Atletas e rivais acusam Flamengo de aparelhar confederação de remo

7/12/2020 09:39

Atletas e rivais acusam Flamengo de aparelhar confederação de remo

Atletas e rivais acusam Flamengo de aparelhar confederação de remo
Box do remo do Flamengo (Imagem: Divulgação/Flamengo)

Clubes de "regatas", Flamengo, Vasco e Botafogo têm, por exigência estatutária, que manter equipes de remo. A modalidade, porém, vive uma crise interna com acusações de que a Confederação Brasileira de Remo (CBR) foi aparelhada pelo Flamengo. Um grupo de atletas, que conversou com o Olhar Olímpico na condição de anonimato, por temer retaliações, fez uma denúncia ao Conselho de Ética do Comitê Olímpico do Brasil (COB) depois que as seletivas nacionais visando os Jogos Olímpicos de Tóquio tiveram critérios contestáveis, que acabaram beneficiando barcos do Flamengo.



As provas são realizadas em 2 mil metros, com os barcos largando parados. A quatro dias da seletiva, que aconteceu no fim de semana passado, no Rio, os atletas foram informados que as tomadas de tempo seriam feitas individualmente, com largada lançada e na distância de 1.900 metros. É como se a seletiva dos 100m na natação fosse feita com os atletas começando a nadar do meio da piscina. Ninguém dos clubes rivais do Flamengo havia treinado pensando nesse critério.


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De acordo com a denúncia, as decisões técnicas da confederação de remo visam beneficiar o Flamengo, uma vez que o atual técnico da seleção, o alemão Bernhard Stomporowski, é assalariado pelo Flamengo, e o diretor técnico da confederação, Marcello Varriale, é também gerente de esportes náuticos do Flamengo.

Na condição, ao mesmo tempo, de dirigentes do Flamengo e da confederação, ambos têm assediado atletas para se transferirem para o clube rubro-negro. A denúncia ao Conselho de Ética cita especificamente as remadoras Luana Gonçalves e Dayane Pacheco dos Santos, que eram do Botafogo.

"De forma inescrupulosa, Marcello Varriale se reuniu privativamente com as citadas remadoras, na sede náutica do Flamengo, quando as aliciou, assediando-as a trocarem de clube, oferecendo valores e condições para que passassem a remar pelo Flamengo. Marcello Varriale usou o seu cargo de coordenador técnico da CBR para atuar, maliciosamente, em defesa dos interesses de seu clube empregador. Segundo as atletas, a proposta sugeria uma facilidade de ingressar na Seleção Brasileira, visto que, estando no Flamengo elas estariam treinando com o treinador da seleção e poderiam ser inseridas nos projetos elaborados por ele mesmo para competições internacionais", diz a denúncia.

Procurado, o Flamengo nega: "As duas atletas procuraram o Flamengo para ingressar na equipe, inclusive fazendo isto insistentemente até que fossem atendidas em 2019. Não houve qualquer procura por parte do clube, e jamais existiu favorecimento ou promessa de vaga, tanto é que, iniciada a temporada 2020, o clube não renovou o vínculo com as referidas atletas por problemas disciplinares e baixo rendimento técnico."

A CBR diz desconhecer o caso, assim como não foi notificada pela Comissão de Ética do COB. "Atualmente, a CBR possui um contrato de uso das instalações do Flamengo para todos os atletas da seleção. Atletas de diversos clubes do Brasil podem treinar no local, desde que estejam convocados para a seleção ou que tenham manifestado interesse para participar de um estágio de treinamento, juntamente com seus respectivos técnicos", defende a confederação. A entidade ainda diz que "não aceitará que o exercício da função de técnico de seleção seja utilizado para beneficiar um clube ou outro e que, se tiver conhecimento de tal fato, tomará as providências cabíveis imediatamente".

Decisões contestadas
Com Varriale atuando tanto na confederação quanto no Flamengo, o clube rubro-negro contratou oito atletas do Botafogo e quatro do Vasco, além do treinador deste último. Em setembro, o vice-presidente de esportes náuticos do Vasco, Horácio Gilberto, encaminhou carta à confederação reclamando que, nas convocações, "se vê nitidamente um conflito de interesses entre os cargos de coordenação técnica da CBR e de gerente geral do clube em que este trabalha", no caso, o Flamengo.

As queixas são antigas e, segundo os atletas, são ignoradas pela confederação. Em setembro, a Comissão Nacional de Atletas enviou carta aberta à CBR dizendo que recebeu duas reclamações formais e uma informal de atletas que "se colocaram bem na seletiva nacional e não participaram ou foram convidados de alguma guarnição para o Sul-Americano. Ao menos quatro atletas, finalistas de suas categorias, não integraram barcos do Sul-Americano. Exigimos que a CBR tenha mais transparência nos critérios de classificação e escolha dos atletas", cobraram. Dos remadores que reclamam não terem sido nem cogitados na seleção, dois são do Vasco e um do Botafogo. Nenhum do Flamengo.

Eles ainda alegam que Varriale foi contratado pelo Flamengo, em 2018, os treinamentos da seleção passaram a acontecer na área reservada ao clube rubro-negro na Lagoa. "Pouco a pouco, os treinamentos que deveriam ocorrer no Centro de Treinamento da FRERJ (federação estadual do Rio) migraram para o Flamengo, chegando ao ponto de os atletas irem ao CT FRERJ e não encontrarem ali os treinadores."

No ano passado, uma seletiva foi convocada três dias antes de acontecer. "No dia 16 de julho foi publicado no site da CBR um Boletim Técnico informando que a Regata de Qualificação para o Campeonato Mundial seria realizada nos dias 19 e 20 de julho no Rio de Janeiro. Antes dessa súbita publicação, nenhum clube havia sido comunicado que haveria uma Qualificação Interna nessas datas", diz a denúncia. Os atletas pressupõem que o Flamengo, clube do técnico da seleção e do diretor técnico da confederação, era o único que sabia da qualificatória.

O Flamengo nega qualquer tipo de beneficiamento. "O Flamengo não tem envolvimento algum no processo de seleção dos remadores que representam o país em competições internacionais, visto que a classificação se dá através de seletivas e competições, e é baseada nos índices conquistados pelos atletas no processo seletivo divulgado previamente pela Confederação Brasileira de Remo previamente aos eventos."

A CBR defende o clube rubro-negro que, segundo ela, investiu na compra de 15 barcos Filippi Lido, fabricante italiano de ponta, e os colocou à disposição dos atletas da seleção que fazem parte do programa nacional. "O clube tem mantido suas instalações abertas para o treinamento de atletas e técnicos de outras regiões e clubes. Diversos convites para ingresso na seleção são realizados durante o ano, seja por resultado no processo seletivo aberto a todos os interessados, ou seja por indicação de técnicos de clubes, sempre formalizados em Boletins Técnicos."



A confederação também nega que os critérios não sejam claros. "Os critérios e datas das seletivas nacionais são divulgados com meses de antecedência e constam no Caminho da Seleção, documento que explica o processo seletivo para ingresso na seleção brasileira. As tomadas de tempo em provas de 1.900 metros são utilizadas pela Federação Internacional, sendo somente uma das etapas classificatórias. Os boletins técnicos são publicados antecipadamente e todos ficam disponíveis no site da confederação com suas respectivas datas de publicação", diz a entidade.

Sede fechada
Até 2016, a confederação tinha um galpão no Estádio de Remo da Lagoa Rodrigo de Freitas, onde ocorreu a Olimpíada. Mantinha ali escritório, cozinha, sala de musculação e remoergômetros, além de um box com remos. Depois dos Jogos, porém, a entidade decidiu mudar sua sede para Florianópolis (SC), cidade do presidente Edson Altino, e fechou o galpão no principal local de treino do país. Parte dos equipamentos foram emprestados para equipes do Sul do país, sem tradição na modalidade, e outros permanecem na sede da federação estadual do Rio, em um prédio no centro da cidade, longe da água.

"Note-se que, a partir daí, a seleção já não tinha mais sede, campings de treinamentos, e treinadores isentos, sendo certo que, sobretudo sob o comando técnico de Marcello Varriale, as decisões acerca da formação de barcos deixaram de obedecer a quaisquer critérios inteligíveis e previamente estabelecidos", denunciam os atletas.

Eles dizem que a confederação alega não ter dinheiro, mas paga salário de R$ 22 mil para Altino e, recentemente, passou a pagar também R$ 9 mil para a segunda vice-presidente, Magali Moreira, que deve ser candidata da situação à sucessão do catarinense. O primeiro vice, superior na hierarquia e que deixou o grupo político de Altino, não recebe salários. A confederação alega que ele não exerce "atividades continuadas na administração."

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428 visitas - Fonte: UOL


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