Por volta de 0h15m desta terça-feira, Eduardo Bandeira de Mello girou a roleta de saída da Gávea. Pegou o carro para um trajeto curto. Dirigiu por cerca de 300 metros e cruzou as ruas Gilberto Cardoso e Fadel Fadel, ambas cujos nomes homenageiam ex-presidentes do Flamengo. Certamente um trajeto que ele percorreu centenas de vezes nos 34 anos de vida associativa. Mas, ao estacionar o carro, o administrador de 59 anos descobriu que as coisas mudaram.
Poucos minutos antes, emocionado, agradeceu a Zico e à torcida pela vitória na eleição presidencial. Mas só quando ultrapassou os muros altos da sede teve o primeiro contato com a vida real que o acompanhará no próximo triênio (2013 a 2015). Os familiares o aguardavam em uma pizzaria. Mas nem só de conhecidos e amigos seria a recepção.
orcedores rubro-negros e militantes da Chapa Azul também estavam no restaurante e vibraram como se fosse um gol quando avistaram o novo presidente. Em vez dos 1.414 votos que recebeu no pleito desta segunda-feira, Bandeira terá de lidar com, segundo dados da pesquisa da Pluri Consultoria de 2012, quase 30 milhões de torcedores. Com eles, esperanças, expectativas e cobranças.
No primeiro encontro, deixou de ser o Dudu, o Edu, o Bandeira, como os amigos costumam chamá-lo. Passou a ser simplesmente o “presidente”, o “cara que trará dias melhores ao Flamengo”. Sorriu diante da novidade.
Depois de um dia estressante, maçante, recebeu dos filhos e da esposa um chope gelado, com colarinho, para brindar. Saboreou, acenou para as mesas que o saudavam e seguiu adiante em direção a um bar no Leblon. Pediu, educadamente, para não dar entrevista. Mais 100 metros e outro encontro com parte da cúpula da badalada Chapa Azul.
Sentou-se em uma mesa cujo fundo trazia, curiosamente, uma faixa sintomática: “Fora Patricia Amorim”. Entre um chope e outro assistiu às manifestações hostis contra a atual presidente. Se dentro do clube houve moderação para evitar tumulto com a chapa derrotada, na vizinhança sobrou espaço para provocações.
Primeiro, ofensas à diretoria que se despede do clube no fim do ano: “Olha, olha a corja indo embora”, berraram os torcedores. Posteriormente, Patricia virou o alvo, e os azuis lembraram do fracasso dela na reeleição da Câmara e do Flamengo: “Uh, tá maneiro, seguro desemprego” e “Ão ão ão, aula de natação”.
Por fim, o choro da dirigente também foi ironizado: “E ninguém cala esse chororô, chora a Patricia, chora o Cacau (vice do Fla-Gávea), chora o tricolor (Fernando Sihman, marido da presidente e torcedor do Fluminense na adolescência)”
Desfraldada entre dois postes e observando a festa estava uma bandeira rubro-negra. Nela, estampada uma caricatura de Zico, um dos grandes protagonistas da eleição. Bandeira de Mello e Wallim Vasconcellos – o candidato inicial dos azuis, mas que foi impugnado no Conselho de Administração – posaram para imagens à frente do símbolo. Eles sabiam da importância que o apoio do ex-craque teve para o êxito da Chapa Azul.
- Se estou aqui, é por causa do Zico – disse Bandeira, que usava uma camisa retrô do maior ídolo rubro-negro.
Por volta de 2h, Bandeira deixou a comemoração. Saiu sozinho pelas ruas do Leblon, sem ninguém para incomodá-lo. Voltou a ser Dudu, mas ciente de que a partir de agora mais de 30 milhões caminham ao seu lado.
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