Thomás posa com quadro dos breves momentos que teve com a camisa da Ponte, em 2014 (Foto: Fernando Cesarotti)
Sempre que vai a campo pela Ponte Preta, Thomás bota fogo no jogo. Foi assim na última terça-feira, quando substituiu Renato Cajá no intervalo contra o Paraná, que vencia por 2 a 0, e foi fundamental para que a Macaca buscasse o empate por 2 a 2, suficiente para assegurar a liderança da Série B do Campeonato Brasileiro. Prova do talento do garoto, que, como outros tantos que surgiram na base do Flamengo, teve que assumir um papel que não era dele, nem de ninguém, diga-se a verdade: ser o novo Zico.
Mais maduro, apesar dos 21 anos, o garoto luta diariamente nos treinamentos duros no Moisés Lucarelli para construir uma carreira própria, sem alusões aos ídolos do passado. Thomás dribla qualquer comparação com o maior jogador que já vestiu a camisa rubro-negra, mas pareceu ter aprendido uma valiosa lição desde que era cobrado para ser como Zico: saber lidar com pressão.
– Isso é comum lá (no Flamengo), todos estão acostumados. E eu gosto de pressão, porque isso significa que me valorizam. Desde pequeno lido com isso, mas as pessoas sabem que jovem oscila e, mesmo assim, têm esperança em mim e isso é bom. Lá no Flamengo tem isso de “novo Zico”, faz parte. Eu acho que para jogador de futebol chegar a algum lugar tem que ter pressão mesmo – avisa.
O amadurecimento, forçado pelo simples fato de ser revelado pelo clube de maior torcida do futebol brasileiro, dá frutos no início de trabalho na Ponte. Contra o Paraná, não foi a primeira vez que Thomás deixou o campo ovacionado pela boa atuação, mas nem por isso faz campanha para virar titular.
Recém-chegado por empréstimo, o meia de 21 anos acredita na filosofia implantada pelo técnico Guto Ferreira no atual elenco da Ponte.
– Sou tão importante como qualquer outro jogador. Penso que não sou reserva, e quem está no banco pode ser até mais importante, porque entra com a responsabilidade de mudar o jogo, de resolver. Num elenco todos são importantes. O Guto trabalha muito bem isso e você vê que o grupo é muito unido – discursa.
Aposta desde cedo
Thomás nasceu em 1993, em Juiz de Fora (MG), e a bola foi sua companheira praticamente desde os primeiros passos. De tanto que a chutava pela casa, e também para evitar que mais objetos fossem quebrados com o passar dos anos, os pais resolveram colocá-lo em uma escolinha. Por ironia do destino, uma franquia do CFZ, clube criado por Zico no Rio de Janeiro.
Ao lado do ídolo Ronaldinho: "No começo, nem conseguia falar com ele" (Foto: Richard Souza)
De lá, foi para o Botafogo, até ser contratado pelo Flamengo, em 2008. Na Gávea, conheceu Vanderlei Luxemburgo e Ronaldinho Gaúcho, dois de seus ídolos até hoje, e aprendeu que teria de lidar com a tradicional pressão presente nos grandes clubes do futebol brasileiro. Sem espaço, cavou vaga na Europa, onde considera ter evoluído como profissional, principalmente em aspectos fora do campo.
Thomás defendeu o Siena na temporada 2013/2014, quando o clube ficou apenas em nono lugar na Série B, longe da briga pelo acesso. De positivo, apenas a campanha na Copa da Itália, em que foi até as quartas de final, derrotado pela Fiorentina. Além de ver de perto astros como Pirlo e Balotelli, aprendeu como um jogador ofensivo também deve ser útil sem a bola.
– Foi uma ótima experiência. Conheci o país, aprendi a falar italiano, conquistei a dupla cidadania, experimentei outra cultura, outros treinamentos, um modo diferente de ver o futebol. Desde o dia em que cheguei, o técnico dizia que, sem a bola, eu teria de aprender a marcar. Ficava no campo depois do treino para saber me posicionar. Foi muito proveitoso, voltei um jogador melhor, mais inteligente.
Em Campinas, já se sente em casa. Divide um apartamento com o lateral-esquerdo João Paulo e diz que quase não tem tempo livre – de fato, desde que chegou, na segunda quinzena de agosto, a Ponte fez quase sempre dois jogos por semana. A estreia não foi das mais animadoras, mas também teve lá suas lições: a Macaca perdeu por 4 a 3 para o Atlético-GO, depois de estar vencendo por 3 a 1, em casa.
– Estava feliz, era minha estreia, estádio cheio, uma torcida maravilhosa que apoia mesmo, como tinham me dito. Marquei gol, era só alegria, mas de repente a gente teve aquele apagão e levou a virada, o sentimento fica meio confuso, misturado... – recorda a promessa.
Passo a passo
Em casa, Thomás faz o que a maioria dos garotos de sua idade gosta: aproveita as folgas para descansar, jogar videogame e ver futebol. Assistiu a praticamente todos os jogos da última Copa do Mundo e não esconde o quanto ficou surpreso e abalado com os 7 a 1 da Alemanha sobre o Brasil nas semifinais. No entanto, tem uma visão mais otimista do futuro do país no esporte e não vê a Seleção tão atrasada em relação às equipes da Europa.
A televisão é uma das diversões do meia, que tenta se firmar entre os titulares da Macaca (Foto: Fernando Cesarotti)
– Acho que é a preparação, a mentalidade dos caras que está mais evoluída. Eles apresentam um jogo coletivo, concentração, não relaxam, é foco o jogo inteiro. Não sei se o futebol em si está atrasado, talvez o nível de treinamento e de concentração deles faça a diferença. Acredito que a gente chegue lá e possa logo dar a volta por cima. Não vai acontecer de novo (um 7 a 1) – diz.
Thomás quer participar diretamente do futuro do futebol brasileiro. Como todo jovem jogador, os sonhos incluem títulos, reconhecimento e, claro, a seleção brasileira. O meia já teve a chance de defender o Brasil na categoria sub-20, e lembra que a decisão de um torneio amistoso contra a Argentina já o deixou emocionado.
– Na hora em que toca o hino, dá uma sensação muito boa, de dever cumprido. Você lembra tudo o que passou para estar ali, todas as roubadas, os jogos em campinho de lama, os treinos, e aquilo te deixa com lágrimas nos olhos. Mas, quando o juiz apita, não tem jeito: tem que se focar – afirma.
Aquele jogo o Brasil venceu por 2 a 0, resultado que garantiu o título do Torneio Internacional 8 Nações, na Cidade do Cabo, na África do Sul. Thomás também ganhou, na base, a Copa São Paulo de Futebol Júnior de 2011, em uma final contra o Bahia. Profissional desde o segundo semestre daquele mesmo ano, ele sente a carreira avançar em pequenos passos, sem pressa, como parte de um plano de longo prazo.
– Desde criança, sempre sonhei em ser jogador de futebol e já consegui realizar esse sonho. Agora eu quero títulos, ser reconhecido. Chegar à Seleção e à Europa é consequência disso. Tenho que apresentar meu futebol, ajudar a Ponte a conquistar o acesso, o título da Série B, e as coisas vão acontecer naturalmente – diz.
A torcida da Ponte, claro, agradece.
Thomas comemora gol de Alexandro contra o Paraná: "Todos são importantes" (Foto: Victor Hafner / Ponte Preta)
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