Danielle Karla em campanha do Outubro Rosa no Flamengo (Foto: Reprodução / Instagram)

O nome de Danielle Karla Oliveira nem aparece no ranking mundial adulto da categoria meio-médio (-63kg). Já na lista de juniores, ela era a terceira melhor do mundo. Também pudera, a cearense de apenas 20 anos, que se mudou aos 17 para o Rio de Janeiro, chegou à seleção brasileira sênior no fim do ano passado e agora faz sua estreia com a equipe principal, no Grand Prix de Dusseldorf, que acontece de 20 a 22 de fevereiro, na Alemanha.

Em 2012 ela trocou Fortaleza pelo Rio. Ficou um ano no Instituto Reação, mas foi no Flamengo que se destacou e começou a defender as seleções de base. Iniciou no esporte aos 6 anos para tentar reagir às implicâncias do irmão mais velho. Com o apoio da mãe, dona Carmen, e "paitrocínio" de seu Antônio Carlos, começou a competir - apesar de nunca ter conseguido que o pai fosse assisti-la lutar. A única vez que tentou, se aborreceu com a filha, que, desatenta, não prestou atenção quando chamaram seu nome e foi desclassificada por não aparecer: "Ele ficou bravo e nunca mais foi". A esperança agora é que seu Antônio Carlos mude de ideia e assista Danielle ao vivo pela primeira vez caso ela se classifique para os Jogos do Rio, em 2016.

- Sempre sonhei com as Olimpíadas. As meninas são bastante fortes, mas nada é impossível. De dois anos para cá minha vida virou. Para 2016 nada está certo no meu peso, está aberto ainda. Se ele vem? Acho que sim. Ele vem. Tem que vir, pelo menos as Olimpíadas ele tem que assistir, né.


Danielle luta com estrangeira no treinamento internacional de Saquarema (Foto: Raphael Andriolo)

A GRANDE FAMÍLIA
O sucesso da menina que ainda nas primeiras aulas de judô fugia dos treinos para jogar bolinha de gude com os meninos na rua passa pelo apoio da família. Ou melhor, da "grande família". Além dos pais de sangue, ganhou dois novos pais. Donos de uma empresa de máquinas copiadoras, Jussara Bonamigo e Dalto Castanheira apostaram na menina e resolveram investir. Com dois filhos homens (Caetano e Juliano), Jussara viu em Danielle a filha que não teve e ganhou o reconhecimento como retribuição.

- Quando eu tinha 14, 15 anos apareceu outra mãe na minha vida. Começou como patrocínio. Fui pedir ajuda na loja deles e, desde então, me ajudaram e nunca mais pararam. Hoje em dia, eu tenho dois pais e duas mães. Através do judô, ganhei essas duas pessoas maravilhosas.


Danielle ao lado dos pais - de sangue - e dos pais - de coração - com os irmãos (Foto: Reprodução/ Facebook)

APÓS INÍCIO DIFÍCIL NO RIO, QUASE CARIOCA
Quando completou 17 anos, decidiu voar mais alto. O destino: Rio de Janeiro. Entrou na internet e pesquisou casas para alugar e dividir. Foi morar em Madureira (subúrbio carioca) enquanto treinava no polo da Rocinha do Instituto Reação (zona sul). A distância é de cerca de 36km e, dependendo do horário e do trânsito, o trajeto pode levar mais de 2h30 com transporte público.

O problema é que os treinos acabavam muito tarde, e Danielle voltava para a casa, que dividia com mais duas meninas, por volta da meia-noite. Não durou dois meses para que ela se mudasse. Mas o novo endereço agradou menos ainda e, em uma semana, ela trocava a Rocinha pela Barra da Tijuca. O medo de morar numa comunidade - hoje pacificada - não foi o problema. Ela esclarece:

- Nunca peguei tiroteio, nem em Madureira, nem na Rocinha. Na verdade, sou medrosa com negócio de espírito. Ficava imaginando o quanto de gente tinha morrido por ali. Na Rocinha, morei numa casa vizinha a que morava o Nem, aquele traficante. Aí pensei: "não dá". Peguei e me mudei. Era pesado o clima. Não conseguia nem dormir. Foi terrível aquela semana.

A mudança de endereço e de clube deu um gás para Danielle.
Defendendo as cores do Flamengo a partir de 2013, a cearense foi campeã brasileira sub-21, venceu a etapa do Panamá do circuito pan-americano e o Pan-Americano de El Salvador. Em dezembro, o salto. Ela já tinha batido na trave uma vez, mas não na segunda. Venceu com sobras a última Seletiva Olímpica e garantiu vaga na seleção brasileira adulta. Na corrida por 2016, divide o posto na categoria meio-médio (63kg) com Mariana Silva, Katherine Campos e Dione Barbosa.

Elogiada pela técnica do Flamengo e da seleção feminina, Rosicléia Campos, Danielle treina no clube rubro-negro e com a equipe verde-amarela. Em janeiro e fevereiro deste ano, participou dos treinamentos internacionais na Áustria e em Saquarema. Apesar do trabalho diário, sempre arruma tempo para aproveitar as belezas e pontos turísticos da Cidade Maravilhosa. Acompanhada de amigos, dos familiares que a visitam ou mesmo do cachorro chamado Nissan.

- Ainda tenho sotaque. Hoje eu não me vejo em outro canto. Acho que sou um pouquinho carioca, sim. Fico encantada com morro e praia, tudo junto. Dia de folga sempre vou para a praia, andar de skate. A minha cara é ir ao Cristo. Já fui umas sete vezes. Quando minha mãe vem pro Rio eu falo: "vamos no Cristo".


(Foto: Editoria de Arte)

OS BRASILEIROS NO GP DE DUSSELDORF
Seleção feminina
48kg - Sarah Menezes e Gabriela Chibana
52kg - Érika Miranda e Jéssica Pereira
57kg - Rafaela Silva e Ketleyn Quadros
63kg - Mariana Silva e Danielle Karla Oliveira
70kg - Bárbara Timo
78kg - Samanta Soares
+78kg - Rochele Nunes

Seleção masculina
60kg - Eric Takabatake e Phelipe Pelim
66kg - Ricardo Santos Jr.
73kg - Alex Pombo e Marcelo Contini
81kg - Leandro Guilheiro e Felipe Costa
90kg - Eduardo Bettoni
100kg - Luciano Corrêa e Rafael Buzacarini
+100kg - Walter Santos