Com 16 pontos, Marcelinho comemora a vitória do Flamengo sobre o Limeira (Foto: Luiz Pires/LNB)
Fazia tanto tempo que Marcelinho não decidia uma partida a favor do Flamengo, que até seu filho mais velho já estava sentindo falta de suas bolas de três. A vontade de ver novamente o pai como protagonista era tanta que Gustavo pegou o ala de surpresa na porta de casa, horas antes do terceiro jogo da série melhor de cinco das semifinais contra o Limeira, com o seguinte pedido: "Pai, mete umas bolinhas de três!" Tudo bem que criança é sempre sincera e não tem lá muita noção das coisas que fala, mas o ex-capitão rubro-negro entendeu muito bem que o desejo de Guga era o mesmo que o seu fazia muito tempo.
Aos 40 anos e a caminho de sua sexta final nacional, a quinta de NBB e a terceira consecutiva, Marcelinho sabe que sua realidade é outra. Se ao longo de sua carreira sua principal característica sempre foi os arremessos de longa distância, no atual momento o jogador afirma que se satisfaz com uma defesa forte, um rebote importante ou uma simples assistência para um companheiro. Quinta-feira, o novo Marcelinho trocou de lugar com o antigo, e o resultado lembrou os velhos tempos.
Cercado por microfones, câmeras e uma dezena de jornalistas, o camisa 4 parecia nas nuvens após a partida. Com o sorriso escancarado de quem acaba de ganhar um presente, mas com a consciência em dia, o ex-capitão do Flamengo aproveitou os minutos de fama para enaltecer a defesa, dividir os méritos pela vitória por 76 a 67 com com seus companheiros e lembrar do tal pedido de Gustavo em direção ao ginásio do Tijuca.
- Estava numa noite feliz, as bolas começaram a cair e o time também teve a tranquilidade de me procurar já que eu estava bem no jogo. Acho que também foi muito mérito da nossa defesa no último período, eles fizeram apenas sete pontos e isso fez com que a gente ganhasse o jogo. É claro que estava com saudade dessa sensação, mas não tenho essa preocupação de ser o cara do time, eu quero apenas ajudar o Flamengo e ser campeão. Meu filho tem seis anos e é difícil explicar para ele essa mudança de função dentro do time. Antes de sair de casa ele disse: "pai, mete umas bolinhas de três", e ainda me mostrou como eu tinha que fazer o arremesso. Deu certo, né, tenho que agradecer a ele (risos) - lembrou um emocionado Marcelinho.
Se é difícil para Gustavo entender os motivos que levaram seu pai a jogar menos, é fácil para o torcedor lembrar de tudo que Marcelinho já fez pelo Flamengo. A prova disso veio no fim do jogo, quando o camisa 4 foi ovacionado pela torcida que lotou o ginásio do Tijuca. Feliz com o reconhecimento, o ala aproveitou a manifestação dos rubro-negros para responder uma pergunta que sempre é feita ao jogador mais antigo do elenco bicampeão do NBB.
- Muita gente me pergunta quando eu vou parar de jogar, e eu sempre digo a mesma coisa, quando perder isso. Essa vontade de querer ganhar, de competir e de ser campeão. Eu ainda tenho isso muito aguçado dentro de mim e jogar na frente dessa torcida não tem como não ser especial. Chega uma hora que o atleta tem que entender qual sua função dentro do time e acredito que venho ajudando o Flamengo de outras formas, hoje (quinta) acabou sendo com uma característica que estava mais acostumado a fazer em anos anteriores, mas em outros jogos têm sido com consistência e na defesa - analisou Marcelinho, que anotou 16 pontos na vitória de quinta-feira, 11 só no último período.
Flamengo nbb basquete (Foto: Rudy Trindade/Agência Estado)
Questionado sobre qual dos dois adversários da outra chave preferia na final, Marcelinho saiu pela tangente e foi político ao afirmar que qualquer um dos quatro semifinalistas poderia estar na final e seria um campeão merecido. Mas com a personalidade que sempre o acompanhou, o ala completou dizendo que é sempre bom decidir em casa, o que só aconteceria para o Flamengo caso Mogi batesse o favorito Bauru, atual campeão paulista, da Liga Sul-Americana e da Liga das Américas.
Se Marcelinho mostrou sua preferência mesmo que nas entrelinhas, José Neto foi mais direto ao analisar a importância do camisa 4 na classificação do Flamengo à final. Com as rusgas deixadas no passado, o comandante rubro-negro elogiou o poder de reação de sua equipes e demonstrou todo seu respeito por seu antigo capitão.
- O Flamengo é isso, nós não temos dois ou três jogadores, temos um time. Conseguir fazer 21 a 7 no último período depois de estar perdendo um jogo que Limeira jogou muito bem por três quartos, só comprova que temos essa capacidade de sabe aproveitar cada momento e os jogadores que temos. Isso é um time. Eles estão de parabéns, e o Marcelinho mostrou por que é o ídolo da torcida, por que está no clube há tanto tempo e por que é esse jogador que tem tanto prestígio. Esse time é assim, não desiste nunca - destacou José Neto.
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