Loja do Campinense fica localizada bem acima da do rival Treze, em Campina Grande, na Paraíba

Dizem que no mundo em que vivemos os fins (lucrativos) justificam os meios. Em grande parte, tal fato se apresenta como verdade inefável, ainda mais em tempos de novas arenas esportivas onde o lucro anda de mãos dadas com o futebol. O amor clubístico de ontem parece ter virado só pretexto para os projetos de marketing de hoje, onde o gol é a tal da criação de receitas. Pois uma esquina de Campina Grande, na Paraíba, desafiou as leis mercadológicas com boa dose de paixão futebolística. É ali que ficam as lojas oficiais dos rivais históricos Treze e Campinense, e onde, em uma história nada revolucionária, a diretoria do clube que enfrenta o Flamengo nesta Quarta tentou desafiar o capitalismo em nome da rivalidade. Acabou vencida.

A esquina das ruas Marquês de Herval com a Cardoso Vieira, no centro de Campina Grande, é uma das mais agitadas da Paraíba. Há duas semanas, quando o Flamengo venceu o Campinense por 2 a 1 na partida de ida pela segunda fase da Copa do Brasil o lugar virou point de torcedores e curiosos com a agitação da cidade. Explica-se: fica ali uma das lojas oficiais do Campinense e o ponto mais central de venda de ingressos do clube. O estádio estava lotado e grande parte das entradas foi adquirida ali, no segundo andar do Edifício Lucas. Andar de cima, porque embaixo, fica a loja do rival Treze, vazia naqueles dias.

O primeiro piso é alvinegro, do Treze, melhor lugar. Loja de cara na rua, movimentada, um belo ponto comercial, sonho de qualquer dona de boutique. O segundo é rubro negro, da Raposa. Uma sacadinha com varanda, escondida, obrigando o consumidor a olhar para cima para enxergar uma pequena placa, antes colorida, hoje, curiosamente, em preto e branco.

Eis a história onde a rivalidade desafia o comércio: idos de 2006 e o Governador da Paraíba era Cássio Cunha Lima, hoje senador pelo PSDB. Os pontos onde hoje funcionam as lojas dos rivais pertenciam ao Governo do Estado, e partiu do governador a ação de doá-los para os times de Campina Grande, onde já havia sido prefeito por três mandatos. A justificativa era para que as lojas incentivassem o povo paraibano a torcer e incentivar os times do próprio estado.

O presidente do Campinense na época era Renato Cunha Lima, primo do então governador Cássio. Foi por isso que o time ganhou preferência na escolha em relação ao Treze, podendo escolher entre o primeiro ou segundo andar. A decisão não ligou muito para os critérios mercadológicos.

“O Renato teve o direito de escolha primeiro por ser parente do Governador. Daí ele escolheu a loja do segundo andar para que pudesse ficar em cima do Treze”, confirma Anderson Veiga, assessor de imprensa do Campinense.

Ficar com uma loja em cima do rival só trouxe benefícios de ordem simbólica para a Raposa, o suficiente para satisfazer a torcida fanática.

“A loja do Treze é mais movimentada em dias normais pela própria localização. Se vem turista, compra no Treze e nem vê a do Campinense, mas mudou agora com a Copa do Nordeste” diz um ambulante que prefere não revelar nome nem time à reportagem. Competindo com as lojas oficiais, vende uma camisa de qualquer um dos times por R$25, contra R$125 das camisas oficiais.

“Se precisasse eu subiria vinte andares para ir na loja da Raposa do Nordeste. E de que importa se o ponto do Treze é melhor se o time é pior e a torcida menor? De qualquer maneira a gente vende mais”, provoca Ilson, torcedor do Campinense que aprova a doação do governo aos dois times.

O campeão da Copa do Nordeste continua em cima do Treze em números de títulos paraibanos (18, contra 15) e no espaço físico do edifício que já foi patrimônio público, apesar de hoje a lojinha hoje só servir para venda de ingressos. O bom momento do clube fez a atual diretoria rever conceitos e abrir outra loja em outro ponto mais nobre da cidade, com uma estrutura bem melhor para colher os louros do título nordestino. É lá, ainda meio desorganizada, que são vendidas hoje camisas, bonés oficiais, camisetas em homenagem ao técnico Oliveira Canindé e até uma réplica da “Lampions League”, taça da maior conquista da história do time.

“Dizem que a parte que a loja nova está é em um ponto mais alto da cidade do que o centro, então, de qualquer jeito, seguimos por cima deles, como sempre”, provoca Ilson.

Jogo é contra o Flamengo, mas rivalidade é com alvinegro
A rivalidade com o Treze por parte do Campinense é tão grande que poderá ser observada amanhã, no banco de reservas do time que enfrenta o Flamengo, 22h, em Juiz de Fora. Se os titulares usam os clássico números do 1 ao 11, no banco, os números vão do 12 ao 19, pulando a camisa 13, nunca usada em jogos do time rubro negro. Nem Loco Abreu, nem Zagallo teriam a simpatia da torcida.

O ano de 2013 era visto como “maldito” até a conquista da Copa do Nordeste. Depois da glória, é comum ouvir dos torcedores que o time foi campeão no ano de 2012 + 1.
Flamengo e Campinense se enfrentam nesta Quartas, 22h, no estádio Mário Elênio, em Juiz de Fora. Na primeira partida, em Campina Grande, 2 a 1 para o time do Rio que pode se classificar até perdendo por 1 a 0. Se perder por 2 a 1 a decisão será nas penalidades máximas, qualquer outra derrota classifica o Campinense.