Amparado por Antonio e livre do Fla, Luiz vira página por "chance da vida"

10/2/2017 07:28

Amparado por Antonio e livre do Fla, Luiz vira página por "chance da vida"

Com filho de dois anos no colo, volante se despede do clube que o revelou, admite os erros do passado e vê Chape como divisor de águas na carreira: "Depende de mim"

Amparado por Antonio e livre do Fla, Luiz vira página por chance da vida
A corrida do pequeno Antônio, de dois anos, rumo ao abraço com gritos de "papai chegou!" a cada vez que o carro embica na garagem surge quase que como um lembrete para Luiz Antônio: os erros do passado não podem se repetir. Uma das crias da base com mais jogos do Flamengo na década (178), o volante viu a certeza do sucesso após ser eleito o craque da final da Copa do Brasil de 2013 virar dúvida por escolhas que ele mesmo reconhece terem sido equivocadas. Perdeu espaço, rodou por Sport, Bahia e chegou a Chapecoense com uma convicção: 2017 será o ano que definirá o rumo de sua carreira.

Depois de mais de dez anos, Luiz Antonio não retornará ao Flamengo. Apesar da proposta da diretoria, o contrato não foi renovado diante de um novo empréstimo, e o volante estará livre no mercado em dezembro. Ato final para independência de quem se viu obrigado a amadurecer na marra. Do polêmico processo contra o clube que o revelou, no início de 2014, até a chegada a Chapecó, o ainda jovem de 25 teve que encarar pressão da torcida, da família e oscilações dentro de campo até encontrar a serenidade que aponta como determinante para ter um 2017 redentor:

É minha casa. Sou Flamengo de coração. Erros acontecem. Agradeço por tudo que fez, ao torcedor, que é sensacional. Tive erros, ficou a mágoa, mas passa. Um dia termina o ciclo no clube. É uma página virada

Estou encarando como se fosse minha última chance, meu prato de comida. Se eu for mal, fico livre e não consigo um contrato melhor. Se for bem, posso conseguir minhas coisas. Depende só de mim. O tempo está passando.

Já instalado em Chapecó, Luiz recebeu o GloboEsporte.com para um longo bate-papo entre beijos e abraços do pequeno Antonio. Não se privou de falar de Flamengo. Pelo contrário, falou muito. Admitiu os erros do passado, bancou a decisão de cortar o cordão umbilical com o clube e mirou o futuro em verde e branco:

Adeus ao Flamengo
Foram 12 anos, desde o mirim. É difícil. Fui criado, sempre fui Flamengo, e é um fim por opção minha. Eles me ofereceram mais um ano, mas não foi significante. Pelo que fiz fora, acho que poderia ser um pouquinho mais valorizado, mesmo que tenha mágoa do passado, porque acho que ficou um pouco. Tive história no Flamengo, é difícil, complicado, mas pretendo um dia voltar e terminar a carreira. É minha casa. Sou Flamengo de coração. Agradeço por tudo que fez, ao torcedor, que é sensacional. Tive erros, ficou a mágoa, mas passa. Um dia termina o ciclo no clube. É uma página virada. Vida que segue.

Decisão de não renovar

Luiz Antonio se diverte com o pequeno Antônio no colo em entrevista (Cahê Mota / GloboEsporte.com)


Eu poderia ser emprestado, ir muito bem, e no ano seguinte não ia ser aproveitado de novo. Acabaria ficando preso. Achei que não seria interessante para mim. Tenho condições de estar ali jogando, mas isso acontece. Foi opção do Flamengo, do treinador, e foi o que pesou. Eu olhei e vi que não teria oportunidade de voltar. Optei por seguir minha vida e fazer meu pé de meia no futebol.

Retaliação pelo processo?
Ficou um pouco de mágoa pelo peso que a torcida tem. Por mais que digam que tenha afetado a parte psicológica, no ano seguinte eu joguei pouco. Não tinha como demonstrar o mesmo futebol, e logo depois fui para outro lugar.

Acho que ficou um pouco de mágoa, a torcida ficou chateada, mas acho que passa. Cometemos erros. Eu cometi um erro. Não tive a maturidade de dizer que não ia fazer. As pessoas me levaram para o outro lado, mas consegui reverter isso e mostrar que tenho valor. Espero que essa mágoa cicatrize e eu tenha a chance de mostrar meu valor de novo. Não foi bebida, não foi balada, não foi nada. Foi um acaso que aconteceu.

Influência externa
Lógico que eu tenho parcela por não ter me imposto, por ter me precipitado, mas é muita influência. Não tira minha culpa, podia ter feito algo diferente. Se tivesse mais maturidade na época, teria um entendimento melhor da situação

Foi muito. Foi aquele negócio de garoto. Confiei em uma pessoa que quis me usar como produto. Ele (empresário) de certa forma me afastou da minha família para colocar coisas na minha cabeça. Lógico que eu tenho parcela por não ter me imposto, por ter me precipitado, mas é muita influência. Não tira minha culpa, podia ter feito algo diferente. Tive atrito familiar, foi ruim para mim naquele momento. Hoje, tenho minha esposa, meu filho, e penso mil vezes antes de tomar qualquer atitude. Se tivesse mais maturidade na época, teria um entendimento melhor da situação.
Oportunidade da vida
Estou encarando a Chape como a oportunidade da minha vida. Por mais que tenha ido bem no Bahia, é a minha chance porque fico livre no fim do ano. Vou jogar Libertadores, Copa do Brasil, Brasileiro e conseguir ter uma melhora em relação a minha vida financeira, aos sonhos que tenho de jogar na Europa, conhecer outro estilo de jogo. Estou encarando como se fosse minha última chance, meu prato de comida. Se eu for mal, fico livre e não consigo um contrato melhor.

Se for bem, posso conseguir minhas coisas. Depende só de mim. O tempo está passando.

Independência
Nunca tinha saído do Flamengo e no começo foi difícil. Aprendi no Bahia e no Sport a melhorar minha marcação, eles me ajudaram muito. A pegada é diferente. Foi bom sair um pouco. Sempre tive pressão do meu pai para jogar. Ele dizia que eu tinha que ser diferente, não ser um jogador normal. Isso tudo me amadureceu. Hoje, tenho minha esposa, filho, família. Tudo isso é bom para entender o valor da família, te dá confiança. Nós, homens, demoramos a amadurecer e essa convivência fora do Flamengo, sem ser visto como um garoto, foi boa.


Luiz Antonio foi apresentado ao lado de Lucas Marques, Tulio de Melo e Arthur Kayke (Foto: Sirli Freitas / Chapecoense)


Identidade em campo
Quero me firmar como segundo ou terceiro homem de meio-campo, mas sem deixar o lado versátil. Aqui no Brasil, esse jogador não é muito valorizado. Acaba virando coringa, mas nunca titular, vira o quebra-galho. Lá fora, já é mais valorizado, está sempre jogando. É legal mostrar minha capacidade, mas dificulta para se firmar no Brasil. Isso é importante para mim. Nesse primeiro momento, preciso jogar para ganhar ritmo.

31850 visitas - Fonte: Globo Esporte


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