Paraibano, Pezão é fã do Flamengo e guarda na
memória o gol de Petkovic (Foto: Arquivo Pessoal)
Antônio Silva tinha 22 anos quando foi ao êxtase como torcedor. Reunido com a família, numa casa humilde da Vila Castelo Branco, bairro de Campina Grande, emocionou-se. E comemorou feito criança aquele feito. Já era lutador, mas a emoção do momento nada teve a ver com lutas. Pezão estava em casa assistindo à final do Campeonato Carioca de 2001 quando foi ao delírio com o gol de Petkovic aos 43 minutos do segundo tempo. Era o terceiro gol do Flamengo contra o Vasco, fazendo 3 a 1 e dando nos minutos finais o tricampeonato carioca ao Rubro-Negro.
Depois disso e ao longo dos anos, Pezão se tornou um lutador de sucesso. Peso-pesado, passou por várias situações marcantes. A mais recente foi a vitória sobre o gigante holandês Alistair Overeem no UFC 156, que aconteceu no sábado de 3 de fevereiro, na cidade de Las Vegas, nos Estados Unidos. Tido por muitos como um dos principais nomes para a disputa do cinturão da categoria contra o atual campeão Cain Velásquez, o lutador paraibano guarda espaço para o futebol e relembra com carinho daquele dia. Diz sem rodeios que é um “rubro-negro confesso” e não é só o MMA que lhe proporciona felicidade. Sobre aquele jogo em especial, ele classifica como “um momento o qual nunca será esquecido”.
BigFoot, como o lutador de Campina Grande é conhecido nos Estados Unidos, conta que o dia 27 de maio de 2001 tem um valor especial em sua vida. E que naquela data ele, mesmo em Campina Grande, estava com toda a sua atenção no Maracanã
- Esse jogo foi inesquecível para mim. Lembro que na época morávamos em uma casa na Vila Castelo Branco, e estava a família inteira reunida na frente da TV. O Flamengo precisava da vitória (o Vasco havia vencido a partida de ida por 2 a 1) e só no finalzinho, quando todo mundo já dava como certa a derrota e a torcida deles já estava comemorando, o Pet pegou aquela bola e cobrou a falta no ângulo. Houve vários outros jogos marcantes, mas com certeza este é um que eu vou levar comigo para o resto da vida.
Pet vai ao delírio quando faz o gol do título do Fla contra o Vasco, em 2001 (Foto: Hipólito Pereira / O Globo)
O lutador lembra também que uma das primeiras coisas que fez após o apito final foi correr para a rua, ir para frente da casa do vizinho, um “vascaíno roxo”, e zoá-lo pelo resultado da final.
- Gritei e vibrei muito. Abracei meu pai e meu irmão. Mas logo depois corri para a porta do meu vizinho e gritei com ele. Toda vez que o Vasco ganhava ele ia lá gritar na minha porta, brincar comigo, vestia o uniforme do time. Então eu não pensei duas vezes. Era a hora da vingança. Corri lá para fora para poder zoar um pouco também - revelou aos risos o gigante paraibano, que mede 1,94m e pesa aproximadamente 120kg.
'Herança paterna'
Pezão não é flamenguista à toa. Ele vem de todo um clã de rubro-negros. Mas tudo começou pelo patriarca, que levou para todos da casa a mesma paixão.
- Eu sou flamenguista de berço. Eu, meus irmãos, minhas filhas, todo mundo. Aprendemos com o meu pai. Isso é uma herança dele.
Mas se por um lado Pezão herdou do pai a paixão pelo Flamengo, o mesmo não aconteceu com suas habilidades no esporte. O filho é um lutador já reconhecido internacionalmente, mas o pai, Antônio Carlos, foi, quando jovem, jogador de futebol e depois treinador.
- O futebol sempre foi muito presente na nossa vida. Meu pai é ex-jogador e técnico de futebol, já rodou por vários times da Paraíba e de outros estados também. Então eu sempre fui apaixonado pelo futebol. Joguei até os 16, 17 anos. Cheguei a jogar inclusive pelo Trezinho (categoria de base do Treze, clube tradicional de Campina Grande). Mas eu achei melhor ir para outro esporte mesmo. Já tinha feito caratê e tinha gostado muito. Então enveredei para esse lado. Mas eu não era tão perna de pau assim não, hein? - brinca o peso-pesado.
E, ao que parece, a veia esportiva da família Silva passa de geração em geração. Além de Antônio Carlos (que só deixou o futebol porque descobriu um problema cardíaco), e de Pezão (que ocupa atualmente a quarta colocação entre os melhores lutadores de sua categoria, segundo o ranking oficial divulgado pelo UFC na última segunda-feira), a filha do lutador também já dá seus primeiros passos no mundo dos esportes.
- A minha filha mais velha, de 13 anos, também já está nessa de praticar esportes. Já treinou jiu-jítsu, ginástica olímpica e atualmente está no vôlei. Sempre prezamos muito por isso aqui em casa. Esporte é vida, faz bem para o corpo e a alma.
O jogo da vida de Pezão
A partida entre Flamengo e Vasco, que não está marcada apenas nas lembranças do lutador, mas também na de muitos flamenguistas, é tida por muitos como uma das finais mais emocionantes do Campeonato Carioca. Precisando vencer por pelo menos dois gols de diferença, já que havia perdido o primeiro confronto por 2 a 1, o Flamengo largou na frente ainda no primeiro tempo, com um gol marcado pelo atacante Edílson, após uma cobrança de pênalti.
Ainda na primeira etapa, o Vasco conseguiu chegar ao empate com um gol de Juninho Paulista, após passe de Viola. As duas equipes foram para os vestiários com os ânimos totalmente opostos. Os vascaínos acreditavam que conseguiriam segurar a vantagem e impedir o tricampeonato rubro-negro. Mas quem marcou foi o time comandado pelo técnico Zagallo. Após cruzamento de Petkovic, Edílson, novamente ele, cabeceou para o fundo das redes e reanimou as esperanças dos milhares de flamenguistas que lotavam o Maracanã.
O restante da etapa foi um teste emocional para os torcedores de ambas as equipes. O Gigante da Colina tentou por diversas vezes chegar ao empate, mas esbarrou nas defesas de um inspirado Julio César. E aos 43 minutos, quando muitos já davam como certa a ida do troféu para São Januário, o capetinha Edílson sofreu uma falta na intermediária vascaína. Era a última chance que o Flamengo teria para chegar ao terceiro gol. E em uma cobrança de falta magistral, Pet acertou o ângulo esquerdo do goleiro Hélton, que ainda tocou na bola, mas nada pôde fazer. Gol rubro-negro e tricampeonato carioca nas mãos.
Possível disputa pelo cinturão
Pezão ainda não sabe quando voltará ao octógono mais famoso do mundo após a vitória sobre Alistair Overeem (assista no vídeo ao lado). Mas se depender dele, já tem um adversário: o atual campeão dos pesos-pesados do UFC, Cain Velásquez.
Através de uma nota enviada pela sua assessoria de imprensa, o paraibano revelou que gostaria de ter uma revanche contra o americano e que desta vez a história seria diferente (Pezão e Velásquez já lutaram em maio do ano passado, mas o paraibano acabou derrotado após levar uma cotovelada e ter sua visão prejudicada com a quantidade de sangue que encobria seus olhos).
VASCO 1 X 3 FLAMENGO
Helton, Clebson, Geder (Odvan), Torres e Jorginho Paulista; Fabiano Eller, Paulo Miranda, Pedrinho (Jorginho) e Juninho Paulista; Euller e Viola (Dedé).
Técnico: Joel Santana
Júlio César, Alessandro (Maurinho), Fernando, Juan, Cássio, Leandro Ávila, Rocha, Beto (Jorginho), Petkovic, Reinaldo (Roma) e Edílson.
Técnico: Zagallo
Gols: Edílson aos 23 minutos e Juninho Paulista aos 40 minutos do primeiro tempo; Edílson aos 8 e Petkovic aos 43 minutos do segundo tempo.
Cartões amarelos: Helton, Jorginho Paulista, Juninho Paulista, Cleberson e Fabiano Eller (Vasco); Juan e Beto (Flamengo)
Local: Maracanã, Rio de Janeiro. Competição: Campeonato Carioca de 2001 - Final. Público: 60.038 pagantes. Arbitragem: Léo Feldman
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