Jadson recebe conselhos de Zico antes da viagem para a Itália (Foto: Globoesporte.com)

Na dia em que o gol de Paulinho definiu a vaga do Brasil para a final da Copa das Confederações, outro volante viveu um momento especial. De malas prontas para se apresentar ao Udinese na próxima segunda-feira, o ex-botafoguense Jadson encontrou um dos maiores ídolos da história do clube italiano e também do futebol brasileiro: Zico. Com passagem pelas divisões de base do CFZ antes de chegar ao Glorioso, o jogador visitou o clube antes da viagem e recebeu conselhos sobre a ida para a Itália.

Jadson chegou ao Rio com apenas 15 anos, vindo de Brasília, e chamou a atenção justamente em partida no campo do CFZ. O bom futebol do garoto fez com que Zico pedisse a sua permanência no clube. Na mesma safra de jogadores, estava Rafinha, atualmente no Flamengo. O volante também chegou a defender o Rubro-Negro, mas o clube não teve interesse na sua permanência, atitude que recebe críticas do Galinho.

- É um orgulho para todos nós, por termos acreditado nele. Nós o vimos numa competição da qual saíram vários nomes do futebol brasileiro, a Copa Amizade. Gostaria que estivesse no Flamengo, mas não o quiseram lá, o que eu posso fazer?

Hoje com 19 anos, o volante, que estreou no profissional do Botafogo no primeiro semestre de 2012, falou sobre a realização de um sonho na carreira. Quinto brasileiro no elenco do Udinese, fará companhia ao zagueiro Danilo, ao lateral-esquerdo Gabriel Silva, ao volante Allan e ao meia Maicosuel, com quem inclusive já atuou no Alvinegro. Jadson disse já ter algumas informações sobre o futuro treinador, Francesco Guidolin.
- Claro que eu estava ligado no Botafogo, mas sempre que tinha um tempo de folga já acompanhava o Udinese. É um sonho desde pequeno, de todo mundo, chegar à Seleção e jogar na Europa. Sobre o treinador, conversei com o Allan e cheguei a pesquisar o nome dele também. O Seedorf chegou a falar que é um treinador gente fina e que trabalha muito bem. Allan falou que é muito bom e não tem restrição com estrangeiros. Gosta de trabalhar e tem paciência com jovens, tanto que a média de idade do Udinese é baixa.

Zico também elogiou o treinador e falar sobre a cidade de Udine. Ele fez questão de frisar que só se pode conquistar os torcedores italianos com o futebol demonstrado dentro das quatro linhas.
- É uma cidade muito bonita, simples e aconchegante. O negócio é jogar bola. Chegando lá e jogando bem, os caras gostam. Tem que se alimentar bem, lá os caras são parrudos, chegam junto. Na minha época era um bafo no cangote, todo jogo tinha um cara marcando forte. Não pode chegar lá cheio de marra porque é brasileiro. O torcedor italiano te recepciona bem, mas, se gera antipatia, é complicado - analisou.

No fim da conversa, Zico mostrou a Jadson uma fotografia da comemoração de seu primeiro gol pelo Udinese no Campeonato Italiano, em 1983. Na ocasião, a equipe comandada pelo ex-camisa 10 do Flamengo goleou por 5 a 0 o Genoa, fora de casa. Perguntado se deseja uma estreia em alto nível, o jovem volante brincou.
- Nem precisa de tanto (risos). Um golzinho já está bom.
Mudanças em momentos distintos

Com a idade de Jadson, Zico tinha apenas um ano no profissional do Flamengo. Só aos 30, já experiente, transferiu-se para o exterior. A vivência no futebol, segundo o Galinho, foi fundamental em sua passagem pela Europa. Ele ainda afirmou que o foco do jogador, mesmo jovem, deve estar somente no trabalho.
- Essa é sempre a grande preocupação. A experiência nessas horas pesa. Hoje já se tornou uma rotina dos jogadores no Brasil sair mais jovens. É aquela coisa: se ele vai com a cabeça voltada somente para o profissional, tudo bem. O Jadson está casado, isso dá uma tranquilidade. Às vezes o garoto vai, leva todo mundo, tem que tomar conta de tudo e esquece o mais importante, que é a profissão.

A diferença da estrutura da década de 80 para os dias de hoje também foi tema.
- Hoje está com estádio novo e o treinamento é do lado do estádio. Na minha época, tinha um estádio velho, o vestiário não dava nem vontade de ficar dentro. O campo dos treinos era horroroso. Na época do frio, você chegava para treinar e era gelo puro.

História inusitada e adaptação ao idioma
O primeiro assunto da conversa entre Zico e Jadson foi o frio europeu. Logo de cara, o Galinho alertou sobre o clima em Udine e aproveitou para contar uma história curiosa de seus primeiros dias morando fora do Brasil.

- Tive um problema engraçado lá. Nunca tinha usado o aquecedor, ficava na parede, preso a alguns canos. Só que tinha que usar uma vasilha com água e eu não sabia. Utilizando de forma errada, eu comecei a ter uma dor de cabeça insuportável, passei um mês assim. Fui fazer tudo quanto é exame, fui a hospital, a dor não passava. Um dia, um diretor do Udinese foi lá em casa e viu que tinha algo errado, estava muito quente, aí arrumou e nunca mais tive dor de cabeça.

Sobre o idioma, Zico admitiu que recorreu até a livros infantis para aprender no início.
- Eu aprendi a falar italiano pegando livrinho de criança. Pegava o alfabeto, as regrinhas, começava a ver. Também ficava lendo jornal e escutando TV. Comecei falando errado, porque, se tiver receio de falar, você não fala língua nenhuma, nem a sua própria. Vai aprendendo aos poucos, primeiro uma saudação e depois a pedir um cafezinho.

Com a responsabilidade de ter consultado um dos maiores ídolos da história de seu novo clube, Jadson viaja no domingo para a Itália. O Udinese, quinta colocada no último Campeonato Italiano, começa a preparação para disputar a primeira fase da Liga Europa.