Flamengo x Atlético-MG - último mata-mata foi em 2006 (Foto: Julio Cesar Guimarães/ LANCE!Press)

Raul, Leandro, Osmar, Luisinho e Júnior; Cerezo, Carpegiani e Zico; Tita, Reinaldo e Éder. No banco, João Leite, Toninho, Mozer, Andrade, Adílio, Palhinha, Marinho, Nunes e Lico. Com estes 20 jogadores a Seleção Brasileira poderia disputar e até conquistar uma Copa do Mundo. Todos pertenciam a Atlético-MG e Flamengo na primeira metade da década de 1980, quando a rivalidade entre ambos ganhou definitivamente corpo e alma.

Tudo começou na decisão do Brasileiro de 1980. O Galo fez 1 a 0 no Mineirão, o Urubu 3 a 2 no Maracanã, e como tinha melhor campanha, acabou ficando com o título. Os duelos levaram 245 mil pessoas ao Mineirão e depois ao Maracanã. Só os mais fortes resistiram. Nunes assinalou o gol da vitória aos 37 minutos da etapa derradeira. Mas não acabou aí. Eram 50 minutos quando Manguito atrasou curto para Raul. Pedrinho Gaúcho, que acompanhava o lance, chegou antes do goleiro, mas no momento de concluir foi travado por Andrade. O empate de 3 a 3 daria o campeonato ao clube mineiro.

No ano seguinte, Atlético-MG e Flamengo disputaram a Libertadores. O grupo da primeira fase também contava com os paraguaios Cerro Porteño e Olimpia. As partidas entre ambos acabaram em 2 a 2. Os brasileiros terminaram empatados na liderança, com oito pontos, o que gerou um jogo extra, disputado no Serra Dourada, em Goiânia, em 21 de agosto de 1981, diante de 71.527 pagantes.

Trata-se de um dos mais polêmicos de todos os tempos. Apesar da quantidade de craques, havia muita animosidade, o que levou o árbitro José Roberto Wright, após meia hora, a reunir os jogadores e avisar que o primeiro que cometesse falta por trás receberia o cartão vermelho. Pouco depois, Reinaldo atingiu Zico e foi expulso. Na sequência, também tomaram o rumo do vestiário, por violência ou reclamação, Éder, Chicão, Palhinha e Osmar. O Galo ficou com apenas seis em campo e a partida acabou sendo encerrada aos 37 minutos. O Flamengo passou adiante e mais tarde se sagrou campeão. Até hoje e por muito tempo os atleticanos continuarão acusando Wright de ter favorecido absurdamente o time carioca. Mas um relato que não reúna provas não pode fazê-lo.

Os dois clubes travaram outras batalhas emocionantes naquela década. Em 1986, o Atlético eliminou o rival nas oitavas do Brasileiro, com o empate de 1 a 1 em 2 de fevereiro de 1987 - o campeonato terminou no ano seguinte -, no Maracanã, com público de 48.384, e vitória de 1 a 0, dia 4, no Mineirão, marcando Nelinho, de pênalti, diante de 107.497 pessoas.

E no Brasileiro de 1987, jogaram pelas semifinais. O Flamengo venceu por 1 a 0 no Maracanã, gol de Bebeto, e por 3 a 2 no Mineirão, reunindo nas duas ocasiões 203 mil espectadores. Zico fez 1 a 0 aos 22 minutos, Bebeto ampliou aos 31, os rubro-negros desperdiçaram outras oportunidades, e o Galo reagiu, chegando ao empate com Chiquinho, cobrando pênalti, e Sérgio Araújo. Mas aos 34, Renato Gaúcho, numa arrancada irresistível, marcou o gol da vitória, muito comemorado pelo atacante, pois representou uma vingança contra o então técnico atleticano, Telê Santana, que o havia deixado de fora da Copa do Mundo de 1986, no México. Vale lembrar que as duas equipes também poderiam formar uma Seleção Brasileira, tal a quantidade de craques que possuíam - Jorginho, Leandro, Edinho, Leonardo, Andrade, Zico, Renato Gaúcho, Bebeto, Luisinho, Zenon, Renato - só para citar alguns. O Flamengo, treinado por Carlinhos, foi o campeão brasileiro de 1987.

Os dois clubes voltaram a decidir vaga em 2006, agora pela Copa do Brasil, valendo presença nas semifinais. A qualidade dos protagonistas e de público nos estádios já não era a mesma de outros tempos. A rivalidade, porém, permaneceu. O time carioca ganhou por 4 a 1 no Maracanã, com 24.703 pagantes, em 26 de abril, e depois segurou o 0 a 0, no Mineirão, com 44.746, em 3 de maio. O técnico rubro-negro era Waldemar Lemos e o do Galo Lori Sandri. O Flamengo conquistou o título derrotando o Vasco duas vezes, 2 a 0 e 1 a 0, na decisão.

Para quem está curioso, rubro-negros e atleticanos jogaram 57 vezes pelo Campeonato Brasileiro, desde 1959, com ligeira vantagem do clube da Gávea: 23 a 20. No total de partidas, incluindo campeonatos e amistosos, desde 1929, foram 100 encontros: os cariocas ganharam 40 e os mineiros 30. Pois em 29 de outubro e em 5 de novembro próximos tem mais. Só os mais fortes resistirão.