas outras, a federação que mais cobra, cobra 5%, outras 3% e até 2%. Ainda há taxas federativas, como associação de cronistas, escoteiros, que tiram mais 3,5%. Só de aluguel, a Odebrecht cobra em média 23% da renda bruta. Vai combinando estes aspectos e há agravantes. O Rio é o único estado onde há gratuidade. Em São Paulo, há, mas é convite, o que dá mil, dois mil ingressos. No Rio, não. De cada quatro que vão ao estádio, um não paga. Há ainda a lei de meia-entrada, onde vai muito mais gente do que pagando inteira. Algumas situações vão contra a arrecadação no Rio. Quando colocamos isso tudo na conta, pesa.


Matemáticas simples, como as que surgiram após o sucesso de público dos primeiros jogos do Fluminense em casa no Brasileirão, foram rechaçadas por Bap. O dirigente garantiu que há diferença no faturamento de R$ 600 mil com 6 mil torcedores pagando R$ 100 e 60 mil pagando R$ 10. O motivo? Os contratos firmados por tricolores e rubro-negros com o consórcio que toma conta do Maracanã. Diante dessa realidade, o time das Laranjeiras teria conseguido um acordo mais benéfico? Bap responde:

- Com o tamanho da torcida do Flamengo, ia queimar dinheiro (se fizesse um contrato com o do Flu). Assim, eu ia levar de R$ 8 a 10 milhões para casa no ano passado (o clube arrecadou R$ 19,6 milhões).

Durante a conversa, Bap comparou ainda os acordos firmados por Fla e Flu, bradou contra os responsáveis pela fiscalização das leis de gratuidade e meia-entrada, justificou a não contratação de Elias mesmo após promessas envolvendo a renda da Copa do Brasil e levantou a possibilidade de redução de preço dos bilhetes com a estabilização do sócio-torcedor somada à fidelização de um público médio no Maracanã. Confira abaixo todo bate-papo:

Você revelou que o Flamengo arrecadou R$ 50 milhões em bilheteria no ano passado e ficou com somente R$ 19,6 milhões deste montante. Qual seria o percentual tido como justo por vocês, tendo em vista custos naturais de um mandante? Você considera as taxas impostas abusivas? Quais são? Como é feito o cálculo do que é direcionado para os cofres do clube a partir de uma renda bruta?

Se o Flamengo fosse o Cruzeiro e jogasse no Mineirão, faturando R$ 50 milhões, ficaria com 78%. Ou seja, R$ 39,5 milhões. Se jogasse em Brasília, ficaria com 60%. No Maracanã, fica com 40%. Por que isso? Entre o Governo e o Cruzeiro, não há Odebrecht, como no Maracanã. O clube paga as despesas do Mineirão e fica com o restante. No caso do Flamengo, a Federação Carioca cobra 10%. Isso é uma extorsão. Nas outras, a federação que mais cobra, cobra 5%, outras 3% e até 2%. Ainda há taxas federativas, como associação de cronistas, escoteiros, que tiram mais 3,5%. Só de aluguel, a Odebrecht cobra em média 23% da renda bruta. Vai combinando estes aspectos e há agravantes. O Rio é o único estado onde há gratuidade. Em São Paulo, há, mas é convite, o que dá mil, dois mil ingressos. No Rio, não. De cada quatro que vão ao estádio, um não paga. Há ainda a lei de meia-entrada, onde vai muito mais gente do que pagando inteira. Algumas situações vão contra a arrecadação no Rio. Quando colocamos isso tudo na conta, pesa.

Adotar postura similar a do Fluminense, com redução drástica do valor dos ingressos, é algo fora de cogitação? Por qual motivo?

O custo operacional do Flamengo é de R$ 14 a R$ 15 por pessoa que entra no Maracanã. Vamos perder dinheiro se, de alguma maneira, cobrarmos um valor que não inclua este e outros custos. Por que o Flu vende a R$ 10? O Fluminense pega 20 mil lugares atrás do gol, onde a receita é toda sua. Paga o custo, mas não paga o aluguel ou outra contrapartida. O Flamengo tem um conceito de parceria, onde quanto maior for a renda, mais o clube ganha. O que define qual contrato é melhor? O contrato que o Flu assinou é o maior possível para eles, que garantiram que jamais terão prejuízo. Por isso, vendem mais barato. Se vender por R$ 5, não terá o custo que nós temos. Mas o Flamengo no ano passado ficou com R$ 20 milhões, o Flu com R$ 4 ou 5 milhões. O Fluminense tem uma capacidade de trazer menos gente que o Flamengo. É claro, se baixa o preço, traz mais. Se não perde dinheiro, prefere encher. O Flamengo tem um acordo diferente e cobra mais caro. Se fosse no Mineirão, a cada R$ 100, R$ 78 ia para casa. Lá não tem gratuidade, intermediário... O Cruzeiro fez um acordo espetacular. Se a final da Copa do Brasil fosse no Pacaembu, o Flamengo pagaria R$ 100 mil de aluguel. No Maracanã, o aluguel foi de R$ 2 milhões. Se o show do Paul McCartney for no Maracanã, não iam cobrar isso. Eles assumiram que vão ganhar dinheiro no Maracanã com o Flamengo.

E não há uma maneira de reduzir essas taxas e despesas no panorama atual de relacionamento entre Flamengo, consórcio e tudo que envolve a organização de jogos no Maracanã?

Acho muito difícil. A única coisa que não tem jeito na vida é a morte, mas acho muito difícil. É difícil operar no Maracanã. Tem menos catracas, não pode vender bebidas... Fica todo mundo bebendo nos arredores do estádio e quando dá cinco a dez minutos para o jogo, todo mundo entra. Quando a PM vê, libera para evitar tumulto e todo mundo paga meia. Um rapaz de 18 anos diz que tem 13 e entra, um de 50 fala que tem 73... Cria-se um ambiente permissivo para uma série de coisas que atacam o preço dos ingressos. Quando vamos colocar o valor, temos que incluir isso tudo. Acham caro, mas o que nos cobram no Maracanã é caríssimo. Se firmam com o Flamengo. Não consigo pagar atletas como Elias, como Paulinho, com meia-entrada. Se fosse a Suderj, seria mais barato o ingresso e o Flamengo ainda levaria mais dinheiro. Não posso perder dinheiro.

Em entrevista a um blog, você disse que não dá no mesmo e nem vale a pena ter 60 mil pagando R$ 10 do que 6 mil pagando R$ 100. Que nestas condições o Flamengo teria prejuízo. Sendo que a renda, neste panorama, seria a mesma, qual a variação de custos apresentado pelo consórcio?

Tenho um custo mínimo para abrir o Maracanã. Se eu vender o ingresso a R$ 10, perco R$ 5 em cada torcedor. O dia que o Fluminense colocar 60 mil pagando mais caro, o dinheiro vai para Odebrecht. O Fluminense jamais perde dinheiro, mas a empresa coloca um limite na hora que ele vai ganhar. O Flu nunca vai perder, o Flamengo precisa ganhar. Somos sócios nos camarotes, na comida do Maracanã, nos assentos Premium. No contrato, se eu colocar 60 mil torcedores pagando R$ 10, ia pagar para jogar. O custo fixo é altíssimo. Quem determina o custo é a Odebrecht. É como fazer uma festa de casamento e o buffet levar tudo, eu tiver que comprar com ele.

Você bate muito na tecla da gratuidade e meia-entrada, que este é o principal motivo do aumento dos valores. Você encontra algum outro tipo de solução para este problema? Sendo o Flamengo gestor da partida, juntamente com o consórcio, não podia se dispor a fazer uma fiscalização mais rígida?


Esse assunto tem sido excessivamente discutido com o Consórcio e a Polícia Militar. Não vou dizer que é impossível, mas vou dizer que estamos cansando. Sou contra a lei da meia-entrada, acho um horror. Como dirigente, acho o fim do mundo. Mas lei é lei, temos que cumprir. Já quem tem o poder público não cumpre a função que é exigir. Se vai ficar uma fila de 1km, se o cara deixar para tentar entrar aos 44 do segundo tempo, deixa entrar na fila. Mas acaba que em cima da hora do jogo abrem as catracas para evitar tumulto. Quem pagou o valor cheio, se acha um idiota. Quem tem 18 anos, fala que tem 12. Isso acontece aos milhares. Quem tem que ver isso é quem toma conta do estádio, já que o estádio não é do Flamengo. Se fosse nosso, íamos falar: "Meu irmão, vai ter que esperar e cumprir todo ritual para verificação". Não contamos com o apoio público neste sentido. Quem paga a conta é o torcedor que é correto.


Você cita ainda que os R$ 20 milhões de 2013 não cobrem 20% do custo anual do futebol. Tendo em vista que a bilheteria é somente mais uma fonte de renda, não seria natural que cobrisse mesmo "somente" parte deste montante?

A bilheteria devia ser de 30 a 35%. Se aumento um pedaço da bilheteria e aumento o sócio-torcedor, fecho essa conta. Anualmente, terei a certeza que tenho aquela renda e posso baratear o ingresso. Quando fecho um contrato com um jogador, tenho que cumprir tendo jogo ou não, tenho que pagar. O sócio-torcedor crescendo ajuda neste fator.

Qual o valor desejado para receita líquida anual de bilheteria na opinião de vocês? E qual o caminho viável para chegar a este montante a curto prazo?

Isso vai muito do que é possível. Tenho que mirar no exemplo do Cruzeiro, que levou de R$ 38 a 40 milhões (em 2013). Com todo o respeito ao Cruzeiro, mas faz sentido o Flamengo, com a força da torcida, jogar, ser campeão da Copa do Brasil, levar metade? Não quero colocar o Flamengo acima do Cruzeiro, mas o modelo de Minas deu um jeito do Cruzeiro levar R$ 20 milhões a mais. Todo mundo acha ótimo jogar no Mineirão, o ingresso é mais barato, não há gratuidade, nem o festival de meia-entrada. Se arrecadarmos R$ 60 milhões, levamos R$ 24 milhões e deixamos R$ 15 milhões para Odebrecht. O dinheiro não é para o Flamengo. Alô, alô, se não cobrarmos isso, não levo dinheiro para casa. Vou jogar para pagar a gratuidade, os 50% de desconto, alimentar a Odebrecht e ficar com quanto? Essa é a questão perversa do Rio por conta do Consórcio. É só ter filas separar, evitar a confusão e as pessoas entrarem correto, mas liberam. A frustração é nossa.

O torcedor, às vezes, fica com a impressão de que para a diretoria é indiferente o estádio cheio ou vazio, desde que se arrecade...

Era garoto e ia ver o Zico jogar. É óbvio que jogar para 50 mil é melhor. É óbvio que pagar R$ 50 é melhor do que pagar R$ 100, mas isso é simplificação. Falam como se acordássemos e pensássemos: "Vamos sacanear a torcida". Essa não é a razão. A Federação leva 10% da arrecadação bruta do Flamengo. O Inter joga e paga 2%.

Sendo bem objetivo, quais as taxas e fatores que o Flamengo combate, principalmente no que diz respeito à Ferj e afins?

Diferentemente da Federação, já tentamos de todas as formas reverter isso. Cansamos de dar sugestões e fazem ouvido de mercador. É uma luta inglória. São gratuidades, carteiras falsificadas... Esperamos ajuda, mas tenho pouca esperança que mude alguma coisa com essas pessoas.

Diante dos fatos, uma pergunta natural é: por que o Flamengo não fez um contrato como o do Fluminense para poder ter mais gente no estádio?


Com o tamanho da torcida do Flamengo, ia queimar dinheiro. Assim, eu ia levar de R$ 8 a 10 milhões para casa no ano passado. Antes de encher o estádio, temos que pagar as contas. A maior alegria de um torcedor é um time forte. Como que vou lotar o estádio com um time que não bota dinheiro em casa? O torcedor não vai ao estádio se o time não estiver bem. Se existissem mais lugares para o Flamengo x Atlético-PR, ia encher tudo. Todo mundo quer ver uma final, quer estar lá. O Flamengo da Patrícia cansou de levar 10 mil torcedores com o ingresso a R$ 10. Dobramos o público médio no ano passado. Quem paga meia e é sócio-torcedor, pagou R$ 15 contra o Palmeiras. Abaixamos o preço, e por R$ 29,90 pode ser sócio-torcedor. Quanto mais sócios, mais barato será o ingresso. Não quer ser sócio, mas quer pagar barato? Isso não dá. Para ser competitivo, não dá. Uma das razões do jogo fora é trazer mais dinheiro e ajudar a pagar as contas.

Mas essa questão de fortalecer o time com o dinheiro dos jogos tem o exemplo clássico da promessa que o Elias seria comprado com o valor arrecadado na final da Copa do Brasil...

O caso Elias é o seguinte: é claro que o dinheiro da renda ajudava, mas o Elias custava R$ 20 milhões, a renda líquida foi de R$ 5 milhões. A matemática é simples. A torcida quer reforço? De onde vamos tirar dinheiro? Não há jogador que jogue por 50% de desconto ou por gratuidade por jogar no Rio. O Cruzeiro, por exemplo, tem mais poder de compra exatamente por isso.

Tendo como base o jogo com o Palmeiras, o Flamengo hoje cobra R$ 60 no valor integral de seu ingresso. Esta redução - de um valor que por muitas vezes foi R$ 80 - chegou ao seu limite ou é possível esperar mudanças para breve?

Isso é dinâmico, buscamos um equilíbrio. Se soubéssemos que em todos os jogos iriam 20 mil pagantes, como contra o Palmeiras, acho que poderia ser um pouco mais barato. Não dá para saber antes. É uma busca constante. E se o time fosse mal? No jogo seguinte poderia colocar a R$ 30 que iriam menos pessoas.

Por fim, qual sua opinião da linha adotada pelo Fluminense?

Não sei qual é a realidade do Fluminense e os respeito. Eles sabem o que fecharam. Não tenho acesso aos dados. Não vão nunca perder, mas não vão ganhar. É só fazer as contas. Se botarem R$ 100 mil reais por jogo, quem paga o Fred? Se perder a Unimed, como sobrevive? Não sei da realidade do clube, das receitas que têm. Sei do que o Flamengo precisa para manter a contas em dia.



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