Esse dia talvez nunca acabe. O celular apitou logo cedo, muito antes do despertador. Era a informação de um incêndio no CT do Flamengo , no Rio de Janeiro, que carrega consigo um apelido que só deveria representar aconchego. O Ninho do Urubu. Não houve tempo para o desencontro de informações. A lista, ainda sem os nomes, apontava dez mortos e três feridos. Aos poucos chegavam imagens do fogo varrendo o alojamento de jovens de 14, 15, 16 anos. Jovens, não. Meninos. Todos vindos de fora do Rio de Janeiro, buscando uma oportunidade para mudar a própria vida e a de tantos familiares de origem e jornada humilde.
Não deu tempo. Uma curto-circuito em um ar condicionado e adeus. O vídeo que circulou durante todo o dia nas redes sociais, gravado por um dos sobreviventes, mostra uma cena recente, que destoa de todo o dantesco quadro desenhado com tintas sombrias. Os garotos cantam o hino do clube, se abraçam, celebram sem motivo aparente. Radiantes por estarem lá, juntos, percorrendo um caminho de sonho que tantos buscam e poucos realizam.
Dentro de um contêiner, lá estão eles. Felizes. As investigações, que já começaram nesta sexta-feira, são obrigatórias, mas incapazes de reverter o luto. E no Brasil, quase nada é conclusivo. Apenas a dor. Latente, intermitente, feroz.
O Flamengo planejava em pouco tempo transferir os garotos para outro alojamento. Mais moderno e estruturado, condizente com o momento do clube, que, após reorganizar suas finanças, aumentou o patamar de suas ambições dento de campo e olhava para frente. Agora, precisará olhar para trás e dar todo o suporte possível aos familiares das vítimas. SportsCenter encerra em silêncio após Antero citar Chico Buarque: 'Saudade é pior que o esquecimento' As lágrimas continuarão a cair por muito tempo.
E, por ora, a bola não deve rolar no Rio. Não há razão para isso e haverá a hora certa para seguir em frente. Tudo o que importa no momento cabia dentro daqueles contêineres. O Rio de Janeiro, de beleza tão propagada pelo mundo, perdeu hoje todas as suas cores. Uma vez Flamengo. Para sempre Jorge, Vitor, Christian, Pablo, Bernardo, Arthur, Athila, Gedson, Rykelmo e Samuel. Durante o SportsCenter, Antero lê poesia emocionante de Carpinejar: 'Poderia ter sido...'
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