O ano de 2015 para o Flamengo ainda será de sacrifícios. O horizonte para começar a respirar é 2016. Nas previsões do clube, na próxima temporada a receita anual pode alcançar os R$ 440 milhões e superar pela primeira vez a dívida, hoje em R$ 488 milhões, e caindo.
— Pela primeira vez na história do clube o endividamento está diminuindo — comemora o presidente Eduardo Bandeira de Mello.
A expectativa é tão grande quanto o potencial do clube. A diretoria acredita que se tivesse a receita proporcional à sua torcida com a mesma eficiência do Internacional, líder em número de sócios-torcedores no Brasil, teria recursos anuais na ordem de grandeza do Real Madrid.
— Se o Flamengo atingir a mesma conversão de receita, chega a R$ 1,6 bilhão anual, que é exatamente a receita do Real Madrid, 500 milhões de euros. A gente tem um potencial de ser um “top five" de receita do mundo. Mas isso vai demandar anos — avisa o mandatário, mantendo a cautela no discurso para não empolgar o torcedor.
Esse ano, por exemplo, a conta ainda está mais cara que a arrecadação. Por isso, apesar dos R$ 365 milhões de orçamento, o clube precisa pagar R$ 70 milhões de empréstimos vencendo e poderá solicitar quantia próxima para manter os compromissos fiscais, que diminuem progressivamente. A credibilidade conquistada no mercado se dá, diz Bandeira, pela honra dos pagamentos, mesmo que ainda haja atrasos.
— Não tem sobra de caixa. Todo dia a água está na beira do nariz. Hoje o Flamengo não está com tudo em dia, ainda tem sobressaltos. Mas o que não paga hoje, paga amanhã. Pode atrasar um pouco, mas se o Flamengo prometeu, cumpre. Ao contrário do que aconteceu no passado — manda o recado.
Na busca por manter-se na liderança como o clube com maior receita do Brasil, o Flamengo espera equilibrar suas finanças com aumento dos valores de patrocínios, mais lucro com bilheteria e o já falado crescimento do programa de sócio-torcedor. Tudo sem deixar de pagar os impostos e torcendo pelo parcelamento da dívida ser aprovado pelo Governo Federal.
— O modelo que o Estado montou para o Maracanã é prejudicial aos clubes. O Flamengo lucra no máximo 40% e a média é de 23% do arrecadado. O Cruzeiro lucra até 75% da renda bruta. Para um Flamengo equilibrado lá na frente, sem dívida, temos que considerar um estádio próprio — explicou Bandeira, sem garantir preços populares para os jogos de 2015.
O Flamengo negociará em maio o aumento do patrocínio da Caixa Econômica e espera superar os atuais R$ 25 milhões, alcançando até R$ 90 milhões no valor de seu uniforme em 2015, quando os esportes olímpicos se tornarão autossustentáveis. As boas notícias param por aí esse ano, alerta o presidente:
— Algumas pessoas entenderam que o futuro chegou, mas está longe ainda, o sacrifício não terminou. A gente tem muitas dificuldades, mas está dentro do roteiro planejado. Estamos no caminho certo, mas ainda estamos no caminho.
‘Nosso discurso pegou. É de quem tem vergonha na cara’, diz Bandeira
Confira entrevista:
2015 é ano de eleição. O senhor será candidato?
Falta quase um ano, tem tempo para discutir. O que eu gostaria é que essa ideia, esses princípios se perpetuem aqui por vários mandatos. Com certeza a gente vai participar do processo, lançar um nome. Mas é cedo.
Há uma renovação na política do Flamengo?
Muita gente nova se associou quando a gente começou o movimento. O pessoal vê o longo prazo e sabe que o time ainda não é o que a gente merece, mas estamos no caminho certo, e querem que essa política continue. Encontro gente na rua, pessoas humildes, pedindo para continuar, que temos que dar exemplo com 40 milhões de torcedores. Nosso discurso, felizmente, pegou. É um discurso de quem tem vergonha na cara, e o torcedor entende que é o único caminho para chegar ao patamar que a grandeza da torcida nos permite.
O presidente do Vasco Eurico Miranda disse que este ano vai bater muito no Flamengo...
A rivalidade entre os clubes cariocas é saudável, desde que se restrinja ao campo, sem violência. Essa coisa de gostar de bater no Flamengo, todo mundo gosta. Quem está lá em cima sempre desperta isso. Não temos nada contra os outros clubes.
Como anda o diálogo com a Federação do Rio?
A questão da administração das entidades, da governança do futebol, tem que continuar a ser discutida. No caso da Federação, fizemos um documento propondo mudanças. A Federação promoveu um simpósio, eu fui pessoalmente. Colocamos no documento vários pontos e alguns pontos não foram discutidos, como as questões de transparência financeira. Espero que esse ciclo de palestras se repita e o tema volte.
E a multa de R$ 50 mil para quem criticar o Estadual?
A multa é o de menos.
Haverá debate sobre preço de ingressos no torneio. O que vai propor?
Isso tem que ser discutido a nível de governo estadual. Boa parte do problema que nos leva a ter percentual baixo na receita líquida da bilheteria é por conta de gratuidade e da meia-entrada, que foram criadas e se referem a benefícios que não estabeleceram quem paga (a subvenção). E acaba sendo nós. Só não quero pagar essa conta sozinho. A gente está sempre preocupado com os dois lados. Que o maior número de torcedores vá aos jogos, mas sem descuidar da saúde financeira do clube.
O calote do Hernane prejudicou o clube?
Prejudicou o caixa. Eram recursos com os quais estávamos contando e que vamos viabilizar no longo prazo, mas precisávamos mesmo era hoje. A gente sabia que corria um risco, como em qualquer operação. O Flamengo também deu calote no caso do Gamarra, conhece bem a posição de devedor. Na posição de credor, é a primeira vez.
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