Eleição Flamengo - José Carlos Peruano: Paixão virou um negócio

3/12/2018 09:06

Eleição Flamengo - José Carlos Peruano: Paixão virou um negócio

Eleição Flamengo - José Carlos Peruano: Paixão virou um negócio
Figura conhecida das arquibancadas, José Carlos Peruano busca, agora, ser o novo presidente do Flamengo. Com críticas à atual diretoria, afirma que uma de suas principais lutas é contra o elitismo que, segundo ele, nos últimos anos, tomou conta do Rubro-Negro, que ressalta ser um clube popular.



Além disso, José Carlos Peruano diz que a ausência de títulos acontece pela falta de comando no departamento de futebol, apontando ainda que falta uma figura capaz de mostrar aos jogadores do elenco o "tamanho do Flamengo".

Candidato pela Chapa Amarela, Peruano recebeu a reportagem do LANCE! para a entrevista sobre projetos que pretende implementar em uma futura gestão. Ele é o primeiro da série especial para a eleição rubro-negra, com entrevistas com todos candidatos: Marcelo Vargas (Branca, na terça-feira, dia 4), Ricardo Lomba (Rosa, na quarta, dia 5) e Rodolfo Landim (Roxa, na quinta, dia 6).

"Eu vejo um sistema onde o futebol ficou muito elitista. Antigamente, eu ia ao Maracanã e via as famílias, muitas vindas do subúrbio. Hoje, mudou o rosto"

LANCE!: Por que se candidatar?

Peruano: Porque eu vejo um sistema onde o futebol ficou muito elitista. Antigamente, eu ia ao Maracanã e via as famílias, muitas vindas do subúrbio. Hoje, mudou o rosto. Hoje, os caras que estão lá (atual diretoria) veem um negócio. Flamengo virou um negócio. O que era uma paixão, virou negócio. Então, eu tento... Falei com um grupo nosso, que é de torcedores: Vamos tentar entrar no poder para sermos ouvidos, baixarmos os ingressos. Flamengo é popular, Flamengo foi feito para dar alegria. Flamengo não é um banco. Eu coloco meu dinheiro no banco, mas não voto para a presidência do banco, não mando lá. No Flamengo, temos essa chance de mudar as coisas e fazer algo mais popular. Nos reunimos e me escolheram para vir candidato, para lutar contra isso. Eles falam muito em atender o torcedor, mas só tem uma camada de torcedores. E o Flamengo é o Iraque, tem os Sunitas (corrente do islamismo), os Xiitas (outra corrente do islamismo), tem de atender a todo mundo. E, por isso, estou vindo candidato. Lutei contra tudo e contra todos. São R$ 50 mil contra R$ 3 milhões. Sei dessa briga, mas a gente tem de brigar. Não tem jeito.

"Quantas decisões nós perdemos? Por quê? Porque não tem uma estrutura por trás mostrando o que é o Flamengo, mostrando que estão jogando no maior clube do Brasil. Não tem alguém cobrando, pedindo para jogar com alma"

L!: Quais os projetos para o departamento de futebol?

JCP:
Futebol, nós temos de mudar o estilo. Os jogadores, tecnicamente, são bons, mas quando chega na hora da decisão, amarelam. Quantas decisões nós perdemos? Por quê? Porque não tem uma estrutura por trás mostrando o que é o Flamengo, mostrando que estão jogando no maior clube do Brasil. Não tem alguém cobrando, pedindo para jogar com alma. Quando chega na decisão, eles falham. Tem de ter alguém trabalhando a parte psicológica. E esses jogadores são muito 'mimimi'. Um goleiro agride o diretor-executivo, agride o técnico (menção ao caso do Diego Alves, que discutiu asperamente com Carlos Noval e Dorival Júnior)... Pelo amor de Deus! Em casa que não tem comando, é bagunça.

Por isso que eu digo que gostaria de colocar o diretor-executivo Rodrigo Caetano, que muitas pessoas criticam, mas é um cara bom. Pode ter milhões de pessoas contra, mas ele é profissional. Com ele, não tinha agressão, jogador não xingava técnico porque havia um respeito. Colocaria ele como diretor e, para a vice-presidência de futebol, Marcos Braz, que é um cara que entende, fala a linguagem dos jogadores. É de minha confiança. Esse seria meu departamento de futebol. Tem de passar confiança ao elenco.

Em relação ao Bandeira de Mello... "Ah, que o Bandeira acertou as finanças". Isso é uma grande mentira. As finanças, quem resolveu, foi esse grupo de oposição. Bandeira estava em casa, foram lá e colocaram ele de presidente, mas o torcedor pegou isso como mantra. Nós que estivemos lá dentro sabemos que quem acertou as finanças foi esse grupo de oposição.

L!: O que se é pensado em relação a estádio?

JCP:
Uma coisa que vou falar sobre estádio que me deixa triste. Estou há muitos anos no Flamengo e todo presidente que vem, traz uma maquete bonita, em um lugar lindo, um estádio lindo, parece até cenário de filme. Agora, veio essa gestão e falou que ia comprar um terreno na Barra da Tijuca, faltando um mês e meio para a eleição. Poxa, eu não quero ser enganado. Eles tiveram seis anos e vem anunciar que vão comprar o terreno faltando dois meses para acabar o mandato deles. Isso é iludir o torcedor! Tem de ter um projeto certo. Vamos fazer um estádio? Então, toda essa receita X vai para a construção do estádio. É isso. Eles não venderam o Morro da Viúva e colocaram dinheiro no Ninho do Urubu? Legal, fizeram uma coisa bonita. Vai ser inaugurado faltando 10 dias para a eleição. Temos de parar de fazer projeto para a eleição. Temos de fazer projetos para o Flamengo. Reunir todas as correntes e fazer um projeto. Esse é o sonho da torcida? Então, vamos nos reunir, pegar as receitas e colocar no estádio.

E aquele estádio nosso, que está como patrimônio histórico, entrar em contato com o órgão responsável para ver a situação e fazer um estádio, no coração do Rio de Janeiro, para 35 mil pessoas, que tenha academia, shopping, restaurante, tudo para atender tanto o associado quanto a torcida. Esse é meu sonho. E pegar o Maracanã de volta. O Maracanã não é dos clubes, Maracanã é do Flamengo. Maracanã sem o Flamengo não funciona. Tem de ter o Flamengo. O governador eleito (Wilson Witzel, PSC), falou que vai dar aos clubes. Não. Ele tem de passar ao Flamengo para manter o Maracanã.

L!: Quanto à política de preço de ingresso, o que imagina?

JCP:
Primeiramente, sócio-torcedor dá um faturamento alto. Acho que o Flamengo não pode viver da bilheteria, tem de ter outros meios de ganhar dinheiro e essa parte do ingresso... É colocar ingresso caro no camarote, onde hoje só vão os escolhidos da diretoria, três vezes mais caro o "Maracanã Mais", e atrás do gol tem de privilegiar a Nação, colocar um preço tipo R$ 20, R$ 30, que dá para o cara que ganha R$ 1 mil ir ao jogo, levar a família. Tem o sócio-torcedor, que teria prioridade para ganhar o "Maracanã Mais", em comprar o camarote, teria acesso a sorteios, a viajar com o time.

E tem de trazer o jogador para a torcida. Jogador não vai à Gávea, não tem um treino na Gávea. Eles ficam lá no Ninho do Urubu, blindados e não acontece nada. Coloca eles na Gávea para eles sentirem o que é Flamengo, passar um sábado com a torcida, dar autógrafo, viver aquele ambiente, aquela energia que tinha. Agora, colocam eles em um hotel, fechados, não tem acesso a nada. A vida é convivência. Se você não convive, você não ama.

L!: Em sua possível gestão, como será a relação com as organizadas?

JCP:
Eu sou de organizada, minha origem é a organizada. A gente tem uma família e em toda família tem coisas boas e ruins, como tudo na vida. Hoje, quando se fala "torcida organizada", se rotula crime. "Que eles são violentos, são um bando de bandidos". Eu sou de torcida organizada há 40 anos, não sou santo, já fiz coisas ruins, mas como cidadão, minha ficha é limpa. Fiz coisas ruins, briguei com pessoas boas por causa do Flamengo. Atingi até pessoas por causa do Flamengo, mas nunca fiz algo ruim como matar uma pessoa. Então, se a pessoa der problema, afasta e traz o torcedor que quer ir ao estádio. Tem uma briga, foi a Jovem. Tem uma briga, foi a Raça. Tudo bem, vai lá e pune. Puniram a torcida por três anos e tudo de ruim que acontece é na conta da torcida. Aí, é brincadeira. Nem viajar os caras estão viajando.

Eu sou originário da Torcida Jovem e na Jovem tem desembargador, polícia, juiz, jornalista. Tem os bons e tem os ruins, não tem jeito, como em qualquer espaço.

Na minha gestão, vai ter ingresso, pagando como o sócio-torcedor, mas outra coisa que essa gestão fez foi punir a torcida. Eles foram ao Ministério Público e deram queixa contra a torcida. A torcida pode ter vários defeitos, mas eles foram lá para arrebentar com a própria torcida.

"Esses caras trabalham contra o Flamengo. Só pensam em grana. Ganham um monte de prêmio de banco. Dinheiro é bom, mas somos um clube feito para ganhar o campeonato"

L!: Quais os projetos para o programa de sócio?

JCP:
Tem chapa que quer que o sócio-proprietário não pague. Isso é absurdo. Como vai gerar receita? Tem de pagar, mas tem de pagar um preço justo e ter privilégio. É sócio-proprietário. O sócio-torcedor tem de ter o privilégio dele, mas tudo no seu lado. Esse é o meu pensamento. Esses caras que entraram lá acabaram com tudo que o sócio tinha. E esses caras não tem a alma do Flamengo. Por que a bola não entra? Os caras compram tudo, compram jogador... Mas tem uma coisa chamada energia. As energia deles são muito baixas. Quando entraram, mandaram embora um monte de velhinho que estavam para se aposentar, fizeram um monte de coisas ruins. E isso fica no clube.

Esses caras trabalham contra o Flamengo. Só pensam em grana. Ganham um monte de prêmio de banco. Dinheiro é bom, mas somos um clube feito para ganhar o campeonato. Dinheiro tem de trazer felicidade, esses caras não trazem felicidade. Não ganham um campeonato. Em seis anos, tivemos várias eliminações.

L!: E para os esportes Olímpicos?

JCP:
Esporte Olímpico está sucateado porque só se vê o basquete. Único esporte que tem o patrocínio é o basquete, o resto, está à míngua. Vai ao judô, os caras não têm passagem e eles falam que o Flamengo é o clube mais rico do Brasil. Os garotos da ginástica vendem bolo no shopping para custear viagem, o remo não ganha há seis anos. Agora, estão falando que vão fazer tudo. Se eu for eleito, todo mundo vai ter passagem, alimentação, vai ter tudo. Tem uma verba que vem do governo que tem de ser usada, mas colocam tudo para outros caminhos.

L!: Projetos para a Gávea, sede social do clube?

JCP:
A Gávea está sucateada. Vai onde é o estádio e pede para ir onde era o futebol, naquelas salas embaixo. Está tudo rachado, tudo arrebentado. Quando vai ao ginásio do lado, tudo quebrado, cheio de rachadura. Aquilo dali pode cair a qualquer momento. Vai cair e vai ficar na culpa de quem? Não estão cuidando disso. Pode ter uma tragédia. Não tem dinheiro? Então, vamos evitar uma tragédia e consertar o clube. Antes de fazer um estádio, tem de reformar o nosso.

Eu vou à Gávea todos os dias. Você anda por lá... Eles fazem o eterno puxadinho. Resolve um negócio ali, outro troço aqui, mas não muda a estrutura. Tem de trazer três arquitetos bons, com três projetos, mandar para os sócios os projetos e fazer uma consulta para qual eles acham melhor. Pegar e levar para o Conselho Deliberativo.

Estamos no melhor ponto da cidade. Eles querem tirar a sauna, que é de frente para a Lagoa, para colocar a sauna debaixo da piscina. Eles querem fazer o FlaBar onde é a sauna, que é o único lugar barato do clube. Eles não têm compromisso com a tradição, eles querem quebrar tudo, mas não resolvem nada.

"Vou colocar alguém que seja da Federação (...)Tem de conhecer os trâmites. Tem de lutar dentro do jogo, na política deles. Flamengo tem força. Ninguém quer brigar com o Flamengo.

L!: Como pretende trabalhar a relação com Ferj, CBF e Conmebol?

JCP:
Não pode acontecer o que aconteceu com o Bandeira. Vai em uma reunião. Aí, tem o Rubinho (Rubens Lopes, presidente da Ferj), que xinga e esculacha o presidente do Flamengo e não acontece nada. Por quê? Porque ele (Rubens Lopes) tem aquilo ali na mão, só vai sair quando morrer. Mas você tem como chegar na Federação. Como? O vice-presidente da federação é sócio-proprietário do Flamengo, chama-se Isamilton Goes. Falei: "Isamilton, você não é Flamengo? Não é sócio-proprietário? Dá para ajudar o Flamengo?" . Ele falou: "Não pode porque o Bandeira xinga o Rubinho". Mas o Bandeira é presidente do Flamengo e foi esculachado. Tem de ter consideração pelo presidente da instituição Flamengo, um respeito.

Fica essa briga e o Flamengo é prejudicado. O Flamengo briga com a CBF e sai prejudicado. Não tem representante lá fora. Então, tem de colocar um cara que seja da área. Qual é o meu representante na Federação? Vou colocar um cara que seja da Federação. Para entrar, tem de colocar alguém que conheça.

Teve um detalhe que essa diretoria errou ao entrar, lá atrás, que eles tentaram derrubar o Rubinho logo de cara, ao invés de ir e se apresentar e tudo mais. Cartão de visita já foi ruim.

A relação com a CBF é ruim porque o Bandeira só trabalha contra. Tem de trabalhar os bastidores, não adianta. Flamengo foi campeão em 2009 porque tinha talento e tinha o trabalho de não deixar ser roubado. Ele (Bandeira) não tem força na CBF, não tem força política. O Flamengo foi punido em dois jogos na Libertadores desse ano por um negócio que aconteceu na final da Sul-Americana do ano passado, mas fora do estádio. Ali foi falha no policiamento.

Tem de conhecer os trâmites. Tem de lutar dentro do jogo, na política deles. Flamengo tem força. Ninguém quer brigar com o Flamengo.

L!: O que pensa sobre o calendário do futebol brasileiro? E quanto à Primeira Liga?

JCP:
Nosso calendário deveria ser adequado ao calendário europeu porque, assim, teria como jogadores não saírem no meio do campeonato, como acontece agora.

Hoje, é uma engenharia. Não temos só o Brasileiro, temos a Libertadores, a Copa do Brasil, teria de adequar as datas para não perder jogadores como nós perdemos o Vinícius Júnior (saiu no meio do ano para o Real Madrid, da Espanha).

Inclusive, fazer um comentário. Essa diretoria errou muito, mas se ela não vende o Paquetá agora, não venderia mais pelo preço que foi. Vendeu em um preço justo, vendeu bem. E o futuro vai mostrar isso.

Essa Liga acaba (Primeira Liga). Essa Liga é a cara do Bandeira, é a cara da derrota.

L!: Há algum ponto no Estatuto do clube que pretende colocar em discussão?

JCP:
Eu gostaria de que o sócio-proprietário não perdesse os direitos. Segundo o estatuto, o sócio-proprietário é dono da marca Flamengo e, com essa turma que está lá, primeira coisa que fizeram foi tirar os direitos do sócio-proprietário de comprar ingresso. Isso é um absurdo. O sócio-proprietário acaba tendo de se filiar ao sócio-torcedor na pior categoria e, em jogo grande, não consegue comprar ingresso. Quando tem (ingresso), é o pior lugar. Fizeram isso em uma canetada, lá em 2013.



L!: Uma mensagem para a torcida.

JCP:
A torcida do Flamengo é uma torcida maravilhosa e é por ela que estamos nesta luta. Não sou um, só sou o candidato. São várias pessoas em torno de um projeto. É um sonho! Só de estar disputando é uma grande coisa, mas, se Deus quiser, vamos chegar lá para mudar essa política elitista que está acontecendo. Não tem mais amor. Não tem mais amor nem à torcida. Queria um voto de confiança, que acreditem na gente. Se eu sair do Flamengo com algo mais do que eu tenho, podem me punir. Se eu entrar lá, estarei em casa e, quando estamos em nossa casa, administramos com amor.

Quem é:

Nome:
José Carlos Peruano

Chapa: Amarela

Ocupação: Microempresário

Cargos anteriores no Fla: Vice-presidente de ouvidoria (gestão Marcio Braga)


E MAIS: Diego: "As propostas chegaram, são oficiais e estão na mesa, mas o Flamengo é a prioridade"

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