14/6/2013 21:34
Ex-presidente do Fla pede que diretoria repense contrato para ter o Maracanã
Em carta aberta, Márcio Braga pede qua diretoria rubro-negra analise com cuidado a possibilidade de fechar acordo com Odebrecht para a utilização do estádio
Márcio Braga não quer que Fla assine parceria pelo Maraca (Foto: Cleber Mendes/LANCE!Press)
O ex-presidente do Flamengo, Márcio Braga, fez um apelo à atual diretoria do clube, encabeçada por Eduardo Bandeira de Mello. Na carta enviada diretamente ao atual mandatário rubro-negro, Márcio Braga pede que Bandeira repense e questione antes de assinar o contrato oferecido pela Odebrecht, empresa que venceu o processo de licitação do Maracanã.
No comunicado, o ex-dirigente afirma que a empreteira tem feito pressão para que o clube concretize a parceria. Segundo ele, o Flamengo não levará qualquer vantagem se aceitar a proposta feita pela Odebrecht, já que o clube tem sido responsável direto por 70% das receitas do Maracanã e a sua participação futura no estádio tem de ser proporcional à força econômica que a sua torcida representa.
- Aceitar menos que isso será desrespeitar a grandeza da Nação Rubro-Negra e desperdiçar o maior ativo que o clube possui para equacionar a sua situação financeira e dar sustentabilidade a um futuro compatível com a sua tradição gloriosa”, disse Márcio Braga, em trecho da carta.
A Odebrecht é a empresa líder do consórcio vencedor da licitação para gerir o Maracanã por 35 anos. Procurado pela reportagem do LANCE!Net, o Flamengo preferiu não comentar o assunto.
Leia a carta na íntegra:
"Todo cuidado é pouco! Em vez de aproveitarem as novas arenas construídas para a Copa do Mundo como fontes de novas receitas, os clubes brasileiros podem acabar pagando uma conta altíssima.
O jogo de inauguração da arena de Brasília é emblemático. O Santos tem o mando de campo, o Flamengo tem a torcida e nenhum dos dois fica com o dinheiro.
Outro exemplo é a privatização do Maracanã, cujo edital impede a participação dos clubes de futebol na administração do estádio, que, no fim das contas, é de futebol. Os clubes correm sério risco de sacrificar projetos muito mais rentáveis e adequados às suas necessidades para pagar a conta desse investimento bilionário, pois sãos eles os principais, senão únicos, responsáveis pelo público.
Uma boa evidência disso é a situação do Flamengo, que está na Gávea desde 1932 e teve seu estádio ativo até a década de 60, quando cedeu parte de sua área para a Rua Mário Ribeiro e o anel de tráfego da Lagoa, colaborando para facilitar o trânsito entre a Zona Sul e a Barra da Tijuca.
Em 2007, o Flamengo tinha todas as autorizações e licenças necessárias para o Programa de Revitalização da Gávea, que incluía a construção de um estádio novo para 30.000 lugares, ampliação das instalações para esportes olímpicos, expansão da sede social e construção do Centro de Excelência de Remo, com garantia de viabilidade econômica sustentável pela integração de um centro de lazer e compras, com lojas, cinemas, restaurantes, espaço para eventos e estacionamento para 1.836 carros, que funcionaria independente dos dias de jogo e, segundo a FGV, geraria mais de 3.000 empregos diretos. Com o apoio das autoridades e de 73% dos moradores da região, conforme pesquisa feita pelo Ibope à época, esta iniciativa revitalizaria o clube e toda área ao seu redor.
Tudo mudou quando o Governo decidiu privatizar o Maracanã e encomendou estudos à empresa americana Booz Allen Hamilton, que apontou que o Flamengo era responsável direto por 70% das receitas do Maracanã. Diante deste número, o governador Sérgio Cabral resolveu revogar a autorização que o Flamengo havia recebido de sua antecessora e acabou com o Programa de Revitalização da Gávea, dizendo que o Maracanã seria do Flamengo. Então, o hoje prefeito, à época secretário de Esporte, Eduardo Paes, começou a estruturar a privatização do estádio, incentivando que Flamengo, Fluminense e CBF formassem um consórcio com uma empresa inglesa chamada ISG, que se apresentava como braço da IMG, hoje sócia de Eike Batista na IMX.
Flamengo, Fluminense, CBF e ISG assinaram protocolos em 2008 e investiram em estudos de viabilidade, projeções econômico-financeiras, pesquisas de mercado e projetos arquitetônicos e de engenharia para remodelagem e reforma do Maracanã, que custaria R$ 600 milhões e seria paga pela ISG, através de seu Fundo Stadia, sem nenhum investimento público.
Tudo mudou novamente, em 2009, com a Odebrecht se associando à ISG e impondo mudanças aos protocolos já assinados em 2008 com os objetivos de elevar o custo da obra para R$ 1 bilhão e excluir Flamengo, Fluminense e CBF do eixo central do consórcio. Hoje, depois de receber bem mais que R$ 1 bilhão dos cofres públicos, a Odebrecht detém 90% do consórcio que pretende administrar o estádio por 35 anos, e os clubes foram excluídos no próprio edital de privatização feito pelo Governo do Estado.
Mas algumas coisas não mudam: o Flamengo continua sendo responsável por 70% do potencial de receitas do futebol do Rio de Janeiro e, enquanto não constrói seu próprio estádio, joga em casa no Maracanã e na maioria das arenas da Copa do Mundo, afinal, segundo pesquisas do Ibope, os torcedores rubro-negros são maioria em todos os estados do Brasil, exceto Pernambuco, Rio Grande do Sul e São Paulo, onde é a 4ª maior torcida.
Por essas e outras, os clubes brasileiros não podem abrir mão dos seus estádios. O Flamengo, de preferência na Gávea, como instrumento de revitalização do clube todo, e a exemplo de Chelsea e Paris Saint-Germain, cujos estádios aumentam muito suas receitas e se localizam em áreas nobres de Londres e Paris, que, diga-se de passagem, também contam com estádios monumentais como Wembley e Stade de France."
2118 visitas - Fonte: Lancenet
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