12/6/2013 19:05
Bap descarta loucura por Mano, mas vê Flamengo pronto para investimento
Maior responsável por trazer novas receitas para o Flamengo, o vice-presidente de marketing Luiz Eduardo Baptista, o Bap, acredita que o momento financeiro do clube — seis meses depois que a atual gestão assumiu — é propício para investimentos mais audaciosos, como a contratação do técnico Mano Menezes, em fase final de negociação. Pai exigente, o presidente da Sky garante que a filosofia baseada na responsabilidade não terá seus limites ultrapassados agora.
— O torcedor tem que entender que os princípios que nos regem são rigorosamente os mesmos. Não vamos fazer loucura. Não vou virar um mentiroso para contratar um treinador — avisa o dirigente, sem entrar em detalhes sobre o salário do técnico, tema ainda tratado com o empresário Carlos Leite. Já se sabe que o custeio terá o auxílio da verba oriunda do programa sócio-torcedor.
Para citar uma das metáforas de Bap, a chegada de Mano seria como sair de um quarto e sala para um apartamento dois quartos. — Só preciso do dinheiro para um quarto — ilustra.
Nas contas da diretoria, a economia com o futebol chegou a 36% com a saída de jogadores caros desde o início do ano. Mas o time não melhorou o suficiente. Logo, novos investimentos estão em pauta no segundo semestre.
A preocupação sobre a imagem de austeridade continua. Apesar dos altos salários de Carlos Eduardo e Marcelo Moreno, Bap lembra que decidiu assumir as rédeas do Flamengo ao notar as mentiras no relacionamento com a gestão anterior, a quem ajudava.
— Comecei a ajudar na gestão da Patricia (Amorim). A mentira era um meio que justificava qualquer fim — recorda.
Autor de apelos secos para torcida aderir ao plano de sócios e ajudar o clube, Bap se vangloria da sinceridade que o fez dizer à filha que não servia para nadadora.
— As verdades mais duras tem que ser ditas. A situação do Flamengo, hoje, não é de UTI, como há seis meses. Mas não estamos nadando em dinheiro — avisa o vice de marketing.
Maracanã sem ‘vender a alma’
À frente das negociações entre Flamengo e o consórcio que administrará o Maracanã, o vice de marketing Luiz Eduardo Baptista deixou claro que o clube não aceitará um acordo desvantajoso, e pode inclusive procurar outro lugar para jogar.
— Gostaria de chegar a um acordo. Mas não vamos fazer nada estúpido, por 35 anos. Todos querem jogar mês que vem no Maracanã. Eu também quero, mas se tiver que vender a alma, com um acordo lesivo, não vamos fazer. Não vamos criar um passivo pro Flamengo para resolver um problema que nós não construímos — avisou Bap, admitindo avaliar outros estádios, já que, segundo o dirigente, não faltarão lugares querendo abrigar o Flamengo.
— Não vamos pagar para jogar no Maracanã, nem criar uma sociedade em que um lado fica com 99% e o outro com 1%. Se eu não jogar, ninguém vai lá, não vende camarote e produtos — disse.
Já há, inclusive, na Gávea, um projeto em andamento para monitorar áreas disponíveis na cidade para a construção de um estádio próprio.
— É um sonho, na minha visão, maluco. Mas isso é parte de um processo — finalizou o vice de marketing.
CONFIRA A ENTREVISTA COM O VICE DE MARKETING RUBRO-NEGRO
Como decidiu que queria assumir as rédeas do clube?
- Vamos assumir o seguinte: o Flamengo é uma paixão. O que me move em relação ao clube é minha paixão inexorável, desde os cinco anos, e ela só cresceu. Meu envolvimento com o Flamengo se deu de maneira mais definitiva nos piores momentos. Desde 2007, 2008, não tinha muito tempo, depois comecei a ajudar na gestão da Patricia (Amorim). E ficou claro que quando se quer as coisas bem feitas tem que fazer você mesmo. Ouvi que a Sky pagava salário do Zico, do Basquete, que tinha afinidade com Michel Levy, com a própria Patricia, ouvia coisas que não acreditava. Se botasse um tricolor ou um vascaíno não conseguem fazer tanto mal. Certa hora disse que pararia de ajudar, porque alimentava uma besta que não tinha intenção de fazer nada de forma correta, transparente. Posso omitir, mas não vou mentir. A mentira é um veneno das relações. Vão te pegar. Quem pegou, nunca mais vai aceitar que você mentiu eventualmente. No ambiente anterior a mentira era um meio que justifica qualquer fim. Vamos pagar salário na segunda, mas você sabe que não vai pagar. O cara joga, ganha, você não paga, ele não aparece para treinar, você cobra, e vira refém da sua atitude. Eu achava que tinha que ser diferente.
Tem havido críticas sobre a forma que o clube pede ajuda pelo sócio-torcedor, você concorda que o tom exagera?
- Você tem que ajudar quando o clube está na pior. Quando você ajuda um irmão, um filho? No momento ruim, acha que ele vai ter oportunidade melhor se virar as costas? O Flamengo precisa muito do torcedor. Muito. Porque o clube foi maltratado. Não vai mudar em trinta, sessenta dias. A gente evoluiu no marketing em cima de credibilidade. A quantidade de empresas que querem voltar a conversar em um ano, para ver se vai se cumprir o que você está falando, é uma enormidade. Quem tem que ajudar na alegria e na tristeza, é o torcedor. Hoje o cara troca de sexo, mas não de clube. O jogo que eu vejo e os demais vice-presidentes veem é igual ao dos 40 mi de torcedores. Nós estamos lá para resolver. Não para matar o fariseu que não corre, não sua a camisa. Se fizer isso em alguns casos não tem time no jogo seguinte. O que desespera é o cara achar que a gente não vê. Mas tudo se politiza. As verdades mais duras tem que ser ditas. A situação do Flamengo, hoje, não é de UTI, como há seis meses atrás. Mas não estamos nadando em dinheiro. Muita coisa tem que ser feita. Tem coisa que requer tempo. Tem que dizer de forma nua e crua qual é a verdade. Só fala a verdade quem quer bem a gente. Não vou mentir para a torcida. A forma mais rápida de o Flamengo se tornar um dos maiores clubes é a torcida se engajar. Vai ajudar quando? Quando o Flamengo não precisar? Pode acontecer em cinco anos, ou se você entrar em um ano.
Até lá, sem um time bom, espera que o engajamento seja só pelo amor?
- Eu espero que sim. Eu acredito que isso seja fundamental. Uma coisa é eu falar A e fazer B constantemente. Se você continuar me apoiando é idiota. Outra é ver que as ações acontecem, não tem sacanagem. Nisso você renova o voto de crédito.
A vinda do Jorginho foi um erro que vocês assumem?
Erro é uma palavra forte. Tudo que você faz na vida é pautado pela intenção de acertar. Tem coisas que faz na hora errada, pela situação, os artistas envolvidos, não funciona como gostaria. Tenho respeito pelo Jorginho, vai ser um dos maiores treinadores, mas o momento não foi feliz por uma série de razões. Pelas crenças dele, pressão da torcida, pelo que tem que tirar do jogador no momento, por não tem um elenco como gostaríamos, por ele querer que o clube jogasse de uma forma que a gente não tinha jogadores para jogar daquela forma, ou uma combinação de algumas dessas coisas. Nos enganamos em relação ao momento com o Jorginho. Admiro ele pessoalmente e como profissional. Infelizmente não aconteceu como a gente gostaria. Em qualquer área tem que ter resultado. Futebol é um pouco mais cruel. Não acho que a escolha tenha sido um erro. Ah, mas dizem que agora vão buscar um técnico caro. As pessoas não sabem como você vai pagar. Então, começa um pré-julgamento. O torcedor tem que entender que os princípios que nos regem são rigorosamente os mesmos. Não vamos fazer loucura. Não vou virar um mentiroso para contratar o treinador. Tem que falar a verdade, a situação. Nas próximas contratações, só estamos fazendo pelo dinheiro do sócio-torcedor. De treinador, uma parte. Já tem orçamento base. Sai um treinador que ganha mais, a diferença poderia vir do sócio-torcedor. Com os jogadores a lógica é a mesma. A folha agora é 36% menor, e o time melhorou, mas não é suficiente, para a minha expectativa e para a do torcedor. Mas há de se ter compromisso.
Então vocês descartam a vinda de um grande craque?
Qual o grande jogador brasileiro hoje, em atividade, que se criar um projeto de marketing em torno dele, daria retorno? Não vale falar o Neymar. É muito difícil isso. Se tem um cara com um talento bruto e cabeça muito boa, pode ser produzido, mas não vejo esse jogador no Flamengo. O Adryan é um garoto talentoso, de futuro, mas não sei dizer isso hoje. Tem um momento que deixam de ser meninos e viram homens. Já vi muita gente na base jogar bola e desaparecendo no profissional. O cara tem que ter talento, força de vontade, estrutura emocional, não é fácil. A gente não tem dez cracaços de bola. O Robinho é bom jogador, mas tenho dúvidas se seria uma âncora para um projeto desse de marketing. Tem muito mais coisas por trás além de jogar bola. O cara vira uma criatura pública, e todo mundo espera perfeição. Não pode beber, ofender ninguém, tem que ter sangue de barata. O Neymar é um cara genuinamente do bem e talentoso. Nunca vi sacaneando ninguém. Tem o lado da orientação. Mas ninguém o ensinou a jogar bola. Imagina se ele fosse um cara da noite, que não ouvisse...até outro dia era um adolescente. Todo mundo bajula o cara, as mulheres querem estar junto, ele pode comprar qualquer bem, para cabeça de qualquer um é punk, imagina um garoto... Não basta agir, a outra parte tem que acatar, e isso é difícil em qualquer idade. Quando você é uma estrela que veio de meio menos favorecido é mais difícil. O Kaká é um bom produto de marketing. Nunca fez bobagem. Agora, vamos combinar, no futebol de hoje em dia, se o cara não jogar, ele perde ritmo rapidamente. O Kaká hoje não está mais jovem, não jogou com a constância. E tem a opção do atleta, que é legítima. Não tenho sentimento de viúva. O Jorginho deu errado por variáveis que a gente não controla. O projeto de marketing catalisa oportunidade, mas não inventa um talento como o Neymar, um comportamento, uma atitude e uma empatia com a torcida. A torcida do Flamengo teve ídolos que jamais foram craques. Porque se identificava com o cara que dava a alma. Não se ensina ninguém a ter vontade, garra, não querer perder, criar identificação, empatia, que antecede o talento. Não pode fabricar um Zico, um Pelé, um Neymar. Não tinha com o Carlos Eduardo uma expectativa de ser um ícone da nossa gestão. Mas ele joga muita bola. Para pelada, society, ou para a camisa 10 de um clube que precisa se reerguer. Você alavanca isso, mas não inventa. Não cria dedicação, empenho, talento. Lapida e aproveita quando eles estão ali não necessariamente organizados.
O Flamengo vende o que hoje?
- Vende a paixão, o sonho, um clube que nasceu para ser grande. O momento é difícil. Não pode analisar a foto, e sim o filme, que é belíssimo. Falta muito. Como as pessoas não vão trocar de time, quanto mais cedo apoiar mais rápido muda tudo.
Os sócio-torcedores vão poder participar da vida institucional em algum momento?
Isso ainda não foi tocado, mas não descarto com o tempo. Mas o momento agora é do futebol. O Flamengo é deficitário no Remo, nos esportes olímpicos e na sede social. Todo mundo prefere pagar menos. Mas no seu prédio se não tem segurança e você não paga o condomínio, como vai reclamar com o sindico? As pessoas se recusam a colocar dinheiro para o déficit porque já pagam alguma coisa.
Está falando do estacionamento que será cobrado...
Se posicionar contra o fato, é inútil. Vai ficar revoltado, pode chorar, xingar, não muda o problema. Ou busca fontes alternativas, as CNDs qualificam dinheiro de incentivo mas não resolve 100%, Na sede social...que sede social, né? De quem é a responsabilidade de pagar a conta? O estacionamento é uma forma de revitalizar o clube. Tentar democratizar a conta. Uma parte vem do sócio-proprietário. Em qualquer sociedade os sócios pagam a conta. Para falar nos clubes do Rio, o sócio-proprietário do Flamengo paga R$ 75 por mês para ele e a família. Na AABB, custa R$ 230. O Flamengo tem 30 mil sócios habilitados, só seis mil pagam. A cada cinco caras que frequenta a Gávea só um paga. O que eu prefiro, pagar ou não pagar? Não pagar. Agora, não é uma opção. Não queremos impor. É porque tem custo as atividades. O remo tem tradição. Mas é deficitário em R$ 5 milhões por ano. O esporte olímpico em R$ 17 milhões, a sede em si em R$ 12 milhões. Faça as contas. Começava o ano com menos R$ 29 milhões. Mais que uma Caixa Econômica. Mas não melhoraram o banheiro? Como, só tem para pagar o rombo, que o sócio-proprietário não quer ajudar a pagar. Se colocar R$ 29 milhões nessas áreas, enfraquece o futebol. Então o futebol odeia o remo, que odeia os olímpicos, que odeiam a sede, todo mundo se odeia, acha que tem razão, e o denominador comum é dinheiro.
Como estão as negociações pelo Maracanã? Há um projeto para a construção de um estádio próprio?
Isso é um sonho, na minha visão, maluco, o Flamengo hoje não tem condição de ter um estádio dele. Mas isso é parte de um processo. Não acho crítico ter um estádio.
E o Maracanã?
A gente gostaria de chegar a um acordo com o consórcio, mas não vamos fazer nada estúpido, que não faça sentido, assinando por 35 anos. Não vamos fazer porque todos querem jogar mês que vem no Maracanã. Eu também quero, mas se tiver que vender a alma com um acordo lesivo, não vamos fazer. Não vamos criar um passivo pro Flamengo para resolver um problema que nós não construímos. Não vamos pagar para jogar no Maracanã, nem criar uma sociedade em que um lado fica com 99% e o outro com 1%. Se eu não jogar, ninguém vai lá, não vende camarote, loja. Não vai faltar lugar para abrigar o Flamengo.
A quantas anda o tal fundo de investimento para o futebol?
É uma das formas inteligentes e criativas e pode funcionar. Seria um esquema de sociedade por cotas, vejo com bons olhos, é importante. Se possível para ontem. Tem que ter investimento de risco. Gente que queira botar dinheiro. Com condições estabelecidas. Conceitualmente sou a favor, e é uma das alternativas para reforçar o time.
Que tem achado do modelo de administração através de um Conselho Gestor?
- Eu achava que seria mais complexo. A gente realmente deixa a vaidade na porta. É diferente discordância e discórdia. Sacanear o outro pelo resto da vida porque ganhou um ponto. A gente pensa diferente, mas concorda em muito mais coisa. O Carlos Eduardo, tem desde gente dizendo que ele não vai jogar e para mandar embora, até gente que fala que é bom, para contratar psicólogo, que não desaprendeu. Os dois extremos tem o mérito. Se eu botar meu fígado para definir, opto pela primeira opção, se botar a cabeça, a segunda. Eu fui um dos caras que apoiei a contratação dele, tinha expectativa que arrebentasse. se manda embora agora e estoura em dois meses em outro clube. Pode jogar nada em um ano? Pode. To colocando hipoteticamente, todos tem uma opinião. Tolice pensar que não teria custo ao devolver. Tudo tem consequências. Você erra e você acerta. Quem liga com futebol e com emoção, tem que estar preparado para levar beijo e levar porrada.
2737 visitas - Fonte: Extra
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