Pouco menos de um mês depois de chegar ao Flamengo, Marcelo Moreno já se sente ambientado ao clube .
Foram três jogos (dois como titular), com direito a um gol marcado diante do Atlético-PR, no último sábado, no empate por 2 a 2, na Arena Joinville. A ida para o Rubro-Negro, após um desentendimento com o técnico Vanderlei Luxemburgo no Grêmio, poderia não ter sido uma tarefa fácil para o boliviano, já que seu pai, Mauro Martins, havia dito no início do ano que o seu filho não atuaria em uma "equipe fracassada" na primeira tentativa de contratação por parte dos cariocas.
O jogador, que recebeu a reportagem do GLOBOESPORTE.COM em sua nova casa, num condomínio na Barra da Tijuca, contou mais detalhes sobre essa polêmica. Ao lado da namorada e de sua mãe, Moreno chegou a brincar agradecendo a ausência do pai na entrevista.
- Ainda bem que ele não está aqui, podia falar mais alguma besteira (risos). Meu pai sempre foi importante na minha carreira, sempre foi um cara que me ajudou, tomou decisões quando eu era mais garoto, mas ele nunca foi meu empresário. Eu tenho meu empresário, que é o Fabiano Farah, e ele é quem sempre está me guiando. Logicamente, sempre escuto meu pai por tudo, mas quando cheguei aqui, no Flamengo, dei uma coletiva que expliquei que as polêmicas que aconteceram nunca saíram de mim, mas sim do meu pai. Nunca foi uma coisa que eu combinei com meu pai. O meu pai falou como torcedor. Opinião dele defendendo o filho. Eu nunca compartilhei essa opinião dele. Respeitei o que ele pensava, mas nunca o torcedor ouviu falar da minha boca mal dos times que meu pai falou. São coisas totalmente separadas – afirmou.
Marcelo Moreno posa entre a mãe e a namorada em sua casa no Rio de Janeiro (Foto: Fábio Leme)
Oposto de seu marido, Ruty Moreno, mãe do atacante, é avessa a dar entrevistas e foge de jornalistas, principalmente, quando uma câmera de televisão é ligada. Convencida a dar algumas palavras, a boliviana aceitou, mas se retirou poucos minutos depois de dizer o orgulho que sente em ver o filho jogando pela seleção de sua terra natal.
- É uma maravilha como mãe poder sempre estar apoiando o meu filho a todo o momento. Era assim em Porto Alegre e agora aqui. E com a seleção boliviana estando aqui, no Brasil, é muito melhor, mais alegrias para a gente – disse a tímida Ruty Moreno, vislumbrando a possibilidade de uma classificação boliviana para a Copa do Mundo de 2014.
O que muitos não sabem é que Moreno já defendeu a seleção brasileira. Dono de dupla nacionalidade (o pai é nascido no Brasil), o atacante jogou a Copa Sendai de 2005, quando, aos 18 anos, fez parte da conquista da competição pelo Brasil, assinalando dois gols, sendo um dos artilheiros da equipe ao lado de Beto e Edmílson.
Joguei a Copa Sendai (competição sub-19) e fui artilheiro (do Brasil). Infelizmente, gostaria de vestir a camisa da Seleção, mas é complicado, são muitos jogadores e não tive a oportunidade. Mas estou muito feliz na Bolívia e quero chegar ao Mundial com ela. Seria um sonho – lamentou o atacante posando perto de um dos diversos quadros que enfeitam a sua sala, ainda em fase de construção.
Uma das coisas que mais tem impressionado o atacante é a falta de sol na Cidade Maravilhosa durante os 27 dias que está aqui. Além disso, nesta quarta-feira, ele completa uma semana na sua casa nova. Entre as visitas dos pais, amigos e da namorada, Moreno tem vivido situações curiosas na mudança. Em uma delas, a demora no atendimento de um dos serviços de instalação de televisão a cabo só foi solucionado depois que um vizinho ligou para a operadora e disse que o serviço seria para o novo camisa 19 do Ninho. Ao saber, o atendente resolveu o problema cirurgicamente, mas com uma ressalva.
- Ele me pediu uma camisa do Flamengo, e tinha que ser da Adidas – confessou Moreno.
E, justamente, no meio da entrevista para o GLOBOESPORTE.COM surge um profissional para fazer o serviço, mas esse, com certeza, não vai querer levar o Manto Sagrado para casa.
- Sou botafoguense, me mandaram para a casa errada – brincou Jairo.
Confira a entrevista de Marcelo Moreno na íntegra:
Escolha pelo Flamengo
- Eu tinha interesse em vir para o Flamengo, desafio muito grande para mim e estou vendo que está no início um grande futuro. Que seja o melhor para mim e para o Flamengo. Trabalho para deixar essa torcida maravilhosa feliz.
Primeiras impressões
- Eu sei que estou em um clube que vai te cobrar sempre, tem a maior torcida do Brasil, uma torcida que é maior do que meu país todo. Então, impõe muito respeito. Você vai para qualquer estádio do Brasil e o torcedor flamenguista está torcendo por você, isso te dá vontade e te ilude ao mesmo tempo. Estando em um clube desses, você tem que dar o seu máximo, focado o tempo todo, querer jogar sempre e deixar o torcedor feliz. Acho que essa é a ideia de um atleta no Flamengo e a minha também.
Visão do clube antes de vir
- A história do Flamengo te mostra a grandeza do clube. Time que tem muita história e que você quer estar dentro para continuar fazendo história é o interesse de todo o jogador. Para vir para o Flamengo você tem que ter vontade de vencer porque a cobrança aqui é todo dia. Você tem que estar ligado.
Reestruturação extracampo
- Eu sei que está acontecendo essa transformação. Mudou diretoria, eles estão tentando colocar uma ordem dentro do clube que estava fazendo falta. Começou com a chegada de jogadores que o clube está acreditando. Nem todos de nome, mas todos sabem que vai dar certo. Estão acreditando neles. Um grupo novo, em formação ainda. O próprio Jorginho fala sobre isso. Daqui em diante, é só pensar em crescer em uma situação estável, em uma posição boa no Brasileiro e fazendo as coisas certas. Acredito que com essa diretoria que entrou agora, as coisas no Flamengo vão se acertar e vai dar certo.
Onde esse grupo pode chegar?
- Eu falaria que acredito muito no grupo que está se formando. Grupo novo. Pode ser que cheguem mais jogadores de experiência para ajudar, mas tenho a ambição de chegar à Libertadores, agora, e, mais na frente, quem sabe, a gente possa estar brigando pelo título, que é o objetivo de todos os jogadores que estão no Flamengo.
Botafoguense, técnico de TV a cabo brinca com Marcelo Moreno: 'Casa errada' (Foto: Fábio Leme)
Meta de gols
- Eu sempre falo que quero fazer muitos, mas não tenho uma meta. Não coloco tantos gols para tentar atingir. Espero que sejam muitos, que eu possa ajudar ao Flamengo e dar alegria ao torcedor. É o que me deixa feliz.
Primeiro gol
- Sempre é bom quando você chega ao clube fazer o primeiro gol. Dá uma confiança a mais com os companheiros, com o torcedor. Me deixa mais tranquilo para fazer o meu trabalho, senão tem a cobrança direto e parece que tudo que você já fez não vale nada. A gente sempre tenta chegar bem ao clube, se firmar bem, mostrar seu trabalho no início para o torcedor ter essa confiança e acreditar em você.
Comemoração contida no primeiro gol
- Inclusive, ela falou (aponta para a namorada) que nunca tinha me visto comemorar um gol bravo. Eu estava chateado que não conseguíamos vencer um jogo que poderíamos ter vencido. Fiquei chateado mesmo. Depois fiquei feliz porque foi o primeiro gol, que é importante no início quando você chega ao clube. Tomara que venham mais para eu comemorar de uma maneira especial.
Dupla com Hernane é possível?
- Acho que sim. O Jorginho já falou com a gente e com o grupo sobre isso e a gente não tem problema nenhum em atuar juntos, tanto que a gente está jogando durante os jogos. Estão fazendo alterações. Ele entrando no segundo e eu também e o grupo está se encaixando.
Apelidos
- Ele é o brocador, faz gol para car....(risos). E eu sou o Marcelo Moreno. (NR: Marcelo Moreno era chamado de matador pela torcida do Grêmio, mas sua namorada não gosta do significado do apelido).
Já sentiu a cobrança?
- Desde antes de vir para o Flamengo. Essa experiência de estar bem sempre, a gente tem. Sabemos que é a maior torcida do país e que seremos cobrados. Desafio é esse de fazer as coisas bem, dar a alegria ao torcedor e esse é o meu maior motivo para estar aqui hoje.
Gols contra o Flamengo
- Estava defendendo o Grêmio. É o meu trabalho fazer gols independentemente do clube onde eu esteja. Espero agora, estando no Flamengo, quando enfrentar o Grêmio, fazer gols neles. Meu trabalho é esse.
Se vai comemorar contra o Grêmio
- Sempre tive um respeito de não comemorar, de ficar mais tranquilo. Sempre faço isso. Inclusive, quando vou jogar contra o Cruzeiro, a torcida reconhece esse respeito que eu tenho por eles e eles por mim durante o jogo. É um carinho que a gente recebe por um gesto bom que a gente faz. Tenho um respeito imenso pelo Grêmio por tudo que a torcida fez por mim, que é a única coisa que eu deixei para trás. Sempre me apoiou e esteve comigo. O resto, eu quero esquecer.
Declarações polêmicas do pai
- Meu pai sempre foi importante na minha carreira, sempre foi um cara que me ajudou, tomou decisões quando eu era mais garoto, mas ele nunca foi meu empresário. Eu tenho meu empresário, que é o Fabiano Farah, e ele é quem sempre está me guiando. Logicamente, sempre escuto meu pai por tudo, mas quando cheguei aqui, no Flamengo, dei uma coletiva que expliquei que as polêmicas que aconteceram nunca saíram de mim, mas sim do meu pai. Nunca foi uma coisa que eu combinei com meu pai. O meu pai falou como torcedor, opinião dele como pai defendendo o filho. Eu nunca compartilhei essa opinião dele. Respeitei o que ele pensava, mas nunca o torcedor ouviu falar da minha boca mal dos times que meu pai falou. São coisas totalmente separadas.
Por que ele é assim?
- Ele já foi jogador e nunca vai perder isso que tem. Sempre foi um jogador polêmico.
Você já tentou conversar com ele?
- Não foi a primeira vez, né? Foram muitas vezes que eu já conversei com o meu pai sobre esse assunto. Ele sempre me prometeu que não ia falar mais, mas ele fala. Depois da última vez, a gente encerrou o assunto porque foi mais forte, mais pesado. Agora, ele não quer mais falar.
Você acredita?
- Por enquanto, mas eu acho que ele nunca vai parar de falar. Eu chamo a atenção dele, mas é meu pai. Não posso falar mais nada. É muito teimoso e polêmico. Ele gosta disso. Mas eu não concordo com tudo o que ele faz.
Mãe discreta
- Minha mãe é mais direta. Ela sempre diz que não quer falar. Nem sei como ela aceitou sentar aqui de frente para as câmeras. Ela detesta. Nunca se meteu em polêmica.
Críticas de Kléber
- Foi um mal-entendido na verdade. Eu tinha dito uma coisa, mas a imprensa me interpretou mal. Chegou para os jogadores de uma forma diferente. Eu queria me valorizar, falando que eu tinha feito 22 gols, mas, em nenhum momento, falei que queria ver os atacantes do Grêmio fazendo 22 gols. Nunca falei isso. Simplesmente falei que não era fácil fazer 22 gols. Tomara que os jogadores do Grêmio possam fazer.
Conversa com Kléber
- Falei com o Barcos, com o Kléber, a gente conversou, tranquilo. Isso aconteceu depois das declarações. A imprensa estava me ligando e antes de dar mais declarações, eu liguei para ele e ficamos tranquilos, de boa. Acho que fui humilde em ter aceitado tudo o que ele falou, mas eu entendo, pois foi depois de um jogo que a torcida me pediu para entrar em campo. Entendo o desabafo dele.
Seleção boliviana na Copa do Mundo no Brasil
- É um sonho meu, de toda minha família e de milhões de bolivianos que estão torcendo por essa classificação. Vamos tentar conseguir isso e entrar para a história.
Namorada gaúcha e gremista
- Foi uma coisa linda que aconteceu na minha vida. Conheci tem um ano e seis meses, estamos felizes e espero que dure por muito tempo.
Namorada rubro-negra?
- (Moreno olha para a namorada, que responde) Torço pelo Grêmio, meu time de coração, mas, agora, sou Flamengo também, pois é o time do outro coração.
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