Maracanã lotado pela torcida do Fla: clube espera rediscutir valores com o Consórcio (Foto: Cahê Mota)
Às vésperas do segundo turno das eleições 2014, os candidatos ao governo do Estado do Rio de Janeiro falaram sobre questões de interesse do Flamengo. Nesta quarta-feira, o site oficial do clube publicou respostas a perguntas feitas pelo Conselho Diretor rubro-negro por e-mail a Luiz Fernando Pezão e Marcelo Crivella. Entre os temas, os candidatos deram suas opiniões sobre os Jogos Olímpicos de 2016, a relação com o consórcio que administra o Maracanã, a questão das gratuidades no estádio e sobre a construção de um estádio na sede do clube na Gávea.
Confira a íntegra das respostas, sem edição ou alteração:
Estamos a dois anos das Olimpíadas Rio 2016. O Flamengo, mesmo sendo um tradicional formador de atletas olímpicos, tem tido muitas dificuldades em obter apoios financeiros para esta área. Como o senhor irá incentivar o trabalho de clubes como o Flamengo na formação e manutenção dos atletas olímpicos?
Crivella: Estabeleceremos uma parceria com a Prefeitura do Rio para apoiar a formação de nossos atletas a fim de termos uma boa performance nas Olimpíadas.
Pezão: Nossa política é de parceria e trabalho integrado. Os clubes são os grandes formadores de talentos e os principais motivadores, que fazem as crianças e jovens se interessarem pela prática de esportes. O próprio Flamengo é um exemplo, com o caso do time de basquete. Uma gestão que conseguiu transformar o basquete do clube num negócio rentável e capaz de se sustentar com as próprias pernas, com um planejamento sério e o apoio da iniciativa privada. O resultado está aí. O Flamengo é multicampeão do NBB, ganhou a Liga das Américas e acabou de ser campeão mundial pela FIBA. Tanto sucesso levou o clube a ser convidado para jogar a pré-temporada com equipes da NBA. Quantas crianças vão começar a se interessar pelo basquete e por outros esportes a partir desse destaque alcançado pelo Flamengo? Esse é o modelo a ser seguido, mas sabemos que precisamos aproveitar melhor a estrutura e o poder de paixão dos clubes para atrair praticantes e investimentos privados. O poder público deve se unir aos clubes e às empresas que têm interesse para aproveitar as leis de incentivo e levar esse capital para dentro dos clubes, que possuem a competência e a estrutura para fazer a gestão desses esportes olímpicos e revelar campeões capazes de honrar a tradição do próprio clube e render medalhas ao Brasil.
Os custos cobrados pelo Consórcio Maracanã para se jogar no estádio são extremamente elevados quando comparados às demais arenas em todo o Brasil. Como o seu Governo pretende minorar este problema, de forma a permitir que o Flamengo possa efetivamente jogar suas partidas no Maracanã sem uma expressiva perda financeira? Qual será a relação do novo Governo do Estado com o Consórcio Maracanã? A concessão será mantida nos atuais moldes?
Crivella: Acho que essa é uma questão que terá de ser discutida com o Consórcio. Claro que não vamos interferir em contratos já feitos, mas acho que devemos encontrar um ponto de equilíbrio razoável entre espectadores, clubes e empresários.
Pezão: O Maracanã foi palco da final da Copa do Mundo de 2014 e será uma importante arena nos Jogos Olímpicos de 2016, mas é o cotidiano dos clubes no estádio o ponto que mais interessa à população. É no dia-a-dia do clube que a população do Estado do Rio mais vive o Maracanã. A concessão será mantida porque é o modo mais adequado de gestão desse espaço tão complexo, mas o diálogo deve se manter para todas as partes alcançarem um patamar mais adequado, em que o clube possa ter boas rendas, a concessionária tenha a sua contrapartida e o torcedor de todas as classes sociais possa frequentar o estádio.
Pretendo caminhar ao lado da população e o que as pessoas querem é um serviço de qualidade a um preço acessível. Entretanto, o clube precisa de boa arrecadação para arcar com os custos da concessionária e ter capital para investir em bons jogadores para atrair mais público. Então, o diálogo é o melhor caminho para encontrar a melhor forma de todo mundo sair ganhando, principalmente, o torcedor, que é a razão de ser do futebol.
O Maracanã permite a exploração setorizada, com valores diferenciados de ingressos, e isso é crucial para levar todos os públicos ao estádio. O próprio Flamengo já mostrou que consegue oferecer preços acessíveis para todos e, ainda assim, manter boas vantagens para os seus sócios. A torcida do Flamengo é do tamanho de uma nação, o que ajuda o clube a enfrentar esse desafio de manter a casa cheia e oferecer parte dos ingressos a preços mais baixos do que a média, mas é claro que o clube tem que faturar e o diálogo sempre deve estar aberto para a gente aperfeiçoar essa relação com a concessionária. Da nossa parte, estaremos dispostos a ajudar a levar mais gente aos estádios porque o futebol existe para o torcedor.
As empresas de transporte público recebem hoje do Governo uma compensação por gratuidades definidas pela legislação. O senhor pretende implantar algum mecanismo semelhante que possa compensar as perdas dos clubes com os benefícios existentes (apenas no Estado do Rio de Janeiro) como a gratuidade de ingressos nos estádios para crianças e para pessoas acima de 60 anos?
Crivella: Vamos discutir também isso. Não quero adiantar decisões antes de tomar conhecimento integral das finanças do Estado. Mas adianto que alguma coisa será feita.
Pezão: Qualquer movimentação neste sentido depende de alterações na legislação, atribuição também dos deputados estaduais, na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). De qualquer forma, a gratuidade de ingressos permite maior acesso para crianças e idosos. É algo positivo para a população e para os clubes, pois uma criança vai sempre acompanhada por adultos que pagam ingresso. Além disso, é parte do processo de fidelização do torcedor, pois as crianças e idosos também consomem a marca do clube de outras formas. O benefício dessas pessoas é lei e o cumprimento é obrigatório.
Nós estamos dispostos a ajudar os clubes a aproveitarem a presença dessas pessoas com alternativas de arrecadação, como a disponibilização de produtos oficiais no estádio. As crianças e idosos também são consumidores apaixonados por seus clubes. O melhor caminho, nesse caso, não é cortar o benefício, mas aproveitar melhor esse potencial de consumo.
O Flamengo tem, na Gávea, a possibilidade concreta de fazer um pequeno estádio de futebol – para até 25.000 pessoas. O seu governo aprovaria a construção deste pequeno estádio na sede social da Gávea, liberando as licenças de construção para uma obra nestes moldes?
Pezão: Sabemos que esse é um projeto que se transformou num sonho para alguns diretores do Flamengo. O plano é ambicioso e merece atenção, mas sabemos que o clube precisará passar pelo processo legal. A área ocupada pelo Flamengo foi cedida pela Prefeitura do Rio e não pode ser usada para fins lucrativos.
Para isso, são necessárias as devidas autorizações. Há também a necessidade das licenças legais para a obra. O terceiro ponto é a aprovação dos moradores. Uma obra desse porte precisa ser pensada em conjunto com as associações dos bairros do entorno. Teremos, em 2016, três estações da Linha 4 do metrô nos arredores da sede do Flamengo: as estações Gávea, Antero de Quental e Jardim de Alah. Então, a questão da mobilidade poderia ser facilitada por esse investimento que já estamos fazendo, evitando que as pessoas fossem até o estádio de carro. Se for algo feito em comum acordo, seria uma alternativa interessante para jogos com menor apelo, que não precisassem do Maracanã. Mas tudo isso deve ser feito de acordo com as leis e tendo participação dos moradores em todo o processo, como está sendo feito com a Linha 4 do metrô.
Houve audiências públicas, a população foi ouvida e a maioria aprovou. O Flamengo também está com o projeto de uma arena multiuso, principalmente, para o basquete, em parceria com o McDonald’s. Um clube campeão do mundo de basquete merece ter um palco moderno em sua sede. O mesmo vale para o futebol, mas sabemos que o impacto de um ginásio é muito menor que o de um estádio para 25 mil pessoas, pois a movimentação de uma partida ali poderia parar o Rio de Janeiro e ter reflexo até no trânsito de outras cidades da Região Metropolitana. Então, tudo dever ser muito bem planejado.
Crivella: É outra questão que deveremos discutir depois de termos pleno domínio da realidade das finanças do Estado. Além disso, devemos compatibilizar essa demanda com outras oriundas de outros clubes. Faremos o que for considerado justo, e importante para o desenvolvimento do esporte no Estado.
Gávea: estádio para 25 mil? (Foto: Gilvan de Souza / Flamengo)
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