Eduardo Bandeira de Mello tomou posse na noite como presidente do Flamengo na última quinta-feira e poderia ser uma estrela solitária na festa que tomou conta do salão nobre do clube. Discreto e avesso aos holofotes, porém, ele viu dois nomes da nova diretoria roubarem a cena e arrancarem gritos de associados e torcedores presentes que transformaram a sede da Gávea em um pequeno pedaço do Maracanã em seus grandes dias.

Wallim Vasconcellos, vice de futebol e candidato inicial impugnado da chapa vencedora das eleições, e Rafael Strauch, vice-presidente de secretaria, foram ovacionados como ídolos dos gramados. Enquanto o primeiro representa a principal liderança política da nova diretoria, o segundo, com apenas 36 anos e perfil de "garotão", assume o papel de referência jovem e inspiração para oxigenar o quadro associativo.

Principal colaborador da campanha e citado inúmeras vezes no discurso de Bandeira de Mello, Rafa, como já é conhecido, tem uma história fulminante e curiosa no Flamengo. Com apenas um ano e meio de vida associativa, ele nem sequer votou nas eleições do último dia 3 de dezembro, mas liderou o "boca a boca" na sede da Gávea, levou muitos sócios antigos a apoiarem a então "Chapa Azul" e ainda chegou à vice-presidência. Isso, claro, antes de ser elogiado até pela ala feminina.

"Ele é um gatão, um garotão lindo", disse uma funcionária que não economizou nos elogios e nos berros na hora que Rafa foi anunciado com novo vice-presidente.

"Foi um trabalho muito duro, onde encontramos resistências dos mais diversos tipos, mas acabou vingando. O Flamengo sempre foi tudo na minha vida e minha mulher sugeriu que eu me associasse para poder participar de fato. Ainda não podia votar, mas ajudei como deu. E o pessoal gostou bastante, confiou e me deu esse cargo. Acredito que muita gente hoje me vê como esse símbolo jovem mesmo. E temos que renovar", disse Rafael, que garantiu não ter feito nada pensando em se tornar dirigente no futuro.

"Pelo contrário. Teve até gente de outras chapas me ligando, pedindo que eu trabalhasse para eles e ganhasse um cargo em troca. Mas a ideia não era essa. Eu tinha um ideal, queria ver esse grupo na diretoria. E o detalhe: não recebi um centavo durante a campanha", ressaltou.

Funcionário de carreira do BNDES, ele já avisou que não poderá dedicar 24 horas por dia ao clube e não vê isso como problema, mas sim como um exemplo a ser seguido. "Faremos parte de um conselho diretor e vamos definir as ordens do clube. Mas teremos um executivo trabalhando 24 horas. Esse é o modelo a ser adotado. O Flamengo não pode ter vice presidentes que tenham que resolver tudo", explicou.

Drama familiar

Mas nem tudo foi felicidade para Strauch nos últimos meses. Apesar da ascensão no clube de coração e de ser tratado como unanimidade até pelos mais antigos, o novo vice presidente de secretaria teve que superar derrotas mais doloridas que as do seu time de coração.

"O período foi de vitórias no Flamengo, mas difícil demais em casa. Perdi meu pai, que já vinha lutando contra um câncer muito forte durante o ano, e ainda vi meu primo falecer. Um cara novo, de apenas 30 anos, que morreu dormindo em casa. É difícil falar. Só esses caras [nova diretoria] para me ajudarem. Preciso retribuir esse carinho e trabalhar muito pelo clube, que sempre foi a paixão da minha família", lembrou o dirigente, sem esconder as lágrimas nos olhos.

O episódio o aproximou ainda mais de Bandeira de Mello e outros integrantes da chapa. Mas o novo xodó não estava sozinho ao receber o carinho dos associados. Além de Rafael, Wallim Vasconcellos também foi bastante aplaudido. E não era para menos. Novo vice de futebol, ele é a esperança para que o esporte reencontre os caminhos de glórias.

"Ele é o símbolo dessa diretoria, sim. E muito competente. Vai nos dar essa alegria que a torcida tanto quer. O trabalho é árduo e começa agora, mas vai ser bem feito", disse o presidente Eduardo Bandeira de Mello, parecendo não se importar em dividir as atenções.