Gustavo Vieira de Oliveira: veto a investidores vem de encontro às praticas de boa gestão

O veto da Fifa à participação de investidores nos direitos econômicos de jogadores parece não preocupar os clubes brasileiros. Embora as equipes sejam dependentes dos empresários atualmente, dirigentes ouvidos pelo iG Esporte disseram ver a medida como positiva a longo prazo.

“É uma medida benéfica porque ela vem de encontro às boas práticas de gestão, fortalece os clubes por reforçar a atribuição dos clubes nos direitos sobre os atletas e faz desses direitos uma relação esportiva, e não uma relação financeira como se criou nos últimos anos. E todos esses são valores que interessam para o futebol de uma forma geral”, afirmou Gustavo Vieira de Oliveira, gerente de futebol do São Paulo.

“Acho que, para o futuro, essa decisão vai ser muito positiva para o futebol brasileiro”, disse o gerente de futebol do Corinthians, Edu Gaspar, ao site da revista Veja.

Estudo realizado pela consultoria KPMG mostra que cerca de 80% dos jogadores da Série A do Campeonato Brasileiro estão total ou parcialmente nas mãos de investidores. Se o veto da Fifa fosse colocado em prática imediatamente, a competição seria paralisada. Como não é este o objetivo da entidade, Guilherme Mendes, diretor de comunicações do Cruzeiro, está tranquilo.

“A gente entende que a Fifa está tentando acabar com os clubes hospedeiros, no que o Cruzeiro não se enquadra. O Cruzeiro não está nesse padrão de 80%, mas tem sim seus jogadores com parcelas de investidores, pois isso faz parte do futebol brasileiro. Mas temos que aguardar mais um pouco a Fifa para ver até onde ela pretende chegar. Não vai ser de imediato, os clubes vão ter tempo para se adequar à nova realidade”, falou Mendes.

É consenso, porém, que as equipes deverão sofrer sem a ajuda dos empresários em um período inicial. Se hoje há notícias de times que estão com dificuldades de manter suas contas? em dia, é se imaginar como será quando não tiverem mais investidores atuando. Mas Oliveira fez uma previsão muito otimista para o futuro.

“Vamos fazer um contexto com dois tipos de operações com direitos econômicos: uma em que você conta com um atleta que já é teu, e os clubes que têm dificuldade financeira vendem os direitos econômicos mantendo o atleta como forma de capitalizar; e outra quando você faz uma contratação de atletas com base no direito econômico, financia, busca dinheiro no mercado e traz o atleta. No primeiro caso, os clubes passam a ter dificuldades financeiras por aceitarem preços e salários mais altos e comissões. Quando você, num longo prazo, retira recurso dos investidores no mercado, os valores tendem a diminuir”, explicou o dirigente são-paulino.

“Num primeiro momento, durante a adaptação, talvez haja alguns desafios. Mas, a médio e longo prazos, eu não tenho dúvida de que você tem o fortalecimento econômico dos clubes, a valorização do direito sobre atletas como ativos esportivos, e não como ativos financeiros”, completou Oliveira.

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Salários deverão reduzir

Uma consequência da saída dos investidores seria menos dinheiro circulando. E, com menor liquidez, a tendência é que isso sobre para os bolsos dos jogadores.

“Provavelmente vai ocorrer uma acomodação para baixo de valores salariais e de transferência. Uma parte da sobrevalorização do salário é porque você tem recursos aplicados pelos investidores: o clube que deixa de gastar em investimento de direitos pode gastar mais em salários. Quando você passar a destinar seus recursos para contratar direitos, você diminuirá o seu custo de salários, é natural”, analisou Oliveira.

“Se a gente olhar para a realidade do futebol brasileiro, é uma decisão muito drástica. Os clubes precisarão se adequar. Até para os atletas: os salários vão abaixar, vamos ter mais jogadores negociados para o exterior. O investidor atua porque os clubes não conseguem competir com o mercado europeu. E hoje tem muito jogador que prefere ficar no Brasil a tentar a sorte no exterior porque aqui se paga grandes salários”, falou o cruzeirense Mendes.

“Nada vai mudar”

Como já foi mostrado pelo iG Esporte, os investidores nem bem sabem como será a regulamentação da Fifa e já têm planos para driblá-la. Nessa linha, Felipe Ximenes, diretor executivo do Flamengo, deu a entender exatamente de que a mudança não será tão drástica. Basta que, além dos clubes, os próprios empresários se reinventem.

“Vai ser um processo de adaptação dos clubes brasileiros. Eu penso que os grandes investidores estão preparados para essa nova legislação. À primeira vista, na minha opinião, os pequenos investidores e clubes de menor expressão serão os maiores prejudicados. Os grandes investidores já têm maneiras de se adequarem a isso”, afirmou Ximenes.

Já o presidente do Atlético-MG Alexandre Kalil foi mais direto: “Todos os grandes empresários são donos de clubes de futebol. Só um idiota acha que isso vai mudar”, disse.