Sempre ouvimos falar de Leônidas da Silva

6/9/2013 16:57

Sempre ouvimos falar de Leônidas da Silva

Sempre ouvimos falar de Leônidas da Silva
Há cem anos nascia um tal de Leônidas da Silva. Nunca vi jogar, mas sempre ouvi, e muito, falar. Sei que era um diamante, a ponto de batizar delicioso chocolate até hoje consumido. Sei que era feito de borracha, sendo assim apelidado pelos franceses: o homem de borracha! Foi o intermédio no Brasil entre o amadorismo e o profissionalismo. E, sei mais ainda, que foi, se não com certeza, o criador da malabarística bicicleta, mas sem dúvidas o seu primeiro melhor executor. Só poderia ser o homem de látex a prolongar-se no ar. Se tem dúvidas, espie a foto que ilustra este post, famosa até não poder mais. Foi pelo São Paulo, contra o Juventus, no Pacaembu. Uma espécie de cirque du soleil em preto-e-branco. Um voo a deixar outro brasileiro que ilustrou nossos primórdios como pátria: Santos Dummont. Seria um avião? Não, era Leônidas da Silva! Imaginem o espanto das plateias, pouco afeitas à acrobacia! Imaginem a bola, aparvalhada com aquele peito de pé planador. Imaginem o futebol naquela época a venerar seus primeiros ídolos! Imaginem o que poderia ter sido o atacante, tivesse a mídia e exposição atuais. Não seria apenas nome de doce, mas teria uns 20 contratos publicitários. A época determina muito do mito. A sua imagem, distante, me lembra um pouco à do músico Wilson Simonal, que não pode curtir a fama proporcional ao seu talento – por outros motivos.

Nunca vi Leônidas jogar, mas muito dele ouvi falar por avô, tios, amigos do avô, amigos dos tios, historiadores e, principalmente, pela belíssima biografia de André Ribeiro que li anos atrás. Sei que fez o solitário gol brasileiro na Copa de 34 e outros sete no Mundial de 38, na França, do qual saiu artilheiro. Sei que no jogo contra a Polônia fez três gols, sendo um deles descalço…. O homem que distribuia bicicletas também era capaz de se virar sem calçados. Em um time que tinha um Hércules e um Romeu. Imagem amadora, cena real! Sei que Leônidas foi também vítima do seu tempo. Os homens pagam pela insânia de outros. Devido à estúpida Segunda guerra mundial, o homem viu uma borracha passar por cima de seus diamantes. Perdeu a chance de reafirmar-se para o mundo. Bombas, trincheiras e barricadas impediram a realização dos Mundiais de 42 e 46, justo no auge do rapaz de sorriso marcante – há fotos que corroboram o que digo. Assim como a geração de ouro da Argentina dos anos 40 foi empoada pelo conflito na Europa, Leônidas também danou-se.

Há quem defenda que Leônidas foi um Pelé antes de Pelé. Foi o primeiro gênio do nosso futebol. A lâmpada que acendeu-se antes de nos tornamos campeões do mundo. Antecedeu não só Pelé, como Garrincha, Zizinho, Gerson, Tostão, Rivellino, Zico, Sócrates, Romário, Ronaldo e mais um montão. Era da Silva, sobrenome das profundezas brasileiras, o primeiro craque da era profissional. Brilhou também em Botafogo e Flamengo, e deixou seu brilho ainda no tradicional Peñarol, do Uruguai.

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